Doutoranda do Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC conquista Prêmio Câmara Cascudo de Folkcomunicação

21/08/2008 09:50

Rendeiras são personagens da reportagem

Rendeiras são personagens da reportagem

Por meio das histórias de Franklin Cascaes, a jornalista Karina Janz Woitowicz resgatou em uma reportagem as bruxas que perduram no imaginário das gerações antigas da Ilha de Santa Catarina. A matéria, produzida segundo ela mesma sem muita pretensão, lhe rendeu o Prêmio Câmara Cascudo de Folkcomunicação. O concurso integra as atividades do 31º Congresso da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Itercom), que ocorrerá entre 2 e 6 de setembro, em Natal (RN). O Intercom é um dos mais importantes eventos nacionais na área de Comunicação.

A aluna do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC, graduada em Comunicação Social e com mestrado na área de ciências da comunicação, produziu um material sobre a cultura popular de Florianópolis, no qual abordou principalmente as histórias e memórias da bruxaria. Baseada nos relatos de Franklin Cascaes, Karina passeia pelo cotidiano dos autênticos “manés da ilha” e em sua reportagem também reconstrói a forma como essas gerações viviam. A crença em bruxas, que são uma mistura enigmática entre o sagrado e o profano, veio junto com as tradições açorianas por volta de 1750, e ainda hoje suas histórias povoam o imaginário de muitos florianopolitanos.

Não só as bruxas, como outras tradições de origem européia foram registradas por Franklin Cascaes, que se estivesse vivo completaria 100 anos em 2008. Catarinense, Cascaes desenvolveu um importante trabalho de preservação da cultura açoriana, e de valorização da identidade cultural dos habitantes de Florianópolis. Visionário, ele temia que a modernização pudesse apagar ou enfraquecer as manifestações da cultura popular, e por mais de 50 anos tratou de registrá-la nas mais diversas formas: relatos, desenhos e esculturas em argila e gesso compõem o acervo de um artista que costumava passar temporadas imerso em comunidades afastadas do centro da cidade para retratar fielmente seu cotidiano. Tempos depois, Franklin Cascaes organizava uma exposição com o que havia produzido sobre o dia-a-dia da comunidade, como forma de reconhecimento e valorização das tradições.

O artista deixou um enorme legado em histórias, desenhos e esculturas, que conquistam admiradores por todo o país. O museu da UFSC abriga em seu acervo 2.700 peças do artista, e a Editora da UFSC já publicou dois volumes com relatos de Cascaes sobre cultura açoriana, sob o título de O fantástico na ilha de Santa Catarina. Cada livro conta histórias de bruxas e outras lendas açorianas presentes no imaginário de quem vivia na Florianópolis do século XX e também traz desenhos feitos pelo artista.

Franklin Cascaes e seus registros inspiram o trabalho

Franklin Cascaes e seus registros inspiram o trabalho

Para construir a reportagem em uma “outra Florianópolis” já tão modificada pelo crescimento recente e pela modernização, Karina foi atrás de figuras típicas da cidade, como as rendeiras da Lagoa da Conceição, que lhe contaram em riqueza de detalhes os causos que também fascinaram Cascaes. Como parte do prêmio Câmara Cascudo de Folkcomunicação, Karina irá para Natal participar da cerimônia de premiação, e mais do que isso, levar a cultura popular açoriana, ainda presente em Florianópolis, para a terra de Câmara Cascudo, folclorista que assim como Franklin Cascaes relatou as bruxas e teve um papel fundamental na preservação da cultura popular nordestina e brasileira.

Por Gabriela Bazzo / Bolsista de Jornalismo na Agecom

Mais informações: karinajw@hotmail.com