Fapesc ajuda a aumentar qualidade dos vinhos catarinenses

11/04/2008 17:07

Seis milhões de reais estão viabilizando 65 estudos selecionados – via Chamada Pública de Ciências Agrárias – pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc). Entre eles há um projeto capaz de aumentar a renda de produtores de uvas e fabricantes de vinhos finos em Santa Catarina, pois uma garrafa da bebida de boa qualidade – resultante dos investimentos em pesquisas, principalmente – chega a ser vendida por até 100 reais.

Esse é o preço de alguns vinhos que combinam uvas cultivadas no Planalto Serrano Catarinense, cujas altitudes e oscilações de temperatura favorecem a elaboração de vinhos com cor e sabor intensos – daí a possibilidade de São Joaquim encontrar sua vocação econômica com o apoio da Fapesc.

O município fica 1.360 metros acima do nível do mar e virou palco de estudos cujo objetivo geral é avaliar o comportamento de três variedades francesas de videira: Cabernet Sauvignon, Merlot e Sauvignon Blanc. Serão avaliados as uvas e os vinhos resultantes de três safras (entre 2006 e 2008), além de outros aspectos previstos no estudo proposto pela Universidade Federal de Santa Catarina em parceria com a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). “Este projeto vai dar um conhecimento de base para permitir aos produtores elevar o valor agregado aos vinhos da região, que se tornarão mais competitivos”, diz o Prof. Aparecido Lima da Silva, um dos coordenadores da pesquisa. Outros estudos também financiados pela Fapesc já fizeram algumas bebidas made in Santa Catarina caírem no gosto de experts do estado e de fora dele, segundo o governador Luiz Henrique da Silveira: “Hoje produzimos vinhos que estão rivalizando em termos de qualidade com os melhores vinhos da Argentina ou no Chile”.

Os dois países dominam 60% do mercado brasileiro para vinhos finos, que está em expansão. A demanda é crescente em parte por causa de recomendações médicas que incentivam as pessoas a tomarem uma taça de vinho tinto por dia para prevenir doenças do coração. “Nos últimos 5 anos, o consumo tem aumentado significativamente pela descoberta dos polifenóis – excelentes para combater radicais livres que são maléficos para a saúde humana”, explica o Prof. Aparecido, ligado ao Departamento de Fitotecnia da UFSC.

A Universidade destacou também dois doutorandos e o pesquisador José Afonso Voltolini para caracterizar o sistema mais adequado ao Planalto Serrano Catarinense no que se refere ao cultivo de videiras e fabricação de vinhos finos. Desde 2002 o planalto é um novo pólo de produção, com mais de 300 hectares destinados ao plantio comercial de variedades viníferas.

Herança italiana – Imigrantes vindos da Itália no século XIX introduziram a produção de vinhos no sul de Santa Catarina, particularmente em Urussanga e Azambuja. No início do século

passado, iniciaram-se cultivos no Vale do Rio do Peixe; posteriormente Videira conquistou o título de Capital da Uva e serviu de exemplo não só a Tangará, mas a municípios distantes que buscavam alternativas econômicas para crescer.

A região de São Joaquim é atualmente a mais pobre do estado, com renda média mensal de R$ 222,00 por pessoa, segundo dados do IBGE em 2007. A expectativa é que os investimentos feitos por viticultores, empresários e órgãos de fomento ao desenvolvimento sustentável proporcionem uma melhoria na qualidade de vida nas cidades do planalto serrano, mediante a geração de empregos e o incentivo do turismo ligado ao vinho.

Para este projeto, a Fundação liberou quase R$24 mil para a compra de equipamentos, reagentes de laboratório e sensores de temperatura, umidade relativa, radiação e chuva. Tudo isso somente para cumprir sua parte no projeto aprovado via chamada pública, em 2006. Como contrapartida, a UFSC pagará bolsas e recursos humanos para a equipe responsável pela proposta – por sua vez integrada ao Núcleo de Estudo da Uva e do Vinho, um grupo de pesquisa inter-institucional criado para gerar conhecimento científico e formar docentes, pesquisadores e outros profissionais dedicados à vitivinicultura.

O Núcleo tem parcerias com instituições da França e da Itália, sem contar sua proximidade com a iniciativa privada – por meio da qual os experimentos serão feitos numa área experimental de 1.100 metros quadrados que se encontra a uma altitude de 1.293 m, na Villa Francioni Agronegócios Ltda. “As vinícolas que estão trabalhando neste projeto têm um nível de conhecimento aprofundado para a produção de vinhos finos e fabricam um dos melhores vinhos produzidos no Brasil, o Sauvignon Blanc, Outro, feito com uvas Merlot, Cabernet Sauvignon e outras, custa em torno de 95 reais a garrafa”, acrescenta o professor.

O mestre e doutor em Fruticultura de Clima Temperado, A. P. Camilo., destaca que acima dos 1.200 m há grande oscilação entre as temperaturas diurnas e noturnas; além disso, a maturação das uvas é retardada com a altura. Situada a 1.300m, a região de Água Doce “produz vinhos diferenciados, como o Inominable, eleito o melhor vinho tinto do Brasil”, completa o Prof. Camilo, que também atua na Fapesc.

Por Heloísa Dallanhol/Fapesc