Artigo: Produção orgânica cresce em Santa Catarina

22/05/2009 13:30

No mundo inteiro o comércio de produtos orgânicos, ou seja, aqueles produzidos sem uso de agrotóxicos e adubos químicos, atingiu em 2008 a cifra de 40 bilhões de dólares, segundo dados da IFOAM, entidade internacional com sede na Alemanha, com um crescimento de 20 % ao ano. No Brasil, apesar da produção orgânica/agroecológica ainda ser percentualmente bem menor que a da agricultura convencional, ela apresenta um crescimento recorde de 30% anual, passando de US$ 150 milhões comercializados em 2001/2002 para US$ 700 milhões na safra 2007/2008.

A preferência dos consumidores por alimentos de melhor qualidade, que fazem bem à saúde, é a grande mola propulsora deste segmento cada vez maior do mercado. Em Santa Catarina, há 15 anos, não passavam de cinco ou seis as associações de produtores agroecológicos, e hoje já passam de 60 entidades e mais de 1.800 famílias.

Vale ressaltar que os pioneiros no sistema orgânico foram ONGs e produtores que desde o início acreditaram nesta nova maneira de conduzir a agricultura. Chamadas de sonhadoras, hoje em dia o seu exemplo está sendo seguido por todos. Além disso, a demanda dos agricultores por estas novas técnicas agroecológicas de produção está pressionando as universidades, as organizações não-governamentais e as entidades públicas de pesquisa e extensão rural a reverem seus programas, priorizando a produção ambientalmente correta, o manejo agroecológico das lavouras, que evita a liberação do C02, óxido nitroso, e gás metano, os principais gases responsáveis pelo aquecimento global.

A sociedade brasileira e catarinense não admite mais a intensa contaminação do meio ambiente e da saúde do consumidor e agricultor pelo uso desenfreado de agrotóxicos. O Centro de Informações Toxicológicas (CIT), situado no Hospital Universitário da UFSC, possui levantamentos bastante preocupantes. De 1990 até 2007, o CIT detectou 9.300 intoxicações de agricultores no Estado e 233 mortes. Segundo os técnicos do CIT, isto representa apenas uma pequena parte (aquilo que se conseguiu registrar) da realidade. Os números são, na verdade, bem maiores.

Com isso em mente, a Epagri nos últimos anos vem profissionalizando produtores rurais, com cursos básicos de agroecologia sendo ministrados em diversas regiões do Estado, que já envolveram, nos últimos 10 anos, mais de 3.500 agricultores e 300 técnicos da empresa e de outras instituições. Pesquisadores estão instalando inúmeros experimentos científicos nas estações experimentais da Epagri e em propriedades de agricultores, alguns em parceria com as universidades federal e estaduais, escolas agrotécnicas e outras entidades, para testar novas técnicas e repassá-las aos empresários rurais que estão apostando na produção ambientalmente limpa. Ao mesmo tempo, extensionistas, nos vários escritórios locais da Epagri em todo o Estado, não dão conta de assistir à intensa demanda dos produtores rurais e interessados na produção orgânica.

O Estado, além de ser o terceiro produtor nacional, com 60 mil toneladas de orgânicos, e um VBP de R$ 70 milhões, tem um programa pioneiro denominado Saber e Sabor, que consiste numa parceria da Secretaria de Estado da Educação com inúmeras associações de produtores orgânicos para compor a alimentação escolar orgânica. Atualmente são atendidas 130 escolas básicas estaduais e 95 mil crianças, duas vezes por semana, com alimentos orgânicos certificados, e a meta é atender a totalidade da população escolar de zero a 14 anos, ou seja, 900 mil alunos.

Também foi formado recentemente o Programa SC Orgânicos, que envolve inicialmente 15 associações de agricultores agroecológicos e empresas, com o apoio do Ministério da Agricultura, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Secretaria de Estado da Agricultura, através da Epagri e Cidasc, Sebrae, Banco do Brasil, SDR’s, prefeituras, universidades, escolas agrotécnicas e outras entidades.

Paulo Sergio Tagliari

Engenheiro agrônomo do Núcleo Temático de Agroecologia da Epagri