Da Chave de Fenda ao Laptop – Tecnologia Digital e Novas Qualificações: Desafios à Educação, mostra que é possível instaurar processos de formação humana que concorram para a superação da forma capital de relações sociais. Este é o sexto livro do professor Lucídio Bianchetti e integra a Coleção Dimensões do Trabalho da Rede Inter-Universitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho (Unitrabalho), sendo publicado em co-edição com a Editora da UFSC (EdUFSC) e Editora Vozes. A segunda edição, revista e atualizada, vai ser lançada na próxima quarta-feira, dia 10, às 19h30min, na Barca dos Livros, Lagoa da Conceição, rua Senador Ivo d´Aquino.
“As novas tecnologias que agregam à matéria, além de energia e massa, informação, e trazem uma mudança qualitativa fundamental nas possibilidades de dilatar o tempo livre e os processos de formação humana, desgraçadamente continuam subordinadas à forma capital de relações sociais”, diz o professor Gaudêncio Frigotto, da Universidade Federal Fluminense.
No livro, Bianchetti constata que há duas verdadeiras barreiras dificultando que todos os países e todas as pessoas tenham acesso, possam desfrutar dos benefícios que as novas tecnologias da inteligência já criadas poderiam disponibilizar. As primeiras referem-se à nova divisão internacional do trabalho em que, devido a investimentos e outros fatores, há países que produzem tecnologia e outros que são “incluídos” no mundo globalizado, na condição de consumidores.
Por outro lado existe um baixo nível de instrução e de educação no conjunto da população causado pela necessidade da luta renhida pela subsistência e pelo pouco investimento público em educação, fatores que dificultam a absorção e utilização de novas tecnologias. “Esse conjunto de fatores nos permite entender o atraso, o subdesenvolvimento, a inserção tardia e dependente do Brasil no cenário mundial, resultando na exclusão individual e coletiva. A existência de ilhas de excelência e de automação, evidenciam muito mais as carências do conjunto da população do que as virtudes de indivíduos ou grupos”.
No entanto, Bianchetti reconhece que negar hoje essas tecnologias seria o equivalente a negar a história. “Aos pesquisadores cabe a constatação de que a resistência existe, seja pela dificuldade de as pessoas trabalharem a adesão, a passagem de uma tecnologia(analógica) à outra (digital), seja pela forma como estão sendo compulsoriamente levadas a encarar a mudança num curtíssimo espaço de tempo.
Lucídio explica que, através do livro, desenvolve um relato e uma análise do processo e dos resultados das transformações tecnológicas, organizacionais e gerenciais de uma empresa de telecomunicações. A determinação de, num curto espaço de tempo, os trabalhadores terem que se adaptar aos novos e crescentes desafios da reestruturação produtiva, nos seus aspectos tecnológicos e organizacionais, fornecem, segundo o autor, um excelente mirante para compreender as batalhas a serem enfrentadas por pessoas, grupos, instituições, países e até blocos para ingressar ou se manter no conjunto dos incluídos.
Em síntese, o pesquisador da UFSC empreende uma profunda análise “das novas tecnologias de informação e comunicação e seu papel estratégico no redimensionamento das categorias de espaço e tempo”. Ele focaliza, neste sentido, “as relações entre informação e conhecimento, alertando para a facilidade com que são apreendidas como equivalentes”, criticando, finalmente, o “conceito de sociedade do conhecimento”, vulgarizado nos dias de hoje.
O que mais chama a atenção do autor “é a que a tendência delineada para o futuro, a médio prazo, não é a transformação de especialistas em generalistas, mas sim a supressão dessas duas categorias, dando lugar a uma outra categoria de especialistas:’a dos especialistas em informática, uma vez que tudo será feito a partir de softwares”.
Bianchetti, que pesquisou durantes anos os novos reflexos das novas tecnologias, sobretudo na área das telecomunicações, a nova realidade exige uma mudança radical no mundo do trabalho: “Desde o trabalhador Centralizado até aquele que fica na mais remota ponta da operadora, ambos deverão ter, como pré-requisito, o domínio de informática”. Ou seja, repetindo palavras de um analista de sistemas por ele entrevistado, “não há mais telecomunicações sem informática”.
O livro é um exaustivo estudo sobre as mudanças das novas tecnologias nos processos de formação humana. Professor e pesquisador do Centro de Ciências da Educação da UFSC, onde coordena o Programa de Pós-Graduação em Educação, Lucídio constrói uma ponte da pedagogia com as ciências tecnológicas. Aponta, principalmente, as implicações da informática na vida do trabalhador. O desafio, segundo o educador, não é combater a tecnologia, mas sim, instaurar processos que superem os estragos da máquina sobre a humanidade. Para fazer tal análise, teoriza também sobre a humanidade. Para fazer tal análise, teoriza também sobre as relações entre informação e conhecimento.
Da chave de fenda ao laptop já começou a despertar atenção nacional, fazendo sucesso, por exemplo por exemplo, no 25º Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpoc), em Caxambu do Sul (MG). O seu conteúdo também foi apresentado pelo autor em setembro, em Londres, durante a Conferências Mundial sobre Trabalho, Emprego e Novas Tecnologias. Suas obras têm tido excelente aceitação do público. A Unitrabalho, considerando a expectativa criada e a qualidade da obra, espera realizar a segunda edição já em maio de 2002.
Lucídio, doutor em História e Filosofia da Educação, é professor adjunto no Centro de Ciências da Educação da UFSC. Gaúcho de Passo Fundo, além de dezenas de artigos publicados em revistas e coletâneas, é autor, co-autor, organizador e co-organizador de vários livros, os quais destacam-se Angústia no vestibular; Trama & Texto. Leitura Crítica. Escrita Criativa, volumes I e II; Interdisciplinaridade. Para além da filosofia do sujeito (5ª edição); e Um olhar sobre a diferença. Interação, trabalho e cidadania (4ª edição). O auge da produção, Lucídio já encaminhou os originais de um novo livro à EdUFSC.
OUTRAS PALAVRAS
“Creio que o seu trabalho se constitui numa importante contribuição para a nossa reflexão coletiva, que mistura tantas áreas, desafia a muitos e assusta alguns, mais especialmente nós mesmos, os “educadores” (Nelson Pretto, diretor da Faculdade de Educação da UFBA, na contracapa do livro).
“É um livro que se soma à recente literatura nacional e internacional sobre a temática das transformações no campo do trabalho e os desafios que estão sendo postos à educação” (Professor Celso João Ferretti, da PUC/SP e FCC/SP).
“Na área de informática e telecomunicações o tempo ruge” (Frase de um engenheiro da empresa pesquisada).
“É difícil deixar de concluir que não dá para chamar alguém de qualificado, tendo ele como suporte desta qualificação um monitoramento à distância. Certamente é um eufemismo afirmar que este generalista preconizado é alguém qualificado” (Lucídio Bianchetti, em Da chave de fenda ao laptop).
Três denúncias
Em Da chave de fenda ao laptop, Lucídio Bianchetti expõe três pensamentos em tom de denúncia:
“A estratégia ativa dos empresários, com a anuência dos governantes, tem sido a de continuar enquadrando a escola e de exigir dela aquilo que afirmam ser a sua função no novo contexto produtivo e organizacional deste início de século: formar o trabalhador com a qualificação de transferibilidade, de adaptabilidade às mudanças estratégicas racionalizadoras desencadeadas pelas novas formas de acumulação do capital”.
“O uso mercantil da informação, ou indo mais direto, a sua transformação em mercadoria, redimensiona toda a relação com o estoque de informações, com o possuidor – tanto humano como mecânico – e com os meios, provocando e conformando transformações no processo de produção e circulação. Podemos afirmar que a informação apresenta a dupla face de constituir-se como esfera produtora de mercadorias, mas também de entrar na esfera da circulação, ela própria, enquanto mercadoria”.
Por fim cabe realçar que, com o potencial disponibilizado pelas novas tecnologias de informação e comunicação, tanto as instituições formais de ensino quanto os trabalhadores deverão estar alerta às atividades e funções de intermediação. Todas as atividades e funções que são passíveis de terem os seus conhecimentos e procedimentos objetivados nos softwares já estão ou serão submetidas ao processo de “desintermediação”, cujo resultado prático é a eliminação de postos de trabalho”.
Segue entrevista com o autor:
Como um pedagogo conseguiu entender tanto de tecnologia? Como a
educação chegou tão perto das chamadas ciências exatas? Como foi, enfim, possível esta ponte humanizadora?
A tua questão faz muito sentido, especialmente se levarmos em conta as relações que predominaram entre as ciências e os campos do conhecimento no decorrer da história e particularmente no período de supremacia do paradigma taylorista-fordista, materializando-se nas primeira e Segunda revoluções industriais. Isto em termos de mundo da produção. Se falarmos do mundo do conhecimento, do mundo acadêmico, o paradigma em supremacia é o do positivismo funcionalista. Ambos se complementam, fecham.
Nesse período da história partiu-se para a exacerbação do especialismo e da fragmentação do processo de trabalho e dos campos do conhecimento. Priorizou-se a parte em detrimento do todo. As relações entre o mundo do trabalho e da educação mantinham uma estreita aproximação, embora não num patamar de igualdade de influências. Pode-se falar de dependência, de funcionamento a reboque do campo da educação ao mundo do trabalho. No livro O que é Taylorismo, Luzia M. Rago e Eduardo Moreira afirmam que “embora originariamente a organização ´científica´ do trabalho tivesse se limitado à esfera da produção e visasse incidir especificamente sobre a classe operária, paulatinamente o taylorismo invade outros espaços do social, penetrando nos mais ocultos recantos…” (p.96).
Dentre estes “recantos” podemos destacar enfaticamente a universidade, onde os campos de conhecimento e no próprio interior destes, caminhou-se para uma especialização, uma fragmentação sem precedentes na história. Uma das decorrências dessa superespecialização, foi a perda da visão de totalidade, de conjunto.
E assim, cada esfera – no caso da esfera da produção e da educação – passava a preocupar-se com seu pequeno feudo, parecendo nada ter a ver uma com a outra. E caminhou-se tanto para a escavação de poços lado a lado até que alguns autores como é o caso de George Gusdorf, Jean Piaget, Cristóvam Buarque, Hilton Japiassú e Enio Candiotti, no âmbito da academia, passaram a reivindicar a necessidade de, além da abertura de poços, ser necessário escavar galerias; passaram a falar na necessidade de uma visão interdisciplinar, para conseguir dar conta da complexidade que caracteriza o estágio científico e tecnológico da nossa época. Em outras palavras: nenhuma ciência, nenhuma disciplina, sozinhas, seriam capazes de dar conta de explicar qualquer fenômeno.
De outra parte assessores e gurus dos industriais e empresários em geral, com destaque para Peter Drucker, Peter Senge, Alvin Toffler, só para ficar nos mais ilustres, passaram a ´pregar´ que o período da história na qual do trabalhador se exigia apenas a execução de uma parcela de uma tarefa, estava ficando para trás. Era necessário pensar na formação de um trabalhador que fosse capaz de planejar, executar e avaliar. É óbvio que aqui não estou entrando na análise do que está determinando isto, pois o espaço é pouco para falar do quanto está em pauta a manutenção do modo de produção capitalista nesta jogada. É como diz David Harvey, no livro A condição pós-moderna: esta é uma mudança na aparência! No essencial, o modo de produção capitalista continua com sua lógica inalterada em termos de ser exploratório e excludente.
E assim, o tempo da especialização, da fragmentação, tanto no interior da academia quanto no interior da empresa, passaram a ser questionados na raiz. E tudo isto representou um grande desafio – e ainda representa – seja para a academia, seja para os donos das empresas e principalmente para os estudantes e trabalhadores. Ocorre que não se muda um paradigma, uma cultura profundamente arraigada, predominante por mais de um século, de uma hora para a outra. Nestas tentativas alguns sobrevivem e muitos são excluídos seja do mercado de trabalho, seja da academia e, no final, do próprio aproveitamento de tudo aquilo de bom que a humanidade no seu conjunto pode produzir. Continuamos a conviver com o descalabro representado pela produção coletiva apropriada e aproveitada por uma pequena minoria.
Ora, dar-se conta desta manifestação história no mundo da educação e da produção, não é algo que decorra de inspiração ou transplante. É necessário esforço, pesquisa, decisão e uma postura de tentar ser coetâneo ao tempo em que se está vivendo. Procurei fazer este esforço e no princípio da década de 90 do século passado, quando optei por fazer o meu doutorado, decidi que não o faria postando-me e olhando o mundo do interior da escola. Meio intuitivamente percebia um descompasso cada vez maior entre o mundo da educação e o mundo da produção. E o contencioso estava instaurado: os educadores acusavam os empresários de só se preocuparem com lucros; estes acusavam aqueles de estarem complemente desconectados do mundo no qual viviam. E assim cada um encastelado no seu posto acusava o outro. O resultado era: estudantes que se formavam com uma formação defasada e trabalhadores que ou eram despedidos ou sequer conseguiam empregos.
Durante anos desenrolou-se um diálogo de surdos, cada segmento com acusações pesadas ao outro e todos perdendo.Tendo isto presente é que procurei buscar espaço para desenvolver minha pesquisa de doutorado. Meu orientador deu-me integral apoio. Minha opção foi pelo setor de telecomunicações por intuir que ali estaria a possibilidade de encontrar o que havia de mais avançado e especialmente por localizar aí na junção entre o computador e o telefone a representação das agregações e potencializações das novas tecnologias, em progresso cada vez mais acelerado. Tinha presente a lição do velho K. Marx quando afirmava que se alguém quiser entender o mais atrasado deve pesquisar o mais adiantado. Por isso, dizia ele, fui pesquisar em Londres, pois esta me proporcionava a torre mais alta e privilegiada para observar o modo de produção capitalista. A TELESC, e particularmente o Centro de Gerência Integrada de Redes (CGIR) foi visualizada por mim como a minha Londres.
Evidentemente aí havia ainda obstáculos de não pouca monta para superar: ser liberado pela minha universidade para pesquisar numa empresa e ser aceito pela empresa para lá desenvolver meus estudos doutorais. Foi assim que se concretizou aquele famoso diálogo com os meus colegas de departamento e com o Gerente do CGIR. Ao comunicar meus colegas de academia que iria pesquisar numa empresa perguntaram-me: “O que é que você vai fazer lá?” E o gerente do CGIR, ao saber da minha formação perguntou-me: “Mas o que é que um Pedagogo vem fazer aqui?”.
É muito interessante pois não se passaram ainda oito anos deste diálogo e no entanto, acredito, que hoje a ninguém – nem na academia nem na empresa – ocorreria levantar novamente esta questão. Não que as relações entre ambas estejam fluídas e que da parte de todos haja a compreensão de que o muito que fizermos nessa direção, ainda será pouquíssimo para ajudar os atuais estudantes e trabalhadores a garantirem a sua entrada e permanência no chamado mercado de trabalho. Mas com certeza hoje há uma maior e mais abrangente compreensão de que há a necessidade de o mundo da produção e o mundo da educação se aproximarem mais, fertilizarem-se mutuamente, sem que um seja colocado a reboque do outro. É preciso, é imprescindível que se preserve a autonomia, que cada um faça a sua parte, mas com certeza isto não será conseguido se cada um virar as costas para o outro, continuando a cuidar do seu feudo ou a cavar o seu poço. O que é preciso entender é que a tecnologia não é um mal em si: tudo está na dependência dos interesses de quem a utiliza e de quem se apropria dos resultados da sua aplicação. Aqui não há espaço para neutralidade.
Com certeza a questão levantada por Sílvia Velho, no livro Universidade-empresa. Desvelando mitos, onde a autora pergunta: “Empresários e pesquisadores: desconhecidos ou inimigos ontem, hoje parceiros”? continua repercutindo, pois ainda há muitos entreves para serem superados na direção dos benefícios coletivos que advém da produção coletiva.
Quanto a parte da tua questão que se refere ao como um pedagogo pode vir a entender de tecnologia, no que me diz respeito só há uma resposta: pesquisa, pesquisa, pesquisa (lendo, observando e entrevistando!).
O que significa o trabalhador passar da tecnologia analógica à digital?. As novas tecnologias causaram desemprego? Por quê? Como enfrentar a tragédia?
Esta é uma questão muito interessante. Na sua resposta reside o desafio central a ser enfrentado por trabalhadores, empresários, estudantes, professores e governantes nos dias de hoje, pois da compreensão e da adesão – de forma não acrítica! – a este novo paradigma está a possibilidade de ser um excluído ou integrado digital ou de ser um analfabeto ou alfabetizado científico.
Atuar com ou em tecnologia analógica supõe que o trabalhador ou estudante ou quem quer que seja, utilize os sentidos (visão, tato, olfato…) como mediação para executar uma tarefa ou função. O trabalhador faz um trabalho sobre o concreto, utilizando os seus sentidos. Em telecomunicações por exemplo, ao concertar um equipamento o trabalhador segue circuitos para verificar onde se localiza o defeito. Ele abre o equipamento, verifica, testa, recoloca em funcionamento e este pode se dar num intervalo de 0 a 100 ou, em outras palavras, funcionar precariamente até o bom funcionamento. Os equipamentos geralmente são grandes são passíves de serem desmontados para verificação nas suas partes constitutivas.
A aprendizagem, a qualificação, para trabalhar com tecnologia analógica depende de muito treinamento, de longa prática e permanência num setor. A aprendizagem vem com o tempo e com a experiência.
O paradigma digital (onde as mensagens, sons, números… são transformados em DÍGITOS – 0 e 1; tem ou não tem; funciona ou não funciona) é complemente diferente. O que passa-se a exigir do trabalhador é a capacidade de abstração, pois os novos equipamentos são cada vez menores e montados em blocos, impossibilitando ou dificultando a sua abertura par a observação interna. A ação no equipamento pode ser dada a distância, virtualmente, através de um lap top. O telework torna-se possível. A maior parte dos consertos se dão por simulação. É neste contexto que ganha sentido a afirmação de Arthur Clarke, aquele do “2001, uma odisséia no espaço”, quando afirma que estamos vivendo uma época que se caracteriza pela “ implosão do tamanho e pela explosão da complexidade”.
A experiência e a permanência num posto de trabalho perdem a importância, uma vez que as mudanças são freqüentes. Se na analógica seguia-se linearmente circuitos, aqui a metáfora é a rede, a complexidade e não é mais possível depender de muito tempo para aprender. Por isso é possível despedir pessoas, trocar sem grandes prejuízos. A principal qualificação que se exige é a pessoa estar aberta para o novo, ter capacidade de abstração…
A grande dificuldade que vejo nisto tudo não é o fato de ter surgido uma nova tecnologia, mas sim o fato de isto estar acontecendo num curto espaço de tempo, impedindo ou dificultando que as pessoas façam o exercício da perda do velho e da necessária adesão ao novo. Os autores são unânimes em afirmar que estamos vivendo um tempo que experimenta um violento redimensionamento das categorias de espaço e tempo. O aqui-agora tornou-se o right now, o on line e nem todos estão preparados para enfrentar isto. Eric Hobsbawm, aquele do livro “A era dos extremos. O curto século XX”, afirma que a nossa época se caracteriza por mudanças tão rápidas que “ o mapa e o território já não coincidem”. Isto é, quando terminamos de desenhar o mapa, o território já não é mais o mesmo.
Por entrevistas, por experiências e por observações, posso afirmar que a solução para muitas pessoas em termos de deixar uma tecnologia e aderir a outra vai acontecer por ´decurso de aposentadoria´. Isto é, há pessoas que simplesmente não estão conseguindo assimilar esta nova forma de produzir a existência e o conhecimento, dadas a sua experiência, a sua formação em outra tecnologia, em outra época. E tudo isto causa muito sofrimento. Não é por nada que pululam livros sobre o stress e as doenças do trabalho e por outro lado, livros sobre motivação…
Por fim é preciso reafirmar que o problema não é tecnológico. O velho Marx já criticava os ludditas, aqueles que destruíam equipamentos que o problema não era o equipamento, mas sim a relação exploratória que fazia com que uns se apropriassem do esforço e dos furtos do trabalho dos outros. A tecnologia deveria ou poderia ser redentora, liberando as pessoas do trabalho sujo, degradante, desde que a relação fosse outra. É da essência do capitalismo explorar. Então quando se faz uma questão sobre tecnologia, é preciso que se situe época, lugar, quem se beneficia e quem é excluído. E isto tanto faz se é analógico ou digital… Que se reforce então que o problema do desemprego não é da tecnologia, mas sim da relação predominante que coloca o lucro acima das necessidades de TODOS os homens e mulheres. Hoje há tecnologia disponível para a inclusão de TODOS. Isto não está ocorrendo por questões outras e não pela tecnologia.
Informações e entrevistas com Lucídio Bianchetti:
Fones 48 – 3721-9245, 3333- 1024 e 9107-5959; e-mail: lucidio@brasilnet.net
Outras informações com o coordenador da Coleção Dimensões do Trabalho, professor Antonio David Catanani, da Unitrabalho, e organizador do livro sobre o Fórum Mundial realizado em Porto Alegre: 51 – 9954-1425; 331-14076; 331-17552. E-mail: adcattani@uol.com.br
Da chave de fenda ao laptop – Tecnologia digital e novas qualificações: desafios à educação
Lucídio Bianchetti
Editora da UFSC, Editora Vozes e Unitrabalho, 2001
256 págs.; R$ 26,00
Por Moacir Loth/jornalista na Agecom