DVD mostra práticas e rituais da cultura afro na Grande Florianópolis
Lançado no Centro de Cultura e Eventos da UFSC, para um público aproximado de 500 pessoas, o DVD “A cultura afro-brasileira em busca da identidade perdida” traz uma importante contribuição para o debate sobre a discriminação que ainda relega a um plano secundário as manifestações da cultura afro no Brasil. A própria realização do documentário, que tem duração de 48 minutos e levou seis meses para ficar pronto, foi uma maratona que contou com o esforço de Apolônio Antônio da Silva, servidor lotado na Reitoria, e da produtora e gravadora Imagem Livre, comandada por Fabian Mondini, além de ajudas esparsas e do apoio da ONG União de Cultura Negra em Santa Catarina (Uniafro).
A intenção dos realizadores é conseguir patrocínio para replicar o DVD de forma a levá-lo para todas as escolas públicas e privadas, que agora têm a obrigação curricular de transmitir aos alunos informações sobre a cultura negra e sua influência na formação do povo brasileiro. “Ao contrário do ensino religioso tradicional, as manifestações afro-religiosas têm pouco material disponível e por isso o documentário pode ser útil como instrumento pedagógico para as escolas”, diz Apolônio da Silva. O ideal seria uma parceria que financiasse a reprodução e distribuição de cópias para todo o Estado. O contato com as secretarias municipais para oferecer o produto é um dos próximos passos dos realizadores.
O DVD reúne o depoimento de 10 pessoas, entre elas o professor da Udesc e pesquisador Luiz Carlos Canabarro Machado, o pai Juca, ialorixás e babalorixás, zeladores e filhos de santo. Eles focam suas análises sobre a realidade de Florianópolis e Santa Catarina, mas a situação se aplica a todo o País. Nos depoimentos, eles falam do racismo no Brasil (problema que não extirpou a fé dos descendentes de africanos), da discriminação dos rituais afro e das informações erradas disseminadas através dos tempos acerca de divindades e figuras das religiões negras. “O que propagamos é a paz, a saúde e a prosperidade”, afirma o pai Juca no documentário.
O cerne do DVD são as questões religiosas da cultura afro, a partir da palavra de sacerdotes da religião na Grande Florianópolis, manifestações como a umbanda e o candomblé de Angola. São mostradas casas de santo que congregam famílias e comunidades próximas, pais e mães de santo que abrem terreiros e disseminam as manifestações religiosas afro no âmbito das famílias e comunidades. “As células crescem e resultam em outras, que nascem dentro e fora das mesmas comunidades”, diz Apolônio da Silva.
Houve cultos e orixás que se perderam com o passar dos séculos, porque deixaram de ser lembrados em vista do esquecimento provocado pela força da cultura européia dominante. E não foram poucos os casos de invasões de cultos e prisões de praticantes pela polícia, em várias partes do País, por considerar as sessões como macumba e feitiçaria. Até barracões foram incendiados por membros da cavalaria policial. Para muitos depoentes no DVD, falta união entre os grupos, o que enfraquece o movimento.
“Na África muitas coisas do passado deixaram de existir, e é nosso papel tentar resgatar o que restou, dentro de uma nova identidade, trazendo-as para cá”, diz Apolônio. “Antigamente, nada era escrito, mas muitos rituais ainda se mantêm. Por outro lado, o candomblé, por exemplo, é igual aqui e no Recife”.
Mais informações sobre o DVD podem ser obtidas no site www.uniafro.com.br ou com Apolônio Antônio da Silva, pelo fone (48) 9114-5905.
Por Paulo Clóvis Schmitz / Jornalista da Agecom