ARTIGO: Crise econômica pode se estender por mais alguns anos
Crise ou tragédia
É de conhecimento de todos nós que as economias mundiais passam por uma crise que poderá se estender por mais alguns anos. Muitos ficam chocados, outros acreditam ser o declínio do capitalismo, outros vaticinam o fim da economia americana; outros alardeiam outros precedentes que estão por vir; outros criticam por criticar; outros fazem predições precipitadas e negativas, etc.
O que não falta numa situação delicada dessas são pessoas para colaborar em tornar a vida mais difícil para todos: o mundo vai desabar, vai acabar. A impressão é que existe um processo obsessivo pelas coisas ruins e até temos a impressão de que o mal supera o bem. Não é preciso dizer isso pelas condicionantes da atual crise, pois basta olhar o noticiário das mortes decorrentes da violência urbana das cidades e da humilhação humana sofrida pelas populações menos favorecidas que vivem em constante insegurança, sem um lar, sem educação, sem um teto, sem esgoto, sem água encanada, sem oportunidades para uma recreação cultural, etc.
Mas, não é nada disso. O que estamos presenciando é fruto de nossa evolução. As crises são reflexos de nossa conduta e de nossa evolução. Algumas delas podem até ser programadas por uma pessoa ou um grupo, mas, em sua maioria, revela o nosso despreparo para os valores sublimes da vida. Assim, devemos olhar a dinâmica do contexto da vida humana para aprender o que os fenômenos estão querendo nos dizer. Prudência e uso do bom senso devem servir de guia para nossas atitudes pessoais em prol de nosso equilíbrio, já dizia René Descartes.
No mundo em que vivemos existem pessoas de todas as naturezas. Somos frutos não apenas de nossas gerações anteriores e de nossos cromossomos individuais (DNA), mas, de um contexto social, político e econômico, que vivemos, de experiências em vidas anteriores. Daí a importância em usarmos o bom senso, a razão, a lógica e a sabedoria para saber apreciar e viver melhor e dignamente. Esse comportamento pode nos levar ao último grau para se alcançar a sabedoria: a humildade. Somos em realidade pequeninos seres diante da majestosa Criação Divina. Nosso orgulho e egoísmo constituem o elemento central dos desequilíbrios e das crises de toda ordem.
O homem é um ser complexo, integral, dinâmico e espiritual. Sua fisionomia revela as marcas do tempo decorrente dos fluídos degenerativos ou positivos da mente que acopla experiências diversas. Detém valores espirituais que ainda desconhecemos. A evolução da trajetória humana mostra quantas crises já passamos. As civilizações e as nações sofreram duros golpes e todas as crises levaram a mudanças antes não pensadas ou mesmo desejadas.
Embora com inúmeras dificuldades em todas elas aprendemos muito. Muitas teorias surgiram para tentar explicar as nossas tragédias individuais e coletivas. Assim nasceram inúmeras teorias para explicar o homem e também para explicar os fenômenos da natureza. Sem nenhuma exceção, as diversas teorias científicas ainda são frágeis para explicar toda a nossa complexidade e nossa caminhada aqui na Terra.
No rol desta crise surgem inúmeras indagações. Dentre elas, pode-se colocar a questão central: porque as teorias econômicas não conseguem evitar tragédias como essas e nem mesmo explicá-las convincentemente! A resposta está no interior do homem. Evoluímos muito em tecnologia e muito pouco em moral.
Enquanto estamos no topo das decisões elaborando políticas públicas, supostamente corretas, elegantes e bem formuladas, nas periferias das cidades, no chão das fábricas, nos diversos segmentos econômicos e sociais e, na maioria dos lares, há um desrespeito entre os homens, há desequilíbrios que levam os seres humanos à fobia, ao desequilíbrio e a loucura emocional, ao desconforto, etc. Falar é mais fácil, porém, agir presencialmente em prol dessas mudanças é mais difícil.
As crises são reflexos de nossas condutas irracionais e emocionalmente desequilibradas. No centro dessa questão está a concepção do poder, do querer e do ter materialmente. O ser homem reluta em escolher o caminho mais fácil: o do amor, preferindo trilhar o caminho da dor. Não obstante constatar tudo isso, ele, o homem, reluta em aceitar e buscar o consenso, mediar o conflito com objetivos nobres. Assim, ele sofre o retorno imediato, pois, a lei da ação e da reação (Issac Newton) é uma verdade inconteste.
A crise em curso não é nova e nem aconteceu nas últimas semanas. Ela é fruto do desenvolvimento das economias que vem tentando vários modos de viver, de atuar politicamente, de praticar novos conceitos, de novas teorias; enfim, de testar vários procedimentos de conduzir a escolha humana. Nos erros e acertos, as tragédias nos conduzem a indagações de toda ordem. Para analisá-las com uma melhor estrutura e apóio à análise é preciso retomar a 1907 quando ocorreu o primeiro crash da bolsa nos USA e, em seguida, a 1929. Outras crises no período 1930-2008 tiveram seus desdobramentos, sendo a presente, apenas os reflexos do que vinha acontecendo.
O que a nossa sociedade ainda pratica neste início do Século XXI é contraditória a existência e a permanência de uma paz mundial. A tragédia humana maior não está na queda dos valores dos títulos e derivativos financeiros ou mesmo da desconfiança das autoridades mundiais, mas, do sofrimento humano decorrente das guerras, da abusiva concentração da riqueza em mãos de poucos, do desamor, da ignorância quanto aos valores morais e espirituais, dentre outros.
O que podemos fazer diante disso! Não é preciso ser nenhum profeta para afirmar que as teorias em curso sejam elas de qualquer origem, autor ou gênio, não conseguirão resolver o problema mais grave da natureza humana: a falta de amor. No tocante a economia, a crise terá efeitos diversos e ainda prolongados, uma vez que não se trata de um pequeno problema, mas, de um grandioso problema que afeta a todos de forma instantânea e rápida. No rol das decisões mundiais, países, governantes, organizações de toda ordem e as pessoas, estarão reformularão suas políticas econômicas e atitudes, trazendo um novo tempo de mudanças que são importantes para as futuras gerações. Surgirá como decorrência uma nova ordem econômica e uma agenda mais convincente para equacionar os problemas mundiais que são alarmantes em todos os campos: educação, pobreza, distribuição de renda, meio ambiente, energia, etc.
O momento é vital e de grande importância para se revitalizar a ECONOMIA como ciência. Novas idéias devem surgir, novas propostas devem submergir a luz do conhecimento e novos pensamentos estarão sendo apreciados. Seria de grande irresponsabilidade de todos nós se vaticinarmos o fim e a derrocada das economias com um fim em si mesmo. A vida humana não será destruída por uma crise apenas.
Por fim, gostaria de lembrar que não viemos a este mundo para humilhar ou maltratar as pessoas, mas, para aprender a viver equilibradamente, amando e respeitando nossos irmãos.
Pense nisso. Não se aflija diante das crises pessoais ou coletivas. Busque a sua paz interior nesses momentos difíceis da vida e da tragédia humana. Assim, você estará colaborando para a busca da ordem e do equilíbrio da vida humana em sua caminhada aqui no Planeta Terra.
João Randolfo Pontes
Professor do Departamento de Economia da UFSC
pontesjrp@gmail.com