SEMANA OUSADA DE ARTES: Filho de João Goulart assiste estréia do filme “Jango em três atos”
A Universidade Federal de Santa Catarina promoveu nesta terça-feira (23.09) a estréia oficial de “Jango em três atos”, documentário produzido por Deraldo Goulart sobre a vida do ex-presidente João Goulart. A exibição fez parte da Semana Ousada de Artes, realizada em parceria entre UFSC e Udesc e que ocorre até o dia 26, sexta-feira, nos campi das duas universidades. Com a presença do diretor e de João Vicente Goulart, filho de Jango, a sessão começou às 14h e foi seguida por um debate sobre o filme, que retoma a discussão sobre a misteriosa morte do político.
O ex-presidente, deposto pela ditadura militar em 1964, morreu em 1976 na cidade argentina de Mercedes, em função de um ataque cardíaco. A versão oficial, no entanto, é contestada por depoimento de um ex-agente do serviço secreto uruguaio, Mario Neira Barreiro, que afirma que Jango foi envenenado a pedido do governo brasileiro. Barreiro confessa ter participado do crime e sustenta que um comprimido com substâncias tóxicas teria sido colocado dentro dos remédios que João Goulart tomava para controlar problemas cardíacos. O corpo dele foi enterrado na cidade de São Borja (RS) sem ter sido submetido a uma autópsia.
Em sua fala, mostrada no documentário, o ex-agente admite ainda ter espionado durante quatro anos a família de Jango no Uruguai, país onde o ex-presidente se exilou após o golpe militar. Dá detalhes também sobre a Operação Escorpião, criada pelo serviço de inteligência uruguaio para controlar os exilados. Mario Neira foi filmado na penitenciária de alta segurança de Charqueadas (RS), onde se encontra preso acusado de assalto a banco em território gaúcho.
“Jango em três atos” levou dois anos para ser finalizado, após a coleta de 68 depoimentos, que resultaram em aproximadamente 140 horas de gravação. De acordo com o diretor – que, apesar do sobrenome, não possui parentesco com Jango –, todas as declarações farão parte de um acervo do Instituto Presidente João Goulart e futuramente serão disponibilizadas no site da instituição.
Lentidão da justiça – Durante o debate, mediado pelo jornalista político Celso Martins no auditório da reitoria da UFSC, o filho de Jango agradeceu ao convite de Zeca Pires, diretor do Departamento de Arte e Cultura da UFSC, para participar do evento. Elogiou também o documentário, que assistiu pela primeira vez, e enfatizou a importância do esclarecimento sobre as reais circunstâncias que levaram à morte de seu pai. “A luta pela verdade é uma obrigação de todos. O povo que não conhece seu passado pode tropeçar no seu futuro”, afirmou.
João Vicente Goulart falou ainda sobre a lentidão da justiça brasileira. “Quando se trata de uma investigação em nome da história, é essa morosidade. Os processos só vão para frente quando há interesses eleitorais ou corporativos”. Ele lembrou que as evidências de um possível envenenamento são suficientemente fortes para justificar o esforço e que Jango era constantemente vigiado pelo governo. “Agentes infiltrados na casa da família confiscaram cartas enviadas por autoridades políticas a meu pai. Até cadastros escolares dele sumiram da escola onde estudou durante a infância”, informou. “Se eles roubaram cartas e apagaram registros, não poderiam ter trocado comprimidos?”, pergunta.
João Goulart foi eleito vice-presidente em 1960 e assumiu a presidência no ano seguinte, após a renúncia de Jânio Quadros. Durante seu governo, o país passou por uma grande crise financeira e enfrentou altos níveis de desemprego e inflação. Para promover o desenvolvimento, ele lançou o Plano Trienal, elaborado pelo economista Celso Furtado. Anunciou também as reformas agrária, tributária, administrativa, bancária e educacional e aprovou leis que garantiam benefícios aos trabalhadores, mas o plano sofreu forte oposição e foi abandonado. Em 1964, Jango anunciou a nacionalização de refinarias de petróleo e a desapropriação de terras para realizar a reforma agrária. No mesmo ano, no entanto, foi deposto pelos militares, que temiam a instauração de um regime comunista no Brasil.
Por Isis Martins / Bolsista de Jornalismo na Agecom























