Semana da Cultura Pop Japonesa debate questão sociocultural dos jovens nipônicos
Na Semana da Cultura Pop Japonesa não se pode esperar menos: palestrante e espectadores falam japonês. A discussão sobre moda e comportamento logo começou a fazer sentido, bastou trocar o idioma.
A UFSC foi escolhida como palco do evento, que teve como abertura a palestra ´Moda e comportamento dos Jovens de Harajuku`, de Elizete Kayo Kozuma Ishikawa, graduada em Estilismo em Moda pela Universidade Estadual de Londrina e mestre na cultura de Harajuku pela Universidade de Tóquio. A Semana da Cultura Pop Japonesa foi organizada pela Associação Nipo-Catarinense e o Consulado Geral do Japão em Curitiba, e conta com o apoio da Secretaria de Cultura e Arte (SeCArte) UFSC.
Harajuku é um bairro de Tóquio onde se encontram todas as novidades da moda jovem. Meijijinguubashi, uma ponte ao lado da estação de Harajuku, tornou-se um ponto turístico do bairro. Todo domingo muitos jovens da capital e de outras províncias encontram-se nesse lugar para passar a tarde com seus amigos. E por se vestirem de forma diferente atraem espectadores, que não se cansam de tirar fotos.
Foi a curiosidade de saber por que aqueles jovens se vestiam daquela maneira que levou Elizete ao Japão para estudar essa moda. “O que se nota é que os jovens sentem-se tão à vontade que o lugar, apesar de público, é utilizado como se fosse privado”, conta.
Após dois anos de estudo, ela concluiu que aquele encontro era uma manifestação da identidade desses jovens, ou uma busca por ela, uma troca de estilos, um conhecer de pessoas com afinidades, que gostam das mesmas bandas e se vestem como elas. O que se observa nesse lugar, segundo a pesquisadora, é que eles se definem como pessoas com dificuldades de relacionamento. E em Meijijinguubashi, têm a oportunidade de encontrar com facilidade – por causa das roupas características – pessoas da mesma tribo, ver os amigos e mostrar a sua moda, a sua identidade.
Essa identidade é caracterizada por Elizete como não somente a imagem que o jovem passa, mas também, e principalmente, o reflexo dos sentimentos desse jovem, que geralmente não pode expressá-los por causa da repressão que sofre, ou por causa do mau relacionamento com a família e colegas da escola. Em Meijijinguubashi encontram-se aqueles que experimentam diferentes estilos para encontrar o seu, e aqueles que já têm o seu e querem expressá-lo. Esse último, entende a pesquisadora, conseguiu encontrar a sua identidade, ou seja, um modelo de si mesmo, que só é descoberto quando esta imagem é aceita pelas pessoas ao seu redor.
Por meio de um questionário, Elizete constatou que grande parte dos jovens de Meijijinguubashi têm de 16 a 22 anos e são estudantes. A pesquisadora também observou que a ponte é freqüentada na sua maioria (90%) por meninas.
Elizete reparou também que, apesar de ser um lugar livre, Meijijinguubashi possui regras, que no entanto não são estipuladas por ninguém. Elas são descobertas e seguidas conforme o jovem vai se familiarizando com o local e as pessoas. Entre elas está a consciência na utilização do local – que é permitida pela prefeitura desde que não obstrua a passagem nem produza lixo; o bom comportamento – para que nenhuma ideia negativa seja vinculada ao nome da banda que estão representando e a relação com os espectadores e fotógrafos – que devem ser bem tratados se pedirem permissão para fazer as fotos.
As regras de conduta são levadas a sério pelos jovens. E cada estilo representa uma identidade. A pesquisadora os ordenou em sete grupos:
Visual-Kei Cosplay – os adeptos se vestem exatamente como os integrantes das bandas de rock (visual-kei);
Visual-Kei Fashion – Os representantes utilizam alguns elementos e compõem seu visual inspirado nas bandas, mas não se caracterizam de forma idêntica aos integrantes;
Lolita Fashion – o visual segue o estilo boneca e princesa;
Gothic and Lolita Fashion – são mais darks, e se dizem mais chiques. Usam, em sua maioria, a cor preta;
Decora Fashion – segundo a pesquisadora, “é o mais japonês dos estilos”. Busca misturar todos os elementos coloridos, divertidos e infantis;
Takuya Angel – criado por estilistas. Usa kimonos e mistura influências animes e roupas coloridas; e
Alternativo – seus representantes não se enquadram em nenhum outro estilo, pois não têm tribo.
A pesquisadora explica ainda que a busca pela própria identidade está ligada também aos sentimentos de cada indivíduo. Não importa se uma pessoa se veste igual à outra ou se tem gostos semelhantes. A identificação com esses signos deve fazer com que quem os adota se sinta bem e à vontade.
Mais informações pelos sites www.nipocatarinense.org.br ou www.secarte.ufsc.br, ou então pelo telefone (48) 3224-4982, com Elidio Yocikazu Sinzato, presidente da Associação Nipo-Catarinense.
Por Maria Luíza Gil/ Bolsista de Jornalismo na Agecom
Foto: Elizabete Kayo Kozuma Ishikawa
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