O desafio de pensar a cultura

09/09/2008 11:35

Transformar a Universidade Federal de Santa Catarina num pólo aglutinador, produtor e divulgador da cultura, com ações que repercutam dentro e fora do Estado, é o desafio que impôs a si mesma a professora Maria de Lourdes Alves Borges, nomeada em maio para dirigir a recém-criada Secretaria de Cultura e Arte da UFSC (SeCArte). Sua equipe vem trabalhando para tornar o campus um ambiente culturalmente vibrante, com projetos e eventos de boa qualidade, que façam da UFSC uma “universidade cultural”, de acordo com o desejo manifestado desde a campanha pelo reitor Alvaro Toubes Prata.

Com doutorado e dois pós-doutorados feitos na Europa, a secretária traz sobretudo de Berlim, onde morou dois anos, uma visão de arte afinada com a dos grandes pólos mundiais de produção e discussão da cultura. Por isso, tem a preocupação de mesclar os eventos – como a Semana Ousada de Arte, programada para o período de 22 a 26 de setembro – com a reflexão sobre cultura, por meio de debates sobre estética, arte contemporânea e as interfaces entre a filosofia e a literatura.

Filósofa, com longos estudos feitos sobre Hegel e Kant, Maria de Lourdes olha o mundo a partir de uma perspectiva estética instigante, que pretende transferir para a rotina de trabalho prático à frente da SeCArte. “Antes, eu pensava a arte; agora, auxilio a produzir”, diz ela. Contudo, nem a grande bagagem acadêmica a impede de entender, por exemplo, que uma ópera do século XVII pode conviver em harmonia com as criações contemporâneas. “Em Berlim, aprendi a explorar os limites da arte”, afirma. “Aqui, espero ajudar a mostrar que a arte catarinense, por exemplo, tem expressões relevantes, mas que não aparecem como deveriam”.

Crítica e contemporaneidade – Para dar vazão a essa produção, a Secretaria criou uma série de eventos de grande porte, a começar pela Semana Ousada de Arte, em parceria com a Udesc e com o apoio da Fundação Catarinense de Cultura. Artistas contemporâneos como Fernando Lindote, Flávia Fernandes e Antônio Vargas são presenças garantidas. Haverá uma oficina de “portunhol selvagem” – “uma lengua bizarra, transfronteriza, rupestre, feia, bella, diferente”, na definição do poeta Douglas Diegues, falada na fronteira do Brasil com o Paraguai. O professor Sérgio Medeiros, do CCE/UFSC, vai provocar uma discussão sobre “o corpo pós-humano”, e os convidados Vinícius Figueiredo e Márcia Tiburi falarão de estética e arte contemporânea. E haverá performances do Erro Grupo, enquanto o pianista Diogo de Haro interpretará peças do compositor Georg Ligetti.

A atração seguinte será a Semana de Artes Cênicas, de 13 a 17 de outubro, que deverá se transformar em festival nacional em 2009. Entre 4 e 7 de novembro, o Salão Filosófico-literário vai reunir pesquisadores e estudiosos da obra do filósofo Jürgen Habermas. A SeCArte também apóia a Semana do Cinema do CCE, a finalização do filme “A antropóloga”, de Zeca Pires, e o Florianópolis Audiovi-sual do Mercosul (FAM), que no próximo ano deverá trocar o CIC pelo Centro de Cultura e Eventos da UFSC. Outro objetivo é realizar a Semana da Ópera, em parceria com entidades da área musical da Capital.

Maria de Lourdes: eventos com reflexão sobre cultura

Maria de Lourdes: eventos com reflexão sobre cultura

Também está nos planos da Secretaria a ampliação do palco do Centro de Cultura, que precisa de mais profundidade e de urdimentos para receber todos os tipos de espetáculos. O Museu Universitário passa por reformas para poder abrigar exposições permanentes do acervo – “temos ali obras de grande valor antropológico e as peças deixadas por Franklin Cascaes”, diz a professora Maria de Lourdes. Além disso, o trabalho da SeCArte é reforçado por uma unidade do Pontão da Cultura, instrumento de irradiação da produção cultural criado pelo MinC, cujo coordenador é o professor Clóvis Montenegro de Lima.

Para executar o que foi planejado, a secretária tenta superar as limitações financeiras da UFSC buscando recursos das leis de incentivo, baseadas na renúncia fiscal. “Boas idéias e pessoas preparadas nós temos, e o financiamento será facilitado a partir do interesse político e acadêmico, pela vontade e disposição do reitor Alvaro Prata”, diz ela.

Estrutura da SeCArte – A equipe de administradores de Maria de Lourdes Alves Borges na Secretaria é composta por Zeca Pires na direção do Departamento Artístico Cultural (DAC), pelo diretor da Editora da UFSC (EdUFSC), o também filósofo Luiz Henrique de Araújo Dutra, pelo diretor do Centro de Cultura e Eventos, Luiz Roberto Barbosa, por Tereza Fossari no Museu Universitário, por Clóvis Montenegro de Lima no Pontão da Cultura (ele é responsável também pelo Serviço de Apoio a Projetos), por Francisco do Vale Pereira no Núcleo de Estudos Museológicos (Nemu) e por Joi Alves no Núcleo de Estudos Açorianos (NEA) e no Projeto Fortalezas.

Por Paulo Clóvis Schmitz/ Jornalista na Agecom