Livro conta histórias de personagens do Mercado Público
“Eu gostava mais do tempo em que não havia aterro, os barcos encostavam aqui atrás e o mar lavava tudo nos dias de vento forte”, diz em tom nostálgico o açougueiro Rogério do Livramento, um dos poucos remanescentes da época em que o Mercado Público de Florianópolis tinha 17 bancas para venda de carnes e uma infinidade de peixarias e bancas de verduras. O seu depoimento e o de outras 21 personagens que trabalharam, ainda trabalham ou tiveram envolvimento com a rotina do estabelecimento estão no livro “Mercado Público e suas histórias”, que Paulo Clóvis Schmitz e Danísio Silva lançam neste sábado, dia 11, em Florianópolis.
A publicação reúne textos baseados, na maioria dos casos, em entrevistas com pessoas simples, ex-fornecedores, comerciantes ou funcionários que passaram anos de sua vida ligados às lides do Mercado. “São figuras que conheceram a casa em outros tempos, antes da construção do aterro da Baía Sul, quando o Mercado concentrava parte substancial do comércio da cidade”, diz Schmitz, jornalista com 30 anos de profissão e que já havia publicado o livro “Pequena história do Teatro Álvaro de Carvalho”. O lançamento será das 10h às 12h na torre leste do Mercado Público, onde já funcionou o restaurante Pirão.
Entre os entrevistados estão plantadores de hortaliças que levavam sua produção para vender no Mercado, às vezes de barco, outras vezes em carrinhos de mão, donos de peixarias, gente que vendia galinhas vivas nas redondezas, proprietários de vendas que compravam mantimentos para revender nos bairros e pescadores que levavam o produto de seu trabalho direto para o Mercado. Também há depoimentos de freqüentadores assíduos, como o funcionário público Décio Bortoluzzi, que ainda se lembra, por exemplo, da fiambreria Dona Clara, que “tinha o melhor queijo e a melhor manteiga da cidade”. Dois oleiros contam como transportavam as peças da Ponta de Baixo até a cidade, em pequenas embarcações que precisavam de vento favorável para chegar ao destino. E Beto Barreiro, do Box 32, diz como ajudou a transformar o Mercado a partir de 1984, quando instalou ali um bar voltado para um público mais seleto e exigente que o tradicional.
“Essas duas dezenas de personagens nada representam no universo de pessoas que fizeram do Mercado Público o seu ganha-pão, mas o livro é um recorte que mostra o quanto ele representou para a cidade e o papel que ainda tem como elemento agregador, como ponto de encontro e confraternização, como ambiente que preserva muito do modo de ser do ilhéu típico”, afirmam os autores. O livro não tem a pretensão de contar a trajetória do Mercado, funcionando mais como uma seqüência de reportagens com figuras anônimas que ajudaram a contar sua história, que já tem mais de um século.
Foram ouvidos moradores de locais como Saco dos Limões, Barra da Lagoa, Santo Antônio de Lisboa, Pântano do Sul, Ponta de Baixo, Enseada do Brito e Armação de Piedade. O projeto do livro foi aprovado pela Comissão Permanente de Cultura da Fundação Franklin Cascaes e teve o patrocínio da Caixa Econômica Federal.
Mais informações com Paulo Clóvis Schmitz (fone 9992-5127) e Danísio Silva (9962-6914).