Centro de Filosofia e Ciências Humanas recebe mostra fotográfica ´Separação`

25/09/2008 12:28

Abre nesta quinta-feira, 25/9, a mostra fotográfica ´Separação`, de Rosa María Blanca. O trabalho pode ser visitado na galeria da ponte, do Núcleo de Antropologia Visual e Estudos da Imagem (NAVI), no corredor entre os blocos A e D, no segundo andar do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH). A exposição ganhou o prêmio de Melhor Conjunto no Seminário Fazendo Gênero 8, evento que reuniu cerca 2.500 pesquisadores na UFSC no mês de agosto. A mostra acontece durante as duas próximas semanas.

Composto por dez imagens da própria autora, o conjunto traz fotos que fazem questionamentos típicos da mulher moderna, focando no processo de separação de um relacionamento amoroso. Trazem à tona o tema gênero e o apresentam junto a questões como nacionalidade, classe e sexualidade. Dessa forma, surgem perguntas relacionadas a filhos, jornada dupla de trabalho e o papel da mulher na família e na sociedade. Rosa Maria Blanca é artista plástica e doutoranda do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar da UFSC.

Por Letícia Arcoverde / Bolsista de Jornalismo na Agecom

Saiba Mais:

Análise de Felipe Bruno Martins Fernándes, acadêmico do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar/UFSC:

Uma narrativa de si é posta em jogo na exposição intitulada “Separação”, da artista plástica Rosa María Blanca (Discente, Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar/UFSC). Se, por um lado, Rosa Blanca ilustra uma mulher em linhas retas e curvas que viveu um relacionamento amoroso; por outro lado, a artista transgride os fundamentos desse amor em vários aspectos.

Ao fazer-se visível e passível de interpretação por outros no jogo “imagem-enunciado” feito com o próprio corpo, ela expõe e problematiza as mazelas do rompimento. Nesse jogo, não fosse pela sua arte, considerar-se-ia perdedora, como tantas brasileiras!?

Nestas dez imagens que trazem à cena uma parede envelhecida, olhos atentos e cansados que nos miram diretamente, e dedos em movimento; aparentemente suplicam, reivindicam ou acusam certos pertencimentos e exclusões.

Ancorada em princípios do feminismo, como na ausência de neutralidade nas relações, e na fala de si como parte fundante do pensamento, Rosa Blanca percorre desde o questionamento da dupla jornada de trabalho vivida pelas mulheres, até o esquadrinhamento da disciplina a que são submetidas mulheres em processos de divórcio.

Rosa Blanca se cala para ter uma separação amigável e, neste ato de não dizer, de não colocar (a dor) em narrativa, demonstra que se é só e o que funda o ser é a falta, ou a vontade de potência. Os espaços tampouco são neutros, como mostra a artista, mas cheios de sentido em que, aos estrangeiros são dados postos singulares.

A diferença materializa-se na dor de ser mãe, mulher, estrangeira, e não ter posse ou autonomia para circular com seus filhos na cidade (global). Trazendo a tona essas intersecções de gênero, etnia, classe e sexualidade, Rosa Blanca tece com agulhas grossas a experiência de viver segundo valores e rituais esdrúxulos, na solidão que nos é disponível nesse tempo descontínuo e hostil.