Professora fala das particularidades da tradução para a língua de sinais
As dificuldades encontradas na tradução da língua portuguesa para a língua de sinais foram abordadas pela professora Ronice Muller de Quadros dentro da programação da manhã desta sexta-feira (10.10) do I Congresso Nacional de Pesquisa em Interpretação e Tradução de Língua de Sinais, que acontece no auditório da reitoria da UFSC e, através de telão, no auditório do Centro de Comunicação e Expressão da UFSC. O evento envolve mais de 430 pessoas de todo o país e termina hoje, com quatro oficinas a serem realizadas no período da noite.
A palestrante, que é coordenadora do curso de Letras-Libras da UFSC, mostrou a enorme distância entre a tradução convencional, feita a partir do texto escrito para outro texto em idioma diferente, e aquela que é realizada para a linguagem de sinais. Além da necessidade de agregar a voz e os gestos, há barreiras técnicas e as dificuldades de transpor termos que nem sempre são de uso corrente na língua dos surdos. Ela utilizou a palavra “longitudinal” para exemplificar como é preciso criar sinais para determinadas expressões que são corriqueiras na língua escrita mas parecem incompreensíveis para indivíduos que têm outro código de comunicação.
A produção de vídeos para o público-alvo dos cursos é outro desafio, pelo aparato técnico que requer e pelas barreiras de transcrição para a língua de sinais. Cerca de 200 vídeos por mês são produzidos no curso de Letras-Libras, cujo acervo já tem 5 mil vídeos diferentes, utilizados nas atividades pedagógicas.
Afirmando que o tradutor também é autor e, por vezes, se transforma em ator (quando precisa fazer uma gravação em vídeo), a professora Ronice de Quadros abordou ainda a questão da visibilidade do tradutor, que é polêmica nas traduções tradicionais mas não incomoda quem trabalha com a língua de sinais. Afinal, diz ela, o intérprete está ao lado do palestrante ou do professor, e às vezes até rouba a cena, tornando-se mais presente do que ele.
Textos e idéias – Também participou do congresso a professora americana Trudy Schafer, da Northeast University, que falou sobre “A abordagem Gish para a análise textual”. Ela utilizou o exemplo do filme “O mágico de Oz”, com Judy Garland, para mostrar que nem sempre é pela palavra que se entende o texto. Na produção de Victor Fleming, a menina Dorothy tinha o sonho de chegar à ‘nascente’ do arco-íris, e esse desejo é mais expresso pelo gestual do que por palavras. “É preciso interpretar as idéias contidas no texto”, afirmou. “Mais que as palavras, na língua de sinais as idéias são a base para a interpretação de uma mensagem”.
Por Paulo Clóvis Schmitz / Jornalista da Agecom