Especial Pesquisa: UFSC acompanha desinstitucionalização do Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina
Um grupo de pesquisa da UFSC vai documentar e analisar o processo de desinstitucionalização do Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina. Assim como outros hospitais direcionados ao cuidado da saúde mental, a antiga Colônia Santana terá que promover uma transformação no estilo de tratamento ― especialmente em relação aos pacientes em situação asilar, que deverão ser reintegrados à sociedade. É a chamada desinstitucionalização, que desafia profissionais em todo o país, já que 2012 foi estipulado pelo Ministério da Saúde como prazo máximo para redução de leitos em hospitais psiquiátricos
O processo faz parte da Política Nacional de Saúde Mental. A exemplo de outros países, o Ministério da Saúde, a partir da Coordenação de Saúde Mental, vem promovendo uma reforma do modelo assistencial nessa área. No caso do Centro de Convivência Santana (CCS) do IPq, que abriga os pacientes em condição asilar, acredita-se haver um número significativo com condições de participar de um projeto de desinstitucionalização.
A pesquisa da UFSC tem como objetivo colaborar e dar suporte a esse processo. O trabalho será realizado pelo Grupo de Pesquisas em Políticas de Saúde/Saúde Mental, ligado ao Programa de Pós Graduação em Saúde Pública do Centro de Ciências da Saúde. O estudo será possível graças a uma parceria entre a Secretaria de Estado da Saúde, o Colegiado de Políticas Públicas de Saúde Mental e o Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina, entre outras instituições.
De acordo com o coordenador do projeto de pesquisa, o professor Walter Ferreira de Oliveira, a desinstitucionalização é um processo amplo e complexo. “A desinstitucionalização busca uma mudança de olhar, quer quebrar o estigma de que as pessoas com problemas mentais são perigosas, improdutivas e incapazes”, explica o professor. A expectativa do grupo é de que o acompanhamento e a documentação das atividades no IPq possam também subsidiar outros hospitais nessa trajetória.
No Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina a fase atual é de levantamento dos internos em condições de serem desinstitucionalizados, a partir da verificação de graus de dependência e da situação psicológica e social das pessoas em condição asilar. Fases posteriores do processo de desinstitucionalização incluem a localização dos municípios de onde os pacientes são oriundos, o mapeamento da rede de serviços de saúde mental existente nestas cidades, o levantamento de familiares e de outros atores relevantes para a vida destas pessoas.
A pesquisa da UFSC prevê entrevistas com os membros da Comissão de Desinstitucionalização, com técnicos do IPq e outras pessoas que participem ou influenciem ações decisivas para o processo de desinstitucionalização. Todos os 12 integrantes da Comissão serão entrevistados com o objetivo de conhecer suas posturas, idéias e sentimentos em relação ao processo; para entender as representações da desinstitucionalização através do discurso captado.
O estudo prevê também a chamada observação participante, a partir da presença dos pesquisadores em reuniões e outros momentos deliberativos relacionados à desinstitucionalização. “O projeto deverá trazer para os membros da comissão de desinstitucionalização do IPq, uma oportunidade de reflexão sobre seu próprio trabalho”, acredita o coordenador.
A expectativa é de que o projeto contribua com a construção de conhecimento sobre problemas sociais complexos, subsidiando outras instituições e órgãos governamentais e não-governamentais, bem como a comunidade acadêmica em tomadas de decisões importantes para o bem-estar das populações menos assistidas. “As idéias, sentimentos e representações dos membros da Comissão de Desinstitucionalização e outros sujeitos poderão dar origem a novos rumos na pesquisa e enriquecer o processo desinstitucionalização”, destaca o professor. Ele ressalta que diante da complexidade do processo é preciso buscar o máximo de segurança sobre as decisões a serem tomadas.
Mais informações com o coordenador do projeto de pesquisa, o professor Walter Ferreira de Oliveira, fone 3721 9388; e-mail: walter@ccs.ufsc.br
Por Arley Reis / Agecom
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