SEMANA OUSADA DE ARTES: documentário mostra vida, governo e exílio de João Goulart

19/09/2008 12:46

As circunstâncias obscuras em que se deu a morte do ex-presidente João Goulart, deposto pelos militares que assumiram o poder no Brasil em 1964, são o mote do documentário “Jango em três atos”, de Deraldo Goulart, que será exibido às 14h de terça-feira, dia 23, dentro da Semana Ousada de Artes, no auditório da Reitoria da UFSC. A sessão será seguida de debate com a presença do filho de Jango, João Vicente Goulart, que ainda luta na justiça para ver reparados os danos causados à família nos anos posteriores ao golpe militar. A Semana Ousada, organizada pela Secretaria de Cultura e Artes da UFSC e pela Udesc, vai de 22 a 26 de setembro e inclui dezenas de atrações nas áreas de artes visuais, cinema, teatro, dança, música, moda e filosofia.

O ex-agente Mario Neira Barreiro, do serviço secreto uruguaio, admitiu ter espionado durante quatro anos a família de João Goulart no exílio. Ele se encontrou com João Vicente e revelou detalhes da Operação Escorpião, criada pelo serviço de inteligência do Uruguai, país para onde Jango se mudou após o golpe de 64, para controlar os passos dos exilados. No filme, o ex-agente – preso na penitenciária de alta segurança de Charqueadas (RS) acusado de assalto a banco em território gaúcho – diz que Jango foi morto a pedido do governo brasileiro. Ele sugere em depoimento que o ex-presidente teria sido envenenado com um comprimido colocado dentro dos remédios controlados que tomava por causa de problemas cardíacos.

Eleito vice-presidente em 1960, Jango soube da renúncia de Jânio Quadros quando estava em visita à China, o que reforçou o argumento de seus opositores de que se encontrava a serviço do comunismo internacional. Em documento exclusivo só agora revelado, o primeiro mandatário presidencialista do Brasil diz que a saída de Jânio foi o momento mais dramático de sua vida. Jango morreu em 1976 na cidade Argentina de Mercedes e enterrado na cidade gaúcha de São Borja, onde nasceu, mas a autópsia do corpo nunca chegou a ser feita. Um pouco antes, em carta enviada aos filhos que moravam em Londres, ele disse suspeitar que era vigiado e que tinha medo de morrer.

Com base em farta documentação liberada recentemente pelo governo brasileiro, a TV Senado produziu o documentário “Jango em três atos”. Ali, além da vida, o governo e o exílio de João Goulart, aparecem depoimentos que mostram como as ditaduras agiram de modo coordenado na América do Sul. Antes desse, o diretor Deraldo Goulart dirigiu os documentários “Niemeyer por Niemeyer”, “O tempo de Érico” e “Getúlio do Brasil”.

Outras atrações – A programação cinematográfica da Semana Ousada de Artes inclui ainda a exibição do documentário “Olhar de um cineasta”, de César Cavalcanti, sobre a obra de Marcos Farias, diretor catarinense que ajudou a criar o movimento Cinema Novo, e uma série de outros curtas-metragens, vídeos, debates e intervenções. “Cruz e Sousa, o poeta do Desterro”, de Sylvio Back, é um dos filmes incluídos na mostra, que programou ainda a exibição de “Outra memória” (de Éverson Faganello), e “Seo Chico, um retrato” (de João Rafael Mamigonian).

Por Paulo Clóvis Schmitz / Jornalista da Agecom