Sistema de cotas é tema de palestra na UFSC
O professor José Jorge de Carvalho (UnB), autor de várias publicações sobre inclusão étnica e racial no Brasil, esteve na manhã desta quarta-feira (19/03), no auditório do CFH, para falar sobre o tema “Cotas Étnicas e Raciais nas Universidades: um movimento de descolonização na América Latina”. O evento foi uma promoção do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política.
Carvalho iniciou sua conferência resgatando várias experiências históricas para caracterizar o eurocentrismo que predominou na formação das universidades. Para ele as tendências européias determinaram o perfil das instituições de ensino superior brasileiras. “Os convênios com a Europa recolonizaram a pós-graduação”, diz o pesquisador, defendendo a implementação de cotas tanto nos cursos de mestrado e doutorado como na seleção de professores das universidades. Ele parte da hipótese de que nos anos 60 tínhamos mais professores negros. A expansão da pós-graduação qualificou um grupo etnicamente mais branco do que negro.
Para Carvalho o sistema de cotas é a única de maneira de romper com o ciclo vicioso predominante na sociedade brasileira. Temos que desfazer este racismo monumental que predominou na nossa sociedade nos últimos séculos. “Trata-se de um processo revolucionário de reconstruir o imaginário social. Temos que incluir os corpos para mudar a mente. Ao mexer com as representações corporais nas universidades estamos mudando o imaginário das pessoas”. Para Carvalho isto não quer dizer que as pessoas não foram capazes de estar nas universidades. Apenas não foi lhes dada uma oportunidade.
O professor diz que a primeira experiência com a política de cotas surgiu na Índia no final da década de 40. A constituição naquele país estabeleceu cotas no serviço público e nas universidades, permitindo o compartilhamento do poder. “Não foi nos Estados Unidos como muitos propagam. Pelo contrário, o sistema de cotas americano é restritivo, pois se limitam a estabelecer um patamar de negros, prevalecendo a maioria branca em vários processos seletivos. O modelo é segregacionista”, complementa.
Carvalho defende que os índices das cotas devem subir cada vez mais, para compensar a exclusão sofrida anteriormente. Cita várias experiências que estão sendo vivenciadas na América Latina. Na Colômbia já tem cotas para professores indígenas nas universidades. A Bolívia é o país mais democrático neste momento, pois Evo Morales nomeia até ministros indígenas. Para Carvalho, trata-se do povo mais integrado socialmente. A política de cotas é um movimento continental, pois outros países do continente também estão mobilizados para a questão racial.
Para a professora Ilse Scherer-Warren, integrante da Comissão de Políticas Afirmativas da UFSC, o debate é necessário para desfazer eventuais equívocos. Carvalho, já defende um processo de convencimento, uma luta política, “pois vivemos numa sociedade racista”. Ele diz que as pessoas são estigmatizadas por ingressar na universidade no sistema de cotas. Propõe ainda , a unificação da luta dos negros e dos indígenas para resolver os fantasmas da rejeição mútua.
Carvalho criticou a política de cotas implantadas na UnB, pois segundo ele restringe ao candidato negro concorrer somente nas vagas correspondentes, sem o direito de disputar pelo critério universal. O professor considera um direito que pode ou não ser exercido pelo candidato, e não ser considerado um contingente em separado. Por outro lado, diz “que muitos afro-descendentes estão tendo desempenho melhor no vestibular do que os demais concorrentes. Mas te todo o modo o modelo acaba sendo meritocrático”.
Dorotéia Darela, do Museu Universitário, lamentou o fato de somente dois índios terem ingressado na UFSC pelo sistema de cotas, apesar de terem sete inscritos para as cinco vagas disponíveis no último vestibular. Alguns manifestantes da platéia defenderam somente o critério do aluno ser egresso do ensino público como pré-requisito para ingressar nas universidades federais. José de Carvalho disse que a escola pública também é excludente, portanto não serviria como único sistema de ingresso.
Mais informações com professora Ilse Scherer-Warren, telefone 3721-8826.
`