Rui Castro enfatiza que escrever livros possibilita mais espaço e tempo para apurar
A obra do autor
Ele se diz sem emprego há 21 anos. Ou melhor, trabalha para a Bossa Nova, praia de Ipanema, Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmem Miranda. Ruy Castro, convidado desta terça-feira, dia 16 de setembro, na VII Semana de Jornalismo, conta que escrever livros possibilita mais espaço e tempo para apurar.
Castro passou 20 anos dentro das redações. Trabalhou em veículos como Pasquim, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Veja, Playboy, Isto É e Manchete. Hoje, o jornalista ainda colabora com alguns jornais e é conhecido pelas biografias que fez. E que não confundam suas obras com livros-reportagens, gênero que considera oportunismo e picaretagem. Isso porque, geralmente, livros-reportagem surgem quando acontece algo no país, como a morte de Tancredo Neves, e “alguém faz nas coxas uma cozinha de matérias de jornal e lança um livro-reportagem”. Castro diz que não tem como comparar com o que ele faz, pois “é um trabalho de dois, três ou cinco anos: o tempo que demorei nos meus livros.”
Quando ele diz que trabalha para seus biografados, quer dizer que eles o escolheram. Nelson Rodrigues veio de uma obsessão, Garrincha da vontade de falar de alcoolismo com um personagem amado pelos brasileiros e Carmem Miranda surgiu em um banho, quando pensava em parar de escrever biografias. O importante é a vida cheia de altos e baixos, que permitem uma narrativa cativante.
Grande parte da apuração do jornalista é através das fontes, que ele define como sua equipe. Ele explica que passou um ano atrás de uma pessoa que presenciou um acidente de carro no qual Garrincha estava envolvido. Só depois de muita gente entrevistada e quando considera que sabe mais sobre a vida do personagem do que qualquer outro, Castro senta para escrever. “Mas aí já fiz tanta coisa que o livro está quase todo escrito.”
Biografia de pessoas vivas, Castro não faz. Afinal, “dá muito problema, pois o biografado vai mentir pra você e obrigar os amigos a fazerem o mesmo”. E uma biografia de Ruy Castro? “Só por cima do meu cadáver.”
Por Marina Ferraz / Assessoria da VII Semana do Jornalismo da UFSC