Laboratório de História Indígena da UFSC contribui para a revitalização das práticas culturais Kaingang

Fotos: Labhin
Coordenado pela professora Ana Lúcia Vulfe Nötzold, também coordenadora do Labhin, o projeto possibilitou que alunos da Escola Indígena de Ensino Fundamental Paiol de Barro, localizada dentro da Terra Indígena Xapecó, vivenciassem todas as etapas da produção de artesanato típico dos Kaingang. Talita Daniel Salvaro, mestranda em História Cultural na UFSC e subcoordenadora do projeto, explica que a equipe do Labhin viu na escola o ambiente adequado para que essas crianças entrassem em contato com práticas inerentes à cultura indígena, que devido às transformações culturais estão se reelaborando.
“Como seus pais estão em sua maioria inseridos no mercado de trabalho e em outras atividades, esses hábitos se tornam cada vez mais distantes das crianças”, explica. Durante três dias, a equipe da UFSC, os professores, membros da comunidade e as crianças coletaram e prepararam a matéria-prima necessária para que fossem produzidos os artesanatos. Concluída esta etapa, cerca de 30 alunos puderam produzir arcos, flechas, balaios e outros artefatos a partir das plantas coletadas.
“Quando fomos pegar a matéria-prima, pôde-se perceber que as crianças conheciam as raízes e sementes, e estavam bastante familiarizadas com aquele universo, o que faltava era a percepção dessa sabedoria”, argumenta Talita.
Com o financiamento do MEC, foram produzidas cerca de 500 mochilas para os alunos e professores da escola. Talita explica que a intenção de distribuir as mochilas foi, além de possibilitar que as crianças carregassem o material escolar de forma adequada, fazer com que elas estabelecessem relação entre a mochila e os cestos cargueiros, que há algum tempo eram largamente utilizados pela aldeia para carregar alimentos e roupas.
A experiência será documentada em um livro, que está em fase de finalização, com as fotos da produção dos utensílios. O plano inicial é que sejam impressos mil exemplares, mas Talita acredita que possa haver interessados em adotar o projeto e imprimir uma tiragem maior, para que o trabalho possa atingir um público ainda maior. O projeto também engloba livro com atividades sobre cultura material, como jogo de 7 erros, palavra cruzada, e desenhos para colorir . A obra será usada como material didático pela escola, que a partir do projeto incluiu a disciplina Arte Kaingáng em sua grade curricular.
“Esse livro tem um potencial muito bom para ser utilizado como material didático, tanto para crianças indígenas que podem fortalecer e valorizar sua identidade e como por crianças não-indígenas que têm no material uma possibilidade de conhecer novas culturas”, comemora o grupo de pesquisadores. O Labhin também prevê expor as fotografias que integram o livro na UFSC.
O projeto foi um dos primeiros aprovados pelo MEC para estudos com povos indígenas na Região Sul. Talita explica que é uma tendência acharmos que os índios estão apenas na região Norte: “Não é apenas porque o índio assiste TV e anda de carro que ela não se identifica mais com os valores e com a cultura de sua comunidade, é na sua auto-afirmação que se encontra o principal fator de identidade étnica”.
Mais informações: 3721-9642
Por Gabriela Bazzo / Bolsista de Jornalismo na Agecom
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