Antropólogo Sílvio Coelho dos Santos é convidado do Círculo de Leitura

02/09/2008 09:49

Foto: Jones Bastos

Foto: Jones Bastos

Autor de seis livros sobre a questão indígena no Brasil, o antropólogo Sílvio Coelho dos Santos é o convidado da edição de setembro do Círculo de Leitura, programada para às 17h de quinta-feira, dia 4, no Espaço Cruz e Sousa da Editora da UFSC, na Trindade. Aposentado como professor universitário, ele mantém o senso crítico que sempre o caracterizou na defesa dos interesses dos povos indígenas e da justiça social. No Círculo, ele falará sobre suas leituras, os autores que mais cultua e o trabalho de décadas feito junto a povos indígenas de todo o Brasil.

Sílvio Coelho dos Santos tem graduação em História pela UFSC, fez especialização em Antropologia Cultural e Sociologia Comparada na Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutorado em Ciências Humanas (Antropologia) na USP. Pesquisador sênior do CNPq, atuou ou continua militando em entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Associação Brasileira de Antropologia (da qual foi presidente), Comissão Catarinense do Livro, Academia Catarinense de Letras, Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e universidades do Brasil e Argentina.

Suas linhas de pesquisa privilegiam as relações interétnicas no sul do Brasil, educação e sociedades tribais, os povos indígenas e o Direito e grandes projetos de desenvolvimento (em especial as hidrelétricas) e os povos indígenas. Boa parte de seus livros aborda essa temática: A integração do índio na sociedade regional, Índios e brancos no sul do Brasil: a dramática experiência dos Xokleng, Educação e sociedades tribais, O índio perante o Direito e Povos indígenas e a Constituinte.

Também publicou Nova história de Santa Catarina, Memória do setor elétrico na região sul e São Francisco do Sul – muito além da viagem de Gonneville. Em 2007, lançou Ensaios oportunos, com textos sobre temas diversos, como a ameaça atômica, o papel social das universidades, a geração de energia no sul do Brasil e seus impactos sociais e os desafios da sustentabilidade da Ilha de Santa Catarina.

O CÍRCULO

O Círculo de Leitura é um projeto que permite ao convidado e aos presentes discutirem informalmente sobre os livros que estejam lendo, as leituras do passado e as influências de outros autores sobre o seu trabalho. Escritores e jornalistas como Oldemar Olsen Jr., Fábio Bruggemann, Inês Mafra, Mário Pereira, Maicon Tenfen, Cleber Teixeira, Dennis Radünz, Rubens da Cunha, Renato Tapado, Raimundo Caruso, Nei Duclós, Marco Vasques e Mário Prata foram alguns dos participantes das etapas anteriores do projeto.

BREVE ENTREVISTA

Quais foram as suas primeiras leituras e que lembranças guardou delas?

Sílvio Coelho dos Santos – Minhas leituras iniciais foram os gibis, seguidos pelos livros de aventuras, como os da coleção Terramarear, Tarzan e outros neste gênero. Nos fins de semana, trocava gibis com os amigos no cinema, velha prática entre a criançada. Mesmo numa casa de poucos livros, era estimulado a ler pela mãe. No quinto ano primário, fui escolhido para redigir o jornalzinho do colégio (G. E. Dias Velho), e nessa função tinha contato freqüente com o diretor da Imprensa Oficial do Estado, que funcionava na rua Tenente Silveira. Lá, eu e meus colegas ganhávamos muitos livros. Era uma época de declamações, de leituras de Monteiro Lobato, e esse ambiente – e o seguinte, no ginásio – estimulou meu contato com a área de Ciências Humanas, que acabei abraçando mais tarde.

A opção pela antropologia ajudou ou inibiu um contato mais íntimo com a literatura?

Sílvio – Sempre li muito, mas das aventuras dos livros passei para a aventura das expedições antropológicas, das pesquisas de campo. Minhas leituras, por razões óbvias, tenderam para a área da antropologia, e quando lia textos mais leves, para me distrair, optava por uma literatura mais comprometida socialmente. Foi assim que devorei os livros da primeira fase de Jorge Amado, quando este tinha uma postura crítica e era filiado ao Partido Comunista. Um de meus gurus é Darcy Ribeiro, que sempre praticou uma linha mais aberta na antropologia, em sua tentativa de interpretar o Brasil.

Falando em literatura, quais são seus autores prediletos?

Sílvio – Na literatura brasileira, gosto dos clássicos, como Guimarães Rosa, e em Santa Catarina busquei textos que me mostrassem o lugar que eu estava pisando, o que ocorre até hoje. Também leio os amigos, como Almiro Caldeira, morto no ano passado, do qual a EdUFSC vai lançar no próximo dia 6 o romance O lume da madrugada. Outro tema que sempre me atraiu foi o do Contestado, por meio de autores como Maurício Vinhas de Queiroz, que é excepcional, e Guido Wilmar Sassi, um dos melhores do Estado na área da ficção. Há pouco, li Paulo Pinheiro Machado, que organizou um volume com leituras contemporâneas do episódio do Contestado. Também acabei de ler 13 Cascaes, com contos de autores catarinenses sobre a vida e obra do folclorista Franklin Cascaes.

Qual foi a maior lição que tirou de sua militância na antropologia?

Sílvio – Vivemos numa sociedade colonialista, violenta e que não respeita os que são desprovidos de recursos econômicos e representação política. Se a população negra é tradicionalmente desprestigiada e nunca se liberta, com os índios é pior ainda. Um exemplo de intransigência são as resistências às políticas de ações afirmativas dentro da própria universidade. Como somos uma extensão da sociedade, é possível ter assim uma dimensão do problema. Lembro-me de que nos anos 40 a Ilha de Santa Catarina era mais solidária. Na época, os açorianos tradicionais que pescavam tainhas sempre mandavam às viúvas e às famílias pobres o seu quinhão de peixe. Hoje, isso não existe mais. Quem sai da universidade, por exemplo, pensa somente na carreira e no dinheiro que vai ganhar, sem qualquer compromisso social.

Contatos com Sílvio Coelho dos Santos podem ser feitos pelo telefone (48) 3224-3166.