Ano Internacional da Astronomia: palestra sobre exobiologia lota auditório da Reitoria

Platéia prestigia o convidado da UFRGS
O professor Jorge Quillfeldt, do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (um não astrônomo que na verdade estuda neurobiologia da memória) lotou o auditório da Reitoria da UFSC, falando por quase uma hora e meia sobre a hipótese exobiológica de que é possível existir vida extraterrestre e/ou de origem independente da nossa: “Diante de uma série de restrições, a exobiologia opera com hipóteses conservadoras, buscando a vida à base de carbono e água, em superfícies planetárias”, deixou bem claro o professor.
Ele lembrou que há poucos anos havia um ceticismo muito grande entre os biólogos com relação à possibilidade de que a vida – um processo extremamente delicado, restrito a condições muito especiais – pudesse se manifestar em outros locais do universo. Mas avanços recentes, como a descoberta das chamadas extremófilas, permitiram a retomada da idéia de que não é tão impossível existir nichos habitáveis em outros locais do universo.
“Antes da descoberta desses organismos, biólogos céticos consideravam muito pouco provável que seres vivos pudessem viver em condições tão radicais, que seriam também aquelas encontradas em ambientes extraterrestres. Mas diferentes organismos vêm sendo observados, vivendo em condições extremas, de até 113 graus Celsius, ou em condições de pressão, acidez, salinidade e radiação extremas. Eu as chamo de bactérias Conan”, brincou o professor, que em diversos momentos fez a platéia dar gargalhadas com sua maneira descontraída e divertida de abordar a ciência. Segundo ele, estas descobertas vêm finalmente atraindo biólogos para o campo da astronomia.
Líquido da vida
A descoberta de água em outros corpos celestes é outro fato que estimula a exobiologia. Quillfeldt lembrou que desde os primeiros anos de escola aprendemos que a água é o líquido da vida.
Por esse motivo, o registro de imagens que se assemelham a rastros deixados por movimentação de líquido na superfície de Marte, além da observação de fenômenos dinâmicos nas superfícies geladas de algumas das luas de outros planetas, entre eles os gigantes gasosos Júpiter e Saturno, têm aberto novas possibilidades de investigação científica. Europa, uma das luas de Júpiter descobertas por Galileu em 1609, por exemplo, pode ter um oceano profundo encobrindo um núcleo rochoso, com uma superfície gelada como temos nos mares polares na Terra. Observações semelhantes em outros corpos celestes instigam os estudos nesse campo.
Planetas extra-solares
O avanço da capacidade humana de detectar planetas fora do sistema solar também abre novos caminhos para a exobiologia. “Só nos últimos 12 anos foram descobertos 344 exoplanetas”, destacou o professor. E ainda que o envio de sondas a estes corpos celestes por enquanto seja inviável, a astronomia se vale de observações obtidas a partir de satélites e da leitura de diferentes comprimentos de onda para estudo de suas características e busca de “bioimpressões”.
“Com a astronomia conseguimos descobrir o que acontece dentro do sol sem nunca ter pego um pedaço dele nas mãos”, lembrou o professor, ressaltando a importância do desenvolvimento tecnológico associado à imaginação humana para o avanço do conhecimento.
“Um bom cientista vê e lê com a imaginação, com as teorias”, disse Quillfeldt, que em diversos momentos destacou a beleza e a importância da ciência ─ e de sua divulgação com qualidade para o público.
Por Arley Reis / Jornalista da Agecom
Fotos: Paulo Noronha / Agecom
Ciclo ´Grandes temas da astronomia moderna`
Faz parte da agenda da UFSC em comemoração Ano Internacional da Astronomia. È organizado pelo Grupo de Astrofísica, ligado ao Departamento de Física da UFSC. Os encontros sã realizados no auditório da Reitora, a partir de 19h. Após os encontros há sessão de observação do céu com telescópios, no Observatório Astronômico da universidade.
Acompanhe abaixo a agenda do ciclo. Alguns temas ainda estão em definição:
Março Jorge Quilffeldt – Instituto de Biociências / Universidade Federal do Rio Grande do Sul – “Astrobiologia : Água e
Vida no Sistema Solar e além”
Abril João Steiner – Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo (IAG-USP) – “Buracos negros, cemitérios cósmicos”
Maio Renan Medeiros – Departamento de Física Teórica e Experimental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DFTE/UFRN) – “Os Novos Mundos do Cosmos”
Junho Carlos Wuensche – Divisão de Astrofísica / Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
Agosto Guillermo Tenorio-Taglia – TTBD
Setembro Augusto Damineli – Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo (IAG-USP) – “Procura de vida fora da Terra”
Outubro Kepler Oliveira – Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IF/UFRGS)
Novembro Laerte Sodré – Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo (IAG-USP) – “Sosias da Via-Lactea”
Por Arley Reis / Jornalista da Agecom
Mais informações: astro@astro.ufsc.br / fone 3721-8238
Leitura recomendada:
Onde estão todos os outros?
Revista Scientific American Brasil
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