Especial Pesquisa: UFSC desenvolve método para controlar o uso de gordura trans nos restaurantes

Gordura trans: OMS orienta fim do consumo
Fruto de um estudo de caso em um restaurante de Florianópolis, o trabalho buscou identificar processos que mantêm a gordura trans nos alimentos. Após a observação, Vanessa notou que o local apresentava deficiências no conhecimento da origem de alguns produtos e na conferência dos rótulos. Seria necessário, então, um instrumento que colaborasse com a aplicação desses e de outros procedimentos. É aí que entra o ‘Método de Controle de Gorduras Trans no Processo Produtivo de Refeições’, chamado de CGTR.
A ferramenta foi organizada em sete etapas. Em cada uma delas, o nutricionista preenche um formulário sobre os processos de produção de refeições. Com a ajuda de um glossário de termos científicos, descobre onde o procedimento pode ser melhorado e o que pode ser feito. Os itens citados acima, por exemplo, se enquadram na etapa três: acompanhamento do fluxo produtivo de refeições. Se fossem identificados, o método orientaria que os rótulos precisam ser conferidos e que os fornecedores devem, de preferência, utilizar óleo vegetal, que é mais saudável. Desta forma, após a aplicação do CGTR, o estabelecimento tem condições de oferecer uma refeição com menos gordura trans.
O desenvolvimento do trabalho contou com a parceria professora Jane Mara Block, do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos, do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFSC, além de alunas do curso de graduação em Nutrição. “Com a ascensão da alimentação fora de casa, os restaurantes acabam se tornando responsáveis pela saúde de muitas pessoas”, destaca Vanessa, ressaltando a importância da pesquisa.
Ela lembra que desde 2004 a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o fim do consumo de gordura trans, apoiada em estudos que comprovam sua relação com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Da mesma forma, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária obrigou todas as empresas do ramo alimentar, a partir de 2006, a discriminarem nos rótulos dos produtos a quantidade da substância, o que popularizou a estampa ‘Livre de gordura trans’. “O CGTR vem ao encontro desta proposta e pode ser um apoio para nutricionistas que gerenciam unidades produtoras de refeições”, acredita Vanessa.
Mais informações pelo telefone 3721-9020 ou pelo site www.nuppre.ufsc.br / e-mail: vanessahissanaga@hotmail.com
Por Júlio Ettore Suriano / Bolsista de Jornalismo na Agecom
Saiba mais: as gorduras e a gordura trans
– As gorduras são uma classe dos lipídios, moléculas com grandes cadeias de átomos de carbono que armazenam muita energia, por isso são uma das reservas do nosso corpo. Dividem-se em dois grupos: saturadas e insaturadas. As primeiras são produzidas pelos animais e encontradas na natureza em estado sólido, como nas carnes que comemos. São conhecidas nutricionalmente por aumentarem os níveis de LDL, o “colesterol mau”, podendo causar o entupimento de veias e artérias. Já as insaturadas são líquidas e produzidas pelos vegetais, como o óleo de soja e o azeite. Estas, por outro lado, geralmente aumentam o “colesterol bom”, o HDL.
– Quimicamente, a diferença entre as duas é a seguinte: na gordura saturada, todos os átomos realizam o mesmo tipo de ligação (simples), o que deixa a molécula mais estável e, por isso, acabam gerando uma estrutura coesa e sólida. Na insaturada, alguns átomos têm ligações duplas, o que aumenta a instabilidade e dificulta o agrupamento, resultando em líquidos.
– No início do século passado, a indústria alimentar tentou descobrir uma substância mais saudável e barata que a gordura animal (saturada), para a fabricação de massas, pães e outros. A solução foi aparentemente simples: forçar o rompimento das ligações duplas da gordura vegetal (insaturada), gerando um sólido. Como fazer isso? Adicionando átomos de hidrogênio para se ligarem aos carbonos com duplas ligações, transformando-as em duas simples, em um processo chamado de hidrogenação. Nasceu aí a gordura vegetal hidrogenada.
– A nova gordura, além de ser considerada menos danosa ao organismo, conferia aos alimentos mais tempo de conserva e melhor consistência. Além disso, criou a margarina, que pode ser espalhada em um pedaço de pão logo após ser retirada da geladeira, ao contrário da manteiga, que endurece a baixas temperaturas. Aos poucos, a gordura hidrogenada substituiu a animal.
– A partir da década de 80, ganharam força as evidências de que a gordura hidrogenada poderia ser ainda menos saudável que a gordura saturada. O motivo: na hidrogenação industrial, nem todas as ligações duplas são eliminadas e as restantes formam um ângulo muito pequeno, o que em Química se reconhece pelo prefixo “Trans” – daí o nome “gordura trans”. O resultado é uma molécula extremamente difícil de ser digerida, portanto com grandes possibilidades de se acumular. Descobriu-se então que a gordura trans, além de aumentar o LDL, como a gordura saturada, ainda diminui o HDL, colocando-a na lista de substâncias nocivas ao organismo.
Fonte: NUPPRE
Visite::
– Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): www.anvisa.gov.br
– Tabela de composição química dos alimentos: www.unifesp.br/dis/servicos/nutri