Especial Pesquisa: Departamento de Nutrição colabora com avaliação da obesidade infantil em Santa Catarina
Ele tem 60kg e mede um metro e cinqüenta. Se fosse um adulto, estaria apenas um pouco acima do peso normal. Mas sendo esse o peso de um menino de 12 anos, com altura normal para a sua idade, trata-se de mais uma criança obesa. O problema atinge cerca de 10% das crianças brasileiras, estima a Sociedade de Pediatria de São Paulo. E as cantinas escolares desempenham um papel importante nesse contexto.
Crianças que têm acesso a alimentos com alto teor de gordura e pouco nutritivos na escola consumirão também mais alimentos não saudáveis durante o resto do dia. Estudo realizado pela Universidade de Minnesota mostra que uma das maiores fontes de gordura e açúcar na dieta das crianças vem dos lanches escolares. É a tentação dos chicletes, pirulitos, balas, salgadinhos, alimentos fritos, refrigerantes.
Por isso, a proibição da venda desses produtos calóricos e de poucos nutrientes é o foco da Lei das Cantinas, aprovada em junho de 2001 na cidade de Florianópolis – e seis meses mais tarde ampliada para todo o estado de Santa Catarina. “Florianópolis foi a primeira cidade a ter essa iniciativa”, explica Gilberto Veras Caldeira, professor do Departamento de Nutrição da UFSC e idealizador da lei.
A idéia surgiu dentro do Conselho de Alimentação Escolar do município. Agora, como parte do Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição do Escolar de Santa Catarina (CECANE/SC), iniciativa vinculada ao Programa Nacional de Alimentação Escolar e ao Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação, um estudo coordenado pelo mesmo professor está avaliando se a lei está sendo cumprida nas escolas e qual o grau de obesidade dos estudantes. O estudo também traçará um panorama sobre como é a alimentação das crianças catarinenses.
“É o trabalho mais abrangente em alcance geográfico já realizado em Santa Catarina”, explica o coordenador. Realizado desde a metade do ano passado, abrangeu aproximadamente sete mil alunos de oito cidades: Florianópolis, Blumenau, Joinville, Jaraguá do Sul, Criciúma, Chapecó, Joaçaba e Lages. O trabalho de coleta de dados foi realizado por oito pesquisadores divididos em duplas, com cada dupla sendo responsável por duas cidades. Há também três alunas do Mestrado em Nutrição produzindo dissertações baseadas nas informações coletadas. Os dados estão sendo passados para o computador para serem analisados e resultarem em trabalhos científicos. Vieira estima que os resultados começarão a ser divulgados até o final do ano.
A pesquisa foi estruturada em três abordagens. A listagem de quais produtos são vendidos na cantina servirá para conferir se as regulamentações vêm sendo obedecidas A avaliação nutricional dos escolares, obtida por meio da medição de dados antropométricos (altura e peso para a obtenção do IMC, índice de massa corporal, medida que calcula o grau de obesidade de uma pessoa), indicará se as crianças de Santa Catarina estão abaixo ou acima do nível de obesidade infantil nacional. E o estudo sobre o consumo alimentar diário desses estudantes servirá para descobrir quais os seus hábitos. Para o levantamento, as crianças apontaram em uma cartela com desenhos quais os alimentos consumidos em cada refeição. Já seus pais receberam um questionário que perguntava qual a variedade de alimentos disponível em casa.
Outro projeto desenvolvido a partir do CECANE/SC envolve a avaliação dos Conselhos de Alimentação Escolar. A idéia do projeto, aprovado no final do ano passado, é investigar o funcionamento destes órgãos em Santa Catarina. Quatro pesquisadores atuam coletando dados sobre os conselheiros de cada CAE para avaliar competências, como a formação e quais áreas já trabalharam. São sete membros no conselho de cada cidade: dois professores de escolas do município, dois pais de alunos, uma vaga para o poder executivo (normalmente alguém da Secretaria de Educação), uma do poder legislativo e um representante da sociedade civil (que pode ser, por exemplo, um nutricionista).
Para receber a verba da merenda escolar, todo município deve ter um Conselho de Alimentação Escolar. Esses setores são responsáveis pela fiscalização e controlar da aplicação dos recursos destinados à merenda escolar. Também cabe ao conselho elaborar o cardápio das merendas escolares e sugerir leis relacionadas com a alimentação escolar. A atuação destes setores será avaliada em 154 dos 293 municípios de Santa Catarina. É mais uma forma da UFSC colaborar com a qualidade da alimentação das crianças catarinenses.
Saiba Mais:
O Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição Escolar de Santa Catarina (Cecane/SC)
O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) começou a implantar o Cecane em 2007. Participaram cinco cursos de nutrição de universidades federais: UFRGS, UNB, UFBA. UFPar e Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP Baixada Santista). Em 2008 passaram a integrar o programa a UFSC, a Universidade Federal de Outro Preto e a Universidade Federal de Pernambuco.
Em Santa Catarina a UFSC recebeu R$ 784.131,75 para atuar em quatro linhas durante o ano de 2008. A coordenação geral do projeto, no qual estão envolvidas mais de 40 pessoas, é do professor Francisco de Assis Guedes de Vasconcelos, do Departamento de Nutrição da UFSC.
Mais informações com o professor Francisco de Assis Guedes de Vasconcelos, do Departamento de Nutrição da UFSC, (48) 3721 9784 / fguedes@ccs.ufsc.br
Por Thiago Santaella / Estudante do Curso de Jornalismo da UFSC / Para o Especial Pesquisa
Leia mais sobre pesquisas na série produzida pela Agecom:
– UFSC comprova que prejuízos no olfato precedem sintomas clássicos na doença de Parkinson
– Universidade desenvolve simuladores para Petrobras
– UFSC implanta ´embrião` de um Museu de Ciência
UFSC avança na busca de células-tronco em materiais alternativos
– Finep aprova 4,6 milhões para modernização da infra-estrutura de pesquisa na UFSC
– Números confirmam destaque da UFSC no trabalho cooperativo com empresas
– Estudo gera instrumento para avaliação nutricional e sensorial de bufês de café da manhã