Ensaios de Júlio de Queiroz discutem o “morrer” na cultura ocidental

24/10/2008 08:45

Poeta de rara sensibilidade e vasta cultura, Júlio de Queiroz brinda seus leitores com uma série de ensaios nos quais aborda a questão da morte com uma visão despojada e holística, influenciada pelas concepções do hinduísmo e do budismo acerca do fenômeno mais intrigante da existência humana. Impresso pela Editora da UFSC, o livro Morrer – Para principiantes e repetentes será lançado no dia 29 de outubro, quarta-feira, na Biblioteca Universitária, no campus da Trindade, em Florianópolis. O lançamento será às 18h, com a presença do autor e convidados, além de professores da universidade.

Uma definição sucinta dá a idéia de como o escritor encara o objetivo deste trabalho: “Crescimento psíquico e social para o evento ‘morrer’, afastando, pela Física Quântica e seus postulados, o temor de aniquilamento final que é o grande medo, causador de todos os outros”. Ele diz que, vencida a etapa do temor da morte, “a cultura/civilização ocidental estará apta a ingressar num outro paradigma, superior à atual etapa do desenvolvimento da espécie no planeta”.

Apesar dos tabus que cercam o tema, a leitura dos ensaios é fluida e compensadora. A prática de duas décadas na formação de curadores de doentes terminais levou o autor a aprofundar os conhecimentos e a visão social do “morrer” no Ocidente, “comparando este fato psíquico-somático social com seus equivalentes nas milenares tradições orientais”, segundo suas próprias palavras.

O sumário fornece algumas pistas do que o leitor poderá encontrar no livro. O autor procura cercar o assunto de forma a esgotar sua análise, abordando, por exemplo, as influências do helenismo, do judaísmo e do progresso científico na espiritualização que envolve a morte no Ocidente. Há o “morrer” do início da cristandade, da Idade Média, do Iluminismo e da cultura de massas. A proposta contemporânea, segundo Queiroz, prioriza a ocultação do morrer e a banalização do sexo. Destacam-se no volume, ainda, a análise da morte na literatura e nas artes, da insatisfação com as propostas materialistas e religiosas do Ocidente e das possíveis decorrências do fenômeno biológico fora do tempo linear.

O autor – Júlio de Queiroz nasceu no Espírito Santo em 1926, estudou no Rio de Janeiro, em Munique e em Londres, trabalhou em órgãos federais em Brasília e no Rio de Janeiro e há 40 anos está radicado em Florianópolis. Foi assessor de governadores e secretários de Estado até se aposentar, em 1991. Desde então, ministra palestras gratuitas em hospitais, residências e asilos, voltadas ao pessoal de enfermagem e a idosos, sobre o envelhecer e o morrer.

É autor de 15 livros de contos e poesia, entre eles Baú de mascate (poemas, UFSC, 1994), As permutas e outros contos (contos, ACL, 1996) e Deuses e santos como nós” (contos, Insular, 2000). Tem curso superior em Filosofia (pela PUC/RS), foi bolsista da Fundação Alexander von Humboldt (Alemanha), possui formação monástico-beneditina e é membro da Congregação Beneditina do Brasil, além de haver fundado o Mosteiro de São Bento, em Brasília.

Sobre o livro, escreveu o monge budista Yu Lin Ho: “É o desvendar de um novo enfoque para uma humanidade desvestida de dogmas estreitos, a qual terá aprendido a não temer o futuro”. E, sobre o autor, disse o monge: “Júlio de Queiroz entreabre as portas da percepção e nos acena com um panorama tranqüilizador”.

Morrer – Para principiantes e repetentes

Júlio de Queiroz

Editora da UFSC – Série Geral

130 p. – R$ 18,00

Informações com o autor, no fone (48) 3225-8071 e e-mail jqueiroz@matrix.com.br, ou com a Editora da UFSC, pelos fones (48) 3721-9408/9605/9686.

Por Paulo Clóvis Schmitz/jornalista na Agecom