7ª Sepex: “Toda pessoa tem o direito de conhecer as grandes teorias da ciência”

Na inauguração do parque. Foto: Jones Bastos/Agecom
Membro do Conselho Nacional de Política Cultural, o físico que já foi editor científico da revista Ciência Hoje e membro de comitês editoriais de várias outras publicações científicas falou à Agecom sobre o desafio da popularização do conhecimento científico.
Arley Reis/Agecom: O apoio a museus e parques de ciência, como o que está sendo inaugurado na UFSC, é uma das frentes de trabalho de seu departamento. Como está a implantação de espaços do gênero no país?
Ildeu de Castro Moreira: Imagino que a gente tenha em torno de 40 projetos com esse caráter. Está sendo formatado um projeto grande no Amazonas e o professor Enio Candotti, da SBPC, se transferiu para lá para acompanhar esse processo. Atualmente temos o Museu Paraense Emilio Goeldi , mas ainda não contamos com um museu de grande porte de história natural da Amazônia. Estamos também discutindo há muitos anos o museu de história natural de Brasília – estes dois são de porte maior.
Mas temos diversas outras iniciativas em capitais e também em cidades do interior – interior de São Paulo, do Nordeste. Tanto que temos dentro do plano 2007-2010 do Ministério de Ciência e Tecnologia uma linha específica para apoio a museus de ciência. Também temos procurando ampliar estes financiamentos buscando parcerias com o Ministério da Educação, a iniciativa privada e fundações de apoio, nos estados. Mas é importante também o pessoal de universidades se articular para construir boas propostas, precisamos de boas propostas.
Arley Reis/Agecom: Apesar do crescimento expressivo destes espaços nos últimos anos, há levantamentos que indicam que um número muito pequeno de brasileiros visita algum centro ou museu de ciências a cada ano. Em outros países a relação com estes espaços é mais intensa?
Ildeu de Castro Moreira: Na pesquisa que fizemos no final de 2006 no país, somente 4% das pessoas disseram que já foram a um museu ou parque de ciência. Claro que há um grau de incerteza grande neste número, mas na Europa o valor é cinco vezes maior. Nos países nórdicos, a educação informal também é muito importante, muito valorizada, para renovar a escola, para criar uma cultura científica. E por trás dessa pesquisa há outro dado importante: quando perguntamos ao brasileiro porque ele não vai a um local desse tipo, dois terços responderam porque não têm acesso. Ou seja, as pessoas não vão porque não querem, mas porque não existe na região, porque é muito longe.
Arley Reis/Agecom: A concentração de museus em algumas áreas é também reflexo da desigualdade na distribuição da riqueza, dos recursos em ciência e tecnologia e dos bens educacionais. O que perde uma pessoa que não tem acesso a estes espaços?
Ildeu de Castro Moreira: Esses espaços são instrumentos importantes para a criança, para o jovem, para a família construir uma relação com a ciência, para que esse assunto faça parte das discussões em casa. Os professores também encontram um espaço para renovação. As pessoas não se dão conta, mas o museu mais visitado no país não é um de artes, mas o de ciência da PUC, do Rio Grande do Sul. E isso mostra o potencial que temos. Aqui em Florianópolis, por exemplo, além de atender a população local, a implantação de um museu como está planejado para o aterro da Baía Sul será importante para o turismo, é um chamariz, uma alternativa à praia.
Arley Reis/Agecom: Com o início do funcionamento do Grande Colisor de Partículas, a física e a ciência ganharam espaço considerável na mídia. Qual sua avaliação dessa cobertura e sobre a presença da ciência na mídia de forma geral?
Ildeu de Castro Moreira: A mídia brasileira em geral cobre a ciência como notícia factual. A TV cobre até bastante temas de ciência e tecnologia. A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, por exemplo, sai nos jornais, a Sepex de vocês também. Mas é sempre uma cobertura muito factual. O que a gente tem pouco são programas continuados de ciência. Hoje temos também o uso do rádio e chegamos a ter 30 a 40 programas de ciência nesse veículo, mas ainda precisamos usar mais o rádio, um grande veículo para debate de temos controversos, por exemplo.
De maneira geral a mídia abre espaço, mas muito menos do que poderíamos ter. A pesquisa que fizemos mostra que as pessoas têm muito interesse nos assuntos de ciência, empatando com esporte. Mas isso não se reflete na mídia. Nós ainda precisamos fazer um grande esforço. Com a TV Brasil vamos criar um programa num horário em que as pessoas assistam, e não em horários marginalizados, como aos finais de semana, às 7 da manhã.
Precisamos ter também programas interessantes. Não adianta fazer programa só de cientista falando, que às vezes fica aborrecido. É um ponto em que as universidades poderiam ajudar muito, criando cursos de jornalismo científico. As escolas de comunicação também precisam abrir mais espaço para esse assunto – e os cientistas também devem fazer cursos de comunicação. A universidade tem um papel importante a cumprir nesse sentido.
Arley Reis/Agecom: Quais são hoje as principais motivações para a popularização da ciência e tecnologia?
A ciência está cada vez mais permeando nossa vida. A tecnologia que temos em nossas casas é síntese de muitas importantes aços no mundo da ciência, da pesquisa, e é importante que as pessoas tenham conhecimento básico sobre estas questões. Estamos cada vez mais formando doutores e alcançando bons números de publicações em periódicos internacionais, mas isso não basta.
Precisamos elevar em média o conhecimento da população, para colaborar com a formação de uma visão de mundo. As crianças, os jovens têm direito de conhecer as grandes teorias científicas. Estamos esse ano comemorando os 150 da Teoria da Evolução, um conhecimento fundamental para entendimento da vida no planeta. Toda pessoa tem o direito e deve ter a oportunidade de conhecer as grandes teorias da biologia, da física, da matemática. A divulgação também tem o papel de atualizar a população e colaborar com sua visão crítica, com a construção de uma cultura científica.
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