Círculo de Leitura de Florianópolis traz Lauro Junkes como convidado

25/08/2009 09:31

Lauro Junckes: reconhecimento

Lauro Junckes: reconhecimento

Lauro Junkes é o convidado da 45ª edição do Círculo de Leitura de Florianópolis, que será realizada no dia 27 de agosto, quinta-feira, às 17 horas, no mini-auditório Harry Laus da Biblioteca Universitária da UFSC. Como é de praxe, a exemplo dos convidados anteriores, Junkes, que possui graduação em Letras e em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrado em Literatura também pela UFSC e doutorado em Linguística e Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1993), falará de suas primeiras leituras, dos livros e artigos publicados e autores prediletos.

Foi professor titular da UFSC até 2005, quando se aposentou, mas continua como voluntário na pós-graduação em Literatura. Pesquisador da área de Letras, com ênfase em Literatura Catarinense, atua principalmente nos campos da poesia, história e crítica literária. Desde 2002 integra o Conselho Estadual de Cultura do Estado de Santa Catarina e é o atual presidente da Academia Catarinense de Letras.

É autor, entre outros livros, de Roteiro da Poesia Brasileira, – Simbolismo; Travessias; A Literatura de Santa Catarina – Síntese Informativa; O mito e o rito – uma leitura de autores catarinenses; O faro da raposa e O leão faminto.

Criado pelo ex-diretor da EdUFSC, o poeta Alcides Buss, o Círculo de Leitura de Florianópolis é um projeto que permite ao convidados e aos presentes discutirem informalmente sobre os livros que estejam lendo, as leituras do passado e as influências de outros autores sobre o seu trabalho. Escritores e jornalistas como Salim Miguel, Oldemar Olsen Jr., Fábio Brüggemann, Inês Mafra, Mário Pereira, Maicon Tenfen, Cleber Teixeira, Dennis Radünz, Rubens da Cunha, Renato Tapado, Raimundo Caruso, Nei Duclós, Marco Vasques, Zahidé Muzart, João Carlos Mosimann, Mário Prata e Flávio José Cardozo foram alguns dos participantes das etapas anteriores do projeto.

Segue entrevista com o convidado do Círculo de Leitura, Lauro Junkes:

Quais são as suas leituras atuais?

Entre as muitas leituras que sempre desenvolvo, simultaneamente, faço destaque, hoje, para o último romance de Salim Miguel – Jornada com Rupert. Talvez não seja o melhor dos romances por ele escritos, porém, como ele mesmo observa, decidiu não tratar dos seus “turcos”, mas retomar um projeto há sessenta anos engavetado e falar dos “alemães”, com quem conviveu – em São Pedro de Alcântara e em Rachadel/Antônio Carlos – no período ainda da infância e adolescência no Brasil. O autor, entretanto, focaliza os alemães de Blumenau, destacando o “rebelde sonhador” Rupert, sobretudo na década de 1940, e não os da região aludida. O romance denuncia forte influência da linguagem cinematográfica, bem como muito adequados fluxos de pensamento e de sensações. Tenha-se, sempre, presente que a narrativa é conduzida por Salim Miguel, de modo que os alemães são vistos por ele, que não deixa de assinalar um contraponto entre o Dr. Blumenau capitalista e o Dr. Fritz Müller socialista; é o Salim, leitor de Machado de Assis, que também vai concluindo com um capítulo de negativas: “Não tem amigos. Não considera os parentes. Não deixou ninguém para trás”; é o Salim catarinense que, na personagem Ilze, insinua o retrato de Lausimar Laus, autora de uma trilogia romanesca sobre os alemães no Vale do Itajaí, introduzindo através desta a poetisa Maura de Senna Pereira; é o Salim sempre envolvido com a memória que, com o protagonista, vai “buscando se desembaraçar do passado que não quer desprender-se dele”, em troca do ”rumo a um incerto futuro”.

Como poderíamos melhorar o índice de leitura em SC e no País?

Esta não é pergunta para responder em poucas palavras. São múltiplas as causas que provocam a diminuição da leitura, sobretudo entre jovens. Contento-me, aqui, com focalizar um aspecto apenas: a leitura nas escolas. Se nossos professores não estiverem preparados e entusiasmados, se não transmitirem aos alunos boa iniciação à leitura, entusiasmo e motivações para a mesma, abrindo a elas a viagem pelo imaginário, se não fizerem as crianças e adolescentes lerem livros bem escolhidos e orientados, e nunca por simples obrigação, o futuro dos leitores se projetará cada vez mais negro. E as indicações respeitem as faixas etárias, as regiões, o contexto social de cada escola e seus alunos. A palavra essencial será “entusiasmo”.

Fale um pouco sobre o momento vivido pela literatura catarinense?

Santa Catarina, há algumas décadas, não precisa amargar nenhum complexo de inferioridade em relação à produção literária: poesia, romance, conto, crônica… oferecem ótimos textos para qualquer leitor. Nosso mais grave problema é o da “circulação do livro”, pois continuamos formando pequenas ilhas culturais cercadas de desconhecimento pelas demais. Talvez seja essa uma das razões que leitores e escolas prefiram escritores de outros estados, best-sellers de fórmulas mágicas, literatura traduzida projetada pela mídia. Será, outrossim, necessário tomar consciência de uma ameaça: não estará a classe dos escritores quase superando aquela dos leitores???

Mais informações com Alcides Buss (9972-3045) e entrevistas com Lauro Junkes (3233-1015).

Foto: Paulo Roberto Noronha/Agecom