Congresso Brasileiro de Saúde Mental promove oficina sobre trabalho pedagógico-terapêutico
José Setemberg faz a sua segunda participação no Congresso Brasileiro de Saúde Mental nesta sexta-feira, 5 de dezembro, às 15h30min. O palestrante, que é usuário do sistema de saúde mental, apresentará a ‘Oficina de Sensibilização: Mosaico de experiências sobre a Tecnologia Social Encontro’. Junto com Larissa Cristina Sena Cardoso, discutirá o que é o Projeto Encontro, uma atividade de extensão da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), desenvolvido pelo Instituto Silvério de Almeida Tundis (ISAT).
As ações do Projeto Encontro começaram em 2002, no Centro Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, em Manaus (AM). Através do projeto, hoje é realizado um trabalho pedagógico-terapêutico com os 49 pacientes do Centro, buscando a inserção social dos usuários do sistema de saúde mental através de diversos serviços de apoio, como encontros para a formação de vínculos afetivos, debates para construção de novas propostas para a saúde e educação, oficinas para promoção de mudanças no paradigma da atenção em saúde, oficinas para estimular o processo criativo, entre outros. Atualmente, as atividades também são desenvolvidas na comunidade urbana do Bairro da Chapada, em Manaus, e na área indígena Sateré-Mawé, no município de Maués, com orientações sobre uso de álcool e outras drogas e sobre a exclusão social de pessoas com transtorno mental.
José também ministrou uma oficina no primeiro dia do evento, quarta-feira, 3 de dezembro, com o tema ‘O trabalho Cooperativo de Usuários’, onde abordou as atividades que os usuários de Centros de Atenção Psicossocial podem desempenhar na sociedade.
Além de atuar no controle social, fiscalizando os serviços de saúde, cobrando reformas dos hospitais e denunciando maus tratos, José afirma que os usuários podem colaborar de outra forma, participando do planejamento de políticas públicas, ajudando outros usuários que estão passando por experiências semelhantes às já vividas por eles, orientando as famílias dos pacientes, e também dentro das Universidades: “Nós podemos cooperar não só no controle social, mas também fazendo projetos de pesquisa e participando do planejamento das aulas dos cursos de graduação que envolvam saúde mental, como uma forma de participar da formação de profissionais melhores e mais bem preparados”. Segundo ele, os alunos precisam ter contato com os usuários, saber o que precisam e como se sentem em relação aos tratamentos. “Isso sim é um trabalho cooperativo, não podemos apenas reclamar que os psicólogos, enfermeiros e psiquiatras não nos tratam de maneira adequada”.
Ação e pesquisa
José Setemberg Ferreira Rabelo nasceu e mora em Manaus. Ele vivenciou a precariedade do sistema de atenção em saúde mental após sucessivas internações no único manicômio da cidade, o Centro Psiquiátrico Eduardo Ribeiro. Depois de quase dez anos de internação, em 2002 teve contato com o Programa Encontro.
Hoje é terapeuta comunitário e um dos fundadores do Instituto Silvério de Almeida Tundis (ISAT). Também faz parte do grupo de pesquisa “Saúde, Interculturalidade e Inserção Social” (SIIS) e do “Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Enfermagem e Saúde” (NIPES), ambos da Universidade Federal do Amazonas. Neste último, junto com seus parceiros, finalizou, recentemente, uma pesquisa de ‘Análise da Saúde Mental no Estado do Amazonas’ (ASMAM), financiada pelo CNPq. Também exerce, atualmente, a função de Vice-Presidente da Comissão de Saúde Mental do Conselho Estadual de Saúde.
Há três anos Setemberg não é internado, e concorda com essa medida somente em casos realmente necessários, destacando que ela deve ser acompanhada de muitos cuidados: “O paciente precisa ser bem assistido, ter acompanhamento terapêutico individual e periódico, apoio à família, atividades de distração e medicamentos controlados”. É contra internações em que o paciente fica isolado e defende uma reforma no sistema. Ressalta, ainda, que nos manicômios a sensação é de que não se é mais cidadão: “Em muitos hospícios, o tratamento é ‘moral’, mecânico, a base de ordens e gritos, sem explicações e orientações. Não se pode escolher a comida que se quer comer, nem a roupa que se quer vestir. Não se tem liberdade e perde-se a cidadania.”, avalia José Setemberg.
Mais informações sobre o ISAT pelo telefone (92) 3584-4473 ou com José Setemberg (92) 8199-6067
Por Tifany Ródio / Bolsista de Jornalismo na Agecom