Pesquisadores da UFSC estudam ostras que podem produzir pérolas

06/11/2008 10:11

Estudos são com a ostra perlífera nativa

Estudos são com a ostra perlífera nativa

Um estudo a ser financiado com verbas do governo estadual pode abrir caminho para a produção de pérolas em Santa Catarina. Ele vai dar subsídios para prevenir doenças em cultivos experimentais de uma espécie ainda não disponível no mercado nacional, no qual só há ostras comestíveis e nenhuma perlífera.

O projeto foi selecionado via chamada pública do Prêmio Mérito Universitário, programa mantido pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc). A entidade repassará R$ 300 por mês ao longo de um ano à bolsista contemplada, Ana Carolina Zanandrea, aluna do Curso de graduação em Engenharia de Aqüicultura, e ela poderá concorrer a uma premiação quando enviar o relatório final sobre suas conclusões. O trabalho se insere numa pesquisa mais abrangente que o doutorando Rafael Alves realiza no Departamento de Aqüicultura da Universidade Federal de Santa Catarina.

Ambos são orientados pela professora Aimê Rachel Magenta Magalhães, diretora do Centro de Ciências Agrárias da UFSC, e estudam a ostra perlífera nativa Pteria hirundo. “Ela faz uma pérola muito bonita, é nativa do Brasil e tem grande ocorrência no litoral catarinense”, explica a professora. “Também é saborosa, o que une o útil ao agradável.”

Em âmbito mundial, a aqüicultura movimentou mais de 56 bilhões de dólares em 2000. Deste total, 23,5% veio da produção de moluscos e beneficiou principalmente populações carentes da

Ásia. Também a Polinésia Francesa e as Ilhas Cook geram divisas com a venda de pérolas.

O cultivo de ostras na Ilha de Santa Catarina começou nos anos 80, com apoio da UFSC. Desde então a atividade vem se expandindo e constituindo alternativa de renda para muita gente, a ponto de ser considerada por muitos como o projeto da Universidade que mais trouxe impacto positivo para as comunidades litorâneas de Santa Catarina.

A fim de garantir os lucros do setor produtivo, é necessário levantar dados que auxiliem a compreender melhor os fenômenos de mortalidade que causam prejuízos em fazendas marinhas. “A gente vê que o pessoal reclama quando está perdendo animais por conta de alguma doença”, diz Ana Carolina. Ela vai focar seu estudo numa infecção por fungo que afeta o músculo que liga as duas conchas da ostra Pteria Hirundo, cultivada apenas experimentalmente no Laboratório de Mexilhões da UFSC. A enfermidade é popularmente chamada de “mal do pé”, e pode matar a ostra porque ela não pode mais abrir e fechar, explica Rafael. “Ela provoca quebra de 10% na produção.”

O mal do pé ainda não tem cura, porém pode ser prevenida com medidas simples como “respeitar a capacidade do local”, nas palavras de Ana Carolina. “Quando o produtor coloca um grande número de animais num pequeno espaço é mais fácil um passar para o outro.”

Mesmo que não matem, algumas enfermidades debilitam as ostras e diminuem seu valor econômico pela má aparência da pérola, que sai deformada.

Normalmente nos animais do gênero Pteria cultivam-se pérolas em formato de meia esferas (mabé ou blister), ou seja, com uma lado achatado e que pode ser colado a bases de brincos ou pingentes. “Ela foi eleita entre centenas de espécies por produzir a melhor pérola”, salienta a professora Aimê. “Vale lembrar que a ostra não produz espontaneamente a ´meia pérola´, a qual surge do mecanismo de defesa do molusco, que recobre com camadas de minerais o corpo estranho colocado em sua concha. Dentro dela, ambos convivem em harmonia.”

Geralmente é o homem que promove a formação de pérolas nos cultivos, colocando moldes plásticos nas conchas. Entretanto, se entrar um grão de areia, ele pode ser coberto de nácar e virar uma pérola como aquela encontrada na Fenaostra deste ano, por pura sorte.

O cultivo de ostras perlíferas em escala comercial sequer começou, mas pode se tornar realidade em poucos anos, se depender de agências de fomento ao desenvolvimento sustentável como a Fapesc.

Para saber mais, contate Rafael Alves pelo e-mail bioralves@uol.com.br ou fone 9960-8982.

Por Heloisa Dallanhol / Programa de Jornalismo Científico da Fapesc