Cientista afirma, em palestra na UFSC, que animais têm sentimentos

22/05/2008 13:06

Cientistas do mundo inteiro têm desenvolvido estudos focados nos sentimentos dos animais. O interesse é tanto que no Japão já se utiliza um tradutor de linguagem, que transmite ao homem o que o animal supostamente diz. Essas informações foram dadas pela professora Ruth Newberry, em palestra proferida no Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFSC, na quarta (21/05). Ruth é professora do Centro de Estudos sobre Bem-Estar Animal da Universidade de Washington (EUA) e ex-presidente da Sociedade Internacional de Etologia Aplicada. A cientista norte-americana veio ao Brasil participar da AveSui2008, feira dos setores avícola e suíno, realizada recentemente em Florianópolis.

Risos e expressões que denotam prazer induzem, a quem os observa, a manifestações semelhantes. Essa reação – como explica Ruth, denominada “contágio emocional” – pode ser verificada em diversos animais, e não apenas entre cães e camundongos, os mais estudados em laboratório.

“A empatia, tipo de sentimento humano que entende a dor, por exemplo, pode acontecer entre os elefantes, que lastimam seus mortos”, exemplifica a professora. As manifestações sensoriais, emocionais e cognitivas apresentadas por diversos animais, desencadeiam questionamentos que Ruth expôs ao público: “Até que ponto os animais podem experimentar esses sentimentos? É não-científico discutir os sentimentos dos animais?”.

O tema, para a professora, é visto com bastante cuidado pelos cientistas, que tendem a ser tachados de loucos ou antropormórficos – aqueles que dão aos animais características humanas – por levantarem a discussão. “Alguns ativistas também não entendem o porquê dessas experiências, mas trabalhamos para o bem-estar dos animais e queremos saber as respostas aos seus estímulos”, defende.

Outros estudos tentam desvendar o relacionamento homem/animal. Um dos exemplos apontados por Ruth é o caso das raposas selecionadas para conviver com o homem e aprender a não temê-lo. O estudo demonstrou que mesmo sendo de uma espécie selvagem os animais puderam ser domesticados iguais aos cães. A professora observou que a convivência trouxe ao animal e ao homem o conforto mútuo, a redução de freqüência cardíaca e do estresse e o aumento da quantidade de ocitocina liberado na circulação sangüínea – hormônio que estimula o sentimento de confiança. “O contato entre as duas espécies pode melhorar tanto a saúde do animal quanto a do homem. Esse exemplo mostra que temos conexão emocional com os animais”, garante.

Curiosas experiências, e seus resultados surpreendentes também foram citados por Ruth. “Camundongos emitem sons semelhantes ao da risada, quando recebem cócegas na barriga; porquinhos separados da mãe, depois do desmame, ainda reconhecem seu cheiro; ovelhas guardam na memória a face de outras ovelhas, reconhecendo até 50 outros animais de sua espécie depois dois anos sem conviver com eles;

Experimentos comprovaram que os peixes sentem dor. Cientistas pingaram ácido acético na língua de um grupo de peixes, enquanto que outro grupo recebeu morfina. “Os que foram submetidos ao ácido demoraram mais tempo para se alimentar, além de esfregar a língua no fundo do aquário”, relatou a professora.

Ruth defende que “é importante tratar os animais de maneira mais humana”. Para ela a barreira que separava o homem do animal está sendo lentamente derrubada.

A visão bem-estarista, mais do que propiciar condições físicas ou de produtividade para garantir lucros, “deve evitar dor e sofrimento desnecessários”. Nos dias de hoje, a sociedade vem escolhendo produtos que não impliquem no sofrimento animal. Por isso, segundo Ruth, os pesquisadores que se voltam à visão bem-estarista têm maior possibilidade de obter financiamentos para suas pesquisas.

Por Celita Fortkamp/ Jornalista na Agecom