Especial Pesquisa: UFSC comprova que prejuízos no olfato precedem sintomas clássicos na doença de Parkinson

Imagem ilustra perda de neurônios induzida pela toxina MPTP
Os resultados obtidos na UFSC foram apresentados em 2008 no International Symposium on Olfaction & Taste (ISOT). A pesquisa indica que no futuro testes olfatórios poderão ser utilizados para o diagnóstico precoce dessa enfermidade que ainda é considerada incurável – e quanto mais cedo é descoberta, mais chances há de amenizar o sofrimento que causa.
Decifrando a doença
O Parkinson é causado pela destruição dos neurônios que produzem o neurotransmissor dopamina. Essa substância ajuda a transmitir mensagens relacionadas ao movimento dos músculos, garantindo precisão e equilíbrio nas ações. Um dos problemas para seu diagnóstico é que os tremores só aparecem quando a doença já está em fase bastante avançada.
No Departamento de Farmacologia da UFSC, pesquisas foram realizadas a partir da observação de modelos animais em que ratos foram tratados com a neurotoxina MPTP via intranasal. Os estudos mostraram que essa toxina não fica restrita à área olfativa, mas migra para o cérebro e causa lesões em neurônios. O modelo animal permitiu também que o grupo observasse a sequëncia do avanço da doença.
A pesquisa mostrou que primeiro os animais perderam a capacidade de diferenciar odores. Depois, apareceram problemas para aprender e executar tarefas, numa visível perda cognitiva. Somente mais tarde apareceram os problemas motores.
“Nos experimentos os animais desenvolveram prejuízos olfatórios, cognitivos e motores muito semelhantes aos observados na doença de Parkinson. Além disso, apresentaram alterações neuroquímicas semelhantes aquelas observadas no cérebro de pacientes portadores da doença, como a degeneração de neurônios dopaminérgicos e redução de dopamina em diferentes áreas cerebrais”, explica Rui, pesquisador do Laboratório Experimental em Doenças Neurodegenerativas da UFSC.
De acordo com o professor, os estudos relacionando problemas de olfato à enfermidade vêm sendo realizados pois embora a causa primária da doença Parkinson permaneça desconhecida, estudos epidemiológicos têm indicado que a sua incidência pode estar associada à exposição a certas toxinas ambientais, como pesticidas e herbicidas. “Os resultados reforçam a hipótese de que o sistema olfatório pode representar uma porta de entrada para neurotoxinas envolvidas com a etiologia da doença de Parkinson”, destaca o pesquisador.
“Além disso, o avanço temporal dos sintomas olfatórios, cognitivos e motores observados nos animais tratados com MPTP pela via intranasal sugerem que este representa um novo e útil modelo para o estudo do processo neurodegenerativo associado à doença, assim como para a avaliação de novas alternativas terapêuticas”, complementa o pesquisador.
Os estudos levam em conta que tão importante quanto o tratamento, é o diagnóstico precoce. Ao mesmo tempo, dissecando o funcionamento da doença, as pesquisas realizadas na UFSC são um caminho para buscar formas de bloquear o seu avanço. Os trabalhos neste campo têm sido desenvolvidos com apoio financeiro do CNPq, da CAPES e da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc).
Sobre a imagem: É ilustrativa da perda de neurônios pela ação induzida da toxina MPTP, administrada aos roedores em modelos animais de pesquisa. A administração intranasal de MPTP levou à degeneração de neurônios dopaminérgicos da substância negra – porção heterogênea do mesencéfalo que é responsável pela produção de dopamina no cérebro. Essa degeneração é uma característica semelhante a que é observada em pacientes com a doença de Parkinson.
Mais informações com o professor Rui Daniel S. Prediger, fone(48) 3721 9764 / Ramal: 223, e-mail: ruidsp@hotmail.com; prediger@farmaco.ufsc.br
Por Arley Reis / Jornalista da Agecom
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