O suicídio como notícia é tema de mesa-redonda na Semana de Jornalismo da UFSC

17/09/2008 16:38

Noticiar sim, mas como?

Um estudo realizado pelo sociólogo Émile Durkheim na Europa, ao final do século XIX, revelou que o número de suicídios e o índice de loucura eram sempre inversamente proporcionais. Mostrou também que as pessoas se matavam em momentos em que a vida acontecia intensamente, como no verão ou durante o dia. No ano passado, pelo menos uma pessoa se matou por dia em Santa Catarina. No entanto, “o suicídio normalmente não é informado, mas sim revelado de outras formas”, explicou Arthur Dapieve, na mesa de discussão “O suicídio como notícia”, da VII Semana do Jornalismo, nesta terça-feira, dia 16.

Segundo Dapieve, o tratamento dessas notícias pelo jornalismo pode acontecer de três formas, por omissão, eufemismo, ou justificado por doença mental ou desespero absoluto. Laura Coutinho e Marcelo Ferla, os outros dois convidados da mesa, publicaram em 2008 reportagens relacionadas a casos de pessoas que se mataram. As matérias têm abordagens muito diferentes, mas trouxeram mais uma vez à tona a discussão, que continua um tabu: como noticiar casos de suicídio?

“O jornal não abordar seria, a meu ver, omissão”, afirmou Coutinho. A série de reportagens da jornalista para o Diário Catarinense optou pelo viés da saúde pública, já que o estado, de 1995 a 2004, ocupou a segunda colocação no número de suicídios e não há políticas públicas voltadas para esses casos. A matéria de Ferla, publicada na revista Rolling Stone, trata-se de um perfil de um garoto de 16 anos, músico, que havia cometido suicídio há um ano e meio. A preocupação do jornalista foi “não glamourizar, não dar recados sobre como identificar possíveis suicidas, ou culpar a internet. A questão envolve muitas outras coisas”.

Arthur Dapieve

Arthur Dapieve

Na realidade, para Dapieve, o suicídio é um fenômeno social e que carregas estigmas. Mas tanto os parentes quanto profissionais da saúde reconhecem que falar pode ser a melhor saída. Coutinho falou da importância que o guia da Organização Mundial de Saúde (OMS) – organizado para a mídia de como tratar o assunto – teve em durante seu trabalho. Ela se preocupou em não divulgar o nome, detalhes da morte, nem as desconfianças com relação ao uso de drogas ou à sexualidade do caso de suicídio que utilizou para ilustrar as reportagens.

No caso de Ferla, houve a necessidade de um cuidado com o limite ente a proximidade com a fonte e seu trabalho, para não haver exposição da família ou comprometimento da informação. O jornalista também fez questão de entrevistar todas as pessoas que considerava essenciais para a composição da matéria, como os pais, a única amiga e os amigos do exterior, através de chats. “O fato de tentar não julgar as pessoas envolvidas sempre foi o norte da minha matéria.”

Por Marina Veshagem / Assessoria da VII Semana do Jornalismo da UFSC