Especial Pesquisa: UFSC gera conhecimento para cultivo de ostras nativas

UFSC faz reprodução em laboratório
Os estudos levam em conta a relevância do desenvolvimento da ostreicultura na geração de empregos e renda para as comunidades tradicionais. Também buscam garantir às gerações futuras a possibilidade de explorar as ostras dos bancos naturais, hoje reduzidos pela exploração intensa. Os trabalhos são realizados a partir da Rede Nacional de Pesquisa em Ostras Nativas, que integra a UFSC a outras oito universidades, ao Instituto de Pesca de São Paulo, à Embrapa Meio Norte e à Epagri.
Cada instituição colabora no campo em que suas equipes têm maior experiência. Como já domina o sistema de desova da ostra do Pacífico e de outros moluscos em seu laboratório, a UFSC concentra esforços na produção de famílias para reprodução, no melhoramento genético e no acompanhamento em cultivo. “No momento, só a obtenção de sementes em laboratório pode garantir produção confiável e constante de sementes para cultivos independentes da imprevisibilidade do meio ambiente”, ressalta Cláudio Manoel Rodrigues de Melo, pesquisador que está à frente dos trabalhos com as ostras nativas no Laboratório de Moluscos Marinhos da UFSC.
O professor explica que o cultivo de ostras no Brasil tem se desenvolvido, mas um problema fundamental para consolidação da atividade é a caracterização genética. Existem atualmente no país pelo menos três espécies de ostras sendo estudadas e cultivadas. Duas são nativas – a Crassostrea rhizophorae e a Crassostrea brasiliana – e a terceira é a ostra do Pacífico (Crassostrea gigas), introduzida no Brasil na década de 70 pelo Instituto de Pesquisas da Marinha, por ser mais indicada para o Sul e Sudeste.
Com relação às espécies nativas, há estudos preliminares indicando que a Crassostrea brasiliana tem crescimento mais rápido, e por este motivo apresenta maior potencial para a maricultura. No entanto, a grande variação genética e da taxa de crescimento de diversas populações da ostra do mangue nativa no litoral brasileiro exigem estudos mais aprofundados. Estas pesquisas são consideradas estratégicas.
“A existência de uma espécie (Crassostrea brasiliana), com crescimento bastante superior à ostra comum (C. rhizophorae), abre novas fronteiras que podem incrementar a produtividade dos cultivos e solidificar a atividade produzindo novos empregos e promovendo o desenvolvimento do cultivo, além de permitir a exportação da tecnologia desenvolvida para outras regiões do país”, destacam as equipes no projeto ´Caracterização genética e melhoramento de ostras nativas do gênero Crassostrea`.
“O cultivo de ostras tem se mostrado uma atividade viável em vários estados brasileiros, porém para sua real implementação, pesquisas e ações se fazem necessárias para otimizar a produção e viabilizar a atividade em maior escala”, destaca o professor Cláudio. Ele lembra que o Laboratório de Moluscos Marinhos da UFSC é ainda o único no país a produzir regularmente sementes de ostra do Pacífico.
As pesquisas realizadas pela rede ajudarão também a delimitar estoques das populações de ostras ao longo do litoral brasileiro, como subsidio para programas de exploração de populações naturais e de escolha de locais para cultivo. Proporcionará ainda o intercâmbio de informações e de pesquisadores, que se encontram atualmente trabalhando individualmente, o que tem causado uma redução no potencial de geração de conhecimento aplicado e uma dispersão de recursos humanos e financeiros devido à duplicação de esforços.
Por Arley Reis / Jornalista da Agecom
Saiba Mais:
– Desafios da Rede Nacional de Pesquisa em Ostras Nativas:

Fotos: Jones Bastos / Agecom
– Identificar estoques das populações de ostras ao longo do litoral brasileiro, como subsidio para programas de exploração de populações naturais e de escolha de fundadores para cultivo;
– Estabelecer um programa de melhoramento genético da ostra nativa que envolva linhagens provenientes de várias áreas do país;
– Formar um estoque de reprodutores, para obtenção de linhagens de alto crescimento e elevada sobrevivência;
– Avaliar e comparar o crescimento e sobrevivência de populações naturais e das linhagens melhoradas.
Instituições integradas à Rede Nacional de Pesquisa em Ostras Nativas:
– Embrapa Meio-Norte
– Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
– Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
– Universidade Federal da Bahia (UFBA)
– Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
– Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
– Instituto de Pesca de São Paulo
– Universidade Federal do Paraná (UFPR)
– Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
– Universidade da Região de Joinville (Univille)
– Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A.(EPAGRI)
O Laboratório de Moluscos Marinhos (LMM)
– Ligado ao Departamento de Aqüicultura, vinculado ao Centro de Ciências Agrárias (CCA) é composto por duas unidades físicas, uma localizada na Barra da Lagoa e a outra em Sambaqui .
– A unidade de Sambaqui é uma fazenda marinha, onde são mantidos os reprodutores pertencentes ao plantel do laboratório e onde são realizados os experimentos de cultivo no mar.
– A unidade da Barra da Lagoa possui uma área aproximadamente 1000 m2, com equipamentos básicos necessários à produção de sementes de moluscos e o desenvolvimento das diferentes linhas de pesquisa.
– Seus pesquisadores têm acesso a laboratórios que integram uma rede de pesquisa com mais de 20 departamentos da UFSC envolvidos em atividades relacionadas com o cultivo de moluscos.
– Possui acervo bibliográfico próprio com mais de 2.500 títulos entre teses, dissertações e livros, parte deles já cadastrados e com recursos de busca via internet (www.lmm.ufsc.br)