Brasil é corpo estranho na América Latina, diz professor da UFF
“O povo brasileiro é um estranho na América Latina. Primeiro pelo idioma português, depois pela mistura de raças, principalmente pela raça negra, muitas vezes desconhecida pelos outros povos e, por último, pelo desenvolvimento sócio-econômico quando o próprio brasileiro sente como se não fizéssemos parte da América Latina”. A análise foi feita por Marcelo Dias Carcanholo, durante a realização da Mesa Temática ‘O Brasil no contexto latino-americano: (Sub) Imperialismo ou Integração?’, dentro do 35º Encontro Nacional de Estudantes de Economia, que termina hoje (24) na UFSC. Participou dos debates o Mestre em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o professor Mathias Seibel Luce.
Carcanholo é professor da Universidade Federal Fluminense e membro do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Marx e marxismo, tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Política, Economia Marxista e Desenvolvimento Econômico, atuando principalmente nos temas referentes ao neoliberalismo, vulnerabilidade externa, abertura externa, Economia brasileira e da América Latina. Para, mestre pela UFF (1996) e doutor pela UFRJ(2002), tirando o México e a Argentina, o Brasil é o país mais desenvolvido na América Latina e o (sub)imperialismo ou autonomia da elite nacional brasileira se dá por atuação e omissão. “A atuação sub-imperialista do Brasil se reflete nas relações com o Paraguai, desde a Guerra do Paraguai e atualmente à Itaipu, não esquecendo os grandes latifundiários brasileiros que exploram os agricultores paraguaios”.
“O Brasil constitui a América Latina dentro de uma inserção, mas mesmo assim somos todos dependentes”, enfatizou Marcelo, assinalando ainda as cinco características de ação da dependência em maior ou menor grau como a superexploração da força de trabalho; “deteriorização” em termos de troca onde se aumenta a produção para exportação para garantir a importação; distribuição de dívidas com pagamentos de juros altos; distribuição regressiva e concentrada de riqueza, aqui entendida como propriedade/patrimônio e não como renda; problemas sociais.
Marcelo salienta que os itens de “deteriorização” em termos de troca e da distribuição de dívida implicam na dinâmica de capital dos Estados Unidos, e, no Brasil, este desenvolvimento capitalista só é possível pela superexploração da força de trabalho. “Tudo depende do ciclo de acumulação de capital mundial, postura resignada imposta por Fernando Henrique Cardoso”. Para ele, nos anos 90, a superexploração da força de trabalho no Brasil ressaltou em problemas sociais, com a dialética do capital fictício para se entender o capital contemporâneo. “A economia latino-americana, por isso, não cresceu nos anos 90, só cresceu agora antes da crise”.
Já, para o professor Mathias Seibel Luce, doutorado em História pela UFRG, com experiência nas áreas de História Contemporânea Mundial e da América e de Política Internacional, o Brasil também está presente com seu sub-imperialismo no Uruguai com empresas responsáveis por metade do abate animal no país; na Bolívia, a Petrobrás, antes de Evo Morales coordenava a distribuição do petróleo; no Peru, a GERDAU, empresa brasileira se aproveita da siderurgia em terras indígenas; na Bolívia, grande parte da produção de soja é explorada por seis famílias brasileiras. Conforme Mathias, são empresas transnacionais brasileiras que continuam dependentes por utilizarem capitalismo estrangeiro.
Por Celita Campos/jornalista na Agecom






























