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“Alckmar extrai efeitos poderosos do choque entre, de um lado, a singeleza das imagens circenses e, do outro, a tensão proveniente da forma requintada, do vocabulário precioso e da aspereza sintática”, diz Paulo Henrique Britto na introdução de “Circenses”, livro que o poeta Alckmar Luiz dos Santos lança às 18h de segunda-feira, 19, no Centro de Comunicação e Expressão da UFSC.

Na obra, que sai pela editora carioca 7 Letras e traz cinco ilustrações de Rodrigo de Haro, Alckmar mantém sua inquietude e a disposição de não descartar desafios, apropriando-se do tema do circo para criar uma seqüência de poemas que, compostos em momentos diferentes, dão unidade e coesão ao volume, transportando o leitor a um meio que mescla magia e crueza, dor e superação. O caráter temático já fora utilizado no livro anterior, “Rios imprestáveis”, quando ele juntou o que estava pronto a novos textos para participar de um concurso literário.

“Costumo pegar um assunto e ir até o fim, entrando no próprio jogo que o tema proporciona”, diz o poeta. Neste livro, os textos não têm título – cabe ao olho do leitor identificar o mote de cada poema, de acordo com o ângulo ou o personagem que é sugerido naqueles versos. São domadores, leões, tigres, palhaços, mágicos e trapezistas que se alternam e até dialogam entre si. “O que se passa na arena deste circo, espaço da metamorfose, é uma permanente simbolização da superação dos princípios lógicos da identidade e não-contradição através da poesia”, escreve Claudio Willer na orelha do livro.



Nos poemas de Alckmar, as formas podem ser antigas – os sonetos, por exemplo, são recorrentes – e o lúdico tem lugar privilegiado, mas sempre há espaço para a ousadia, como nos versos trançados que alternam quatro quartetos e quatro tercetos para descrever o ambiente do circo num dia muito peculiar. O vínculo formal com o passado tem algum caráter de resgate, porque “literatura não é só experimentação”, justifica o poeta.

POESIA NA REDE – Habituado ao tratamento digital de obras literárias e a ver a Internet como suporte para a difusão da leitura, Alckmar já havia colocado, em 2001, o romance “São Lourenço” na web. Mesmo atarefado, respondendo pelas aulas no CCE e pela coordenação do Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística (Nupill) da UFSC, ele consegue ler o que os colegas fazem e ainda produzir – a cada seis ou sete meses, se quiser, conclui material suficiente para um novo livro. Ele diz ter mais três romances e dois livros de poesia na fila, esperando a oportunidade de edição.

O Nupill nasceu em 1995, num tempo que a Internet ainda era precária, mas o meio digital serviu tanto para facilitar a criação quanto para estimular a leitura na rede. Hoje, o núcleo tem 70 mil obras e mais de 16 mil autores catalogados, e recebe, em média, 500 visitas por dia. Além disso, conta com 535 títulos digitalizados – um universo que vai de Gregório de Matos aos contemporâneos, passando por Cruz e Sousa, Lima Barreto e Euclides da Cunha. “Esse processo permite a atualização ortográfica e facilita a busca e a transcrição de partes das obras pelos interessados”, explica ele.

Agora, em parceria com o Ministério da Cultura, o núcleo espera disponibilizar na web a obra completa de Machado de Assis, tendo em vista os 100 anos de morte do escritor.

O AUTOR – Alckmar Luz dos Santos nasceu em Silveiras (SP), tem formação em engenharia eletrônica mas fez mestrado em teoria literária na Unicamp e doutorado em Paris, sob orientação de Julia Kristeva. Em poesia, publicou os livros “Rios imprestáveis”, “Retrato e percurso” e “Meu tipo inesquecível”, além do poema digital “Dos desconcertos da vida, filosoficamente considerada”. É autor também do romance “São Lourenço” e do volume de ensaios intitulado “Leituras de nós. Ciberespaço e literatura”.

“Circenses”

Alckmar Luiz dos Santos

Editora 7 Letras (RJ)

67 páginas – A definir

Contatos com o professor Alckmar Luiz dos Santos podem ser feitos por meio dos telefones (48) 3721-6590 e 3357-5465 e do e-mail alckmar@cce.ufsc.br.