Livro concilia a psicanálise e a literatura alemã
O livro “Freud & Schnitzler – Sonho sujeito ao olhar”, de autoria do professor Pedro Heliodoro de Moraes Branco Tavares, diretor do Departamento de Psicologia da UFSC, será lançado no dia 29 de maio, às 19h, na Livraria Catarinense do Beiramar Shopping, em Florianópolis.
Na obra, o autor aproxima a psicanálise da literatura alemã, duas áreas em que é especialista, propondo uma revisão dos limites epistemológicos que em tese separariam estes domínios. Na construção dessa revisão, busca referências no fundador da psicanálise e no dramaturgo e novelista Arthur Schnitzler. Partindo da série de coincidências que unem as duas personalidades, Pedro Heliodoro Tavares convida o leitor a uma reflexão sobre os rumos que ambos encontraram ao abandonar a medicina em direção a um saber em que a linguagem era objeto e modus operandi. Trata-se de um saber onde sonho, sujeito e olhar descortinam uma dimensão de verdade inexplorável pela ciência, a não ser pelo recurso à construção ficcional.
O escritor e dramaturgo vienense Arthur Schnitzler se tornou célebre no meio psicanalítico pela “confissão” que Freud lhe fez em uma carta de 1922. Nela, ao se congratular com Schnitzler pelos seus 60 anos, Freud expressa seu Doppelgängerscheu (temor ao duplo) ao perceber, na obra do romancista e dramaturgo, “sob a aura poética, as mesmas suposições antecipadas, os interesses e conclusões que reconhecia como [s]eus próprios” (Freud, 1922). Diz ainda tocar-lhe com uma “familiaridade estranha” (unheimliche vertrautheit) sua “profunda apreensão das verdades do inconsciente, da natureza pulsional do homem, a ruptura das certezas convencionais-culturais, o apego de seus pensamentos sobre a polaridade do amor e da morte…”.
As principais temáticas do escritor do movimento literário “Jovem Viena” eram a morte, a sexualidade e o desvelamento da alma em diálogos interiores, que denunciam a semelhança com as abordagens freudianas. Além disso, a identificação entre Freud e Schnitzler é de ordem não somente das temáticas, mas também pessoal. Com uma diferença de apenas seis anos entre eles, eram ambos médicos, ex-alunos de Theodor Meynert, vienenses, de origem judaica e tidos por seus contemporâneos e concidadãos vienenses como individualistas
obstinados, além de terem suas obras taxadas de pornográficas e degeneradas.
O objetivo do livro é resgatar as críticas feitas à psicanálise de que suas teorias não seriam mais que “mera literatura”, levando em consideração que a literatura nada tem de “mera”, de simples ou de vulgar, como sugerem as pretensas correntes “objetivas” das ciências.
O autor:
Pedro Heliodoro de Moraes Branco Tavares é psicanalista em Florianópolis e Lages. É formado em Psicologia e mestre em Literatura pela UFSC e especialista em Psicanálise pela FES-SC. Também é professor de alemão. No final de 2007 defendeu com menção de louvor o título de doutor em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise pela equipe de pesquisas Interactions de la Psychanalyse na École Doctorale Recherches em Psychanalyse da Université Paris VII – Denis Diderot. O mesmo ocorreu com a titulação de doutor em Literatura, com área de concentração em Teoria Literária, na Pós-Graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina. Trabalha atualmente na tradução da peça “Reigen” (Ciranda), de Arthur Schnitzler.
Mais informações sobre o autor e o livro estão no site www.psicanalise-sc.com