Artigo: Escritor, um Formador de Mentes
No 25 de julho é comemorado o dia do escritor. Não se trata, obviamente, de um daqueles dias que mobilizam a população e estimulam a economia, como o dia das mães, o dia dos pais, e assim por diante.
Nem se trata, por outro lado, de um dia dedicado a uma carreira ou a uma profissão, como o dia do professor, o dia da secretária, e tantos outros. Com raras — e algumas honrosas — exceções, o escritor não é um profissional, embora possa se profissionalizar e viver de sua obra, assim como o cineasta, o pintor, o escultor e outros produtores de cultura. De fato, este é o termo, o escritor é antes de tudo um produtor de cultura. Mas isso ainda diz pouco do que ele pode e tem feito por nós. O escritor é também um formador de mentes.
Imaginemos uma criança ou um adolescente que se maravilha pela primeira vez com um livro, e que aceita o convite do autor. Ele abre o livro e começa a ler. Imediatamente, ele se vê em outro mundo, mesmo que a estória fale de partes já conhecidas do mundo e de coisas ordinárias. Mas fala desse mundo de uma forma diferente, apresentando-o de outro ponto de vista. E com isso, esse leitor iniciante começa a prática de pensar o mundo — de pensá-lo e repensá-lo quantas vezes forem necessárias.
Não é, portanto, sem razão, que os grandes clássicos — poetas, dramaturgos e romancistas, por exemplo — são considerados pensadores da mesma estatura que aqueles cuja profissão ou carreia estão diretamente dedicadas a pensar o mundo: os filósofos e os cientistas em geral. Tomemos o caso que é lugar comum, aquele do escritor que é capaz de revelar aspectos da natureza humana que escapam às melhores teorias dos psicólogos e dos filósofos. O trabalho de um não substitui o dos outros, mas o escritor está menos preso às amarras da teoria aceita e oficial de um programa de pesquisa, e mais livre para forjar mentes com ferramentas mais variadas, embora talvez mais caseiras e de senso comum. Ele pode apresentar o mundo diretamente, sem tantas mediações.
De um jeito ou de outro, porque há também escritores que se empenham em divulgar conteúdos filosóficos e científicos, o escritor não dá sua contribuição à cultura apenas acrescentando mais um título ao catálogo de uma editora, mais um livro à prateleira de uma livraria ou de uma biblioteca. Tudo isso também é importante, pois o livro precisa chegar ao leitor. Mas o mais importante, é claro, é a transformação que o escritor opera dentro de cada um de nós.
Ao lado de nossos pais e antepassados, ao lado de nossos melhores mestres, a contribuição do escritor à sociedade humana é aquela de ajudar a formar mentes. O escritor é um trabalhador a serviço de um perene humanismo.
Por Luíz Henrique Dutra/ Diretor da Editora da Universidade Federal de Santa Catarina/ EdUFSC
























