Círculo de Leitura volta ouvindo Rodrigo de Haro
O pintor, poeta, desenhista e gravador Rodrigo de Haro é o convidado da primeira edição de 2008 do Círculo de Leitura, que a Editora da UFSC realiza nesta quinta-feira, dia 6, às 17h. Nascido em Paris, em 1939, ele é filho do também pintor Martinho de Haro, um dos importantes nomes da pintura modernista brasileira, e publicou, entre outros, os livros “Pedra elegíaca”, “Flama”, “O amigo da labareda” e “O mistério de Santa Catarina ou Livro dos Emblemas de Alexandria”. O Círculo de Leitura acontece no Espaço Cruz e Sousa, no térreo do prédio da EdUFSC.
Como pintor, Rodrigo de Haro é visto pelo crítico Jacob Klintowitz como “artista de uma linha que se convencionou chamar de fantástica, de escrita quase automática, plena de fantasia e intenções”. Como poeta, Gilberto Gerlach, cinéfilo como ele, destaca sua “inspiração universalista, marcada por raízes brasileiras e ibéricas”. Para outro crítico, Olívio Tavares de Araújo, Rodrigo é “uma personalidade rara, ao mesmo tempo solar, dionisíaca e afeita a ocultismos”. Artista contemporâneo, ele exibe uma vasta cultura e faz da leitura “um espaço de prazer e uma experiência inalienável do espírito”, segundo suas próprias palavras.
Rodrigo de Haro realizou importantes exposições individuais em Florianópolis, desde os anos 60, e já mostrou seu trabalho em São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires. Entre as coletivas, destacam-se as participações no Panorama Atual da Arte Brasileira (Museu de Arte Moderna de São Paulo, 1979/1983), nas mostras Tradição e Ruptura (Fundação Bienal de São Paulo, 1984), Destaques da Arte Contemporânea Brasileira (MAM/SP, 1985), O Surrealismo na Arte Brasileira (Pinacoteca do Estado de São Paulo, 1985) e II Bienal de Artes Visuais do Mercosul (Porto Alegre, 1999).
No momento, ele apresenta uma exposição de pinturas na galeria Múltipla de Artes, em São Paulo, que pode ser vista até 24 de junho. Seu habitat, contudo, é a Ilha de Santa Catarina, mais especificamente a Lagoa da Conceição, onde mora numa bela casa setecentista. “Gosto de estar aqui, mergulhar fundo em mim mesmo, me concentrar, ter uma vida próxima à terra”, confessa. No momento, ele vem copiando sua própria obra à mão, diariamente, num exercício de desenhista. “Procuro assim chamar a atenção para a importância da leitura e da escrita, num tempo mecanizado pelo computador”, diz ele.
Promoção da leitura e do livro
O Círculo de Leitura é promovido uma vez por mês e visa a promover a leitura e o livro, congregando escritores, artistas, jornalistas, professores, estudantes e outros interessados em aprofundar e cultivar o hábito de ler. Trata-se de um bate-papo informal entre os participantes sobre leituras que estejam realizando atualmente. A conversa é puxada pelo convidado de honra, entre os quais já estiveram Mário Prata, Amílcar Neves, Oldemar Olsen Jr., Eduardo Paredes, Sérgio Medeiros, Cleber Teixeira, Fábio Brüggemann, Dennis Radünz, Salma Ferraz, Raimundo Caruso, Nei Duclós, Regina Carvalho, Jaime Ambrósio, Carlos Schroeder, Clarmi Régis e Valdemir Klamt.
Breve entrevista
Você vem de uma família muito ligada à arte. Como era, na infância, sua relação com a leitura?
Rodrigo – Desde cedo, descobri na leitura uma maravilhosa ponte para o mundo, integrante que era de uma geração que tinha no contato com os livros um hábito cotidiano e fundamental. No Colégio Catarinense, em Florianópolis, onde estudei, minhas leituras eram ecléticas, variadas, aproveitando a excelente biblioteca da escola. Foi ali que me debrucei sobre os clássicos latinos, sobre obras do período barroco e sobre a obra completa de Shakespeare. Aos 14 ou 15 anos, me deliciei com Cruz e Sousa, a poesia expressionista alemã, nomes como Rilke e Quevedo, a poesia arcádica brasileira, além de Manoel Bandeira e Jorge de Lima.
E em São Joaquim, onde passou parte da vida, a que tipo de leitura você tinha acesso?
Rodrigo – Mesmo morando no campo, minha família era um tanto atípica e mantinha em casa uma pequena biblioteca. A diferença que vejo entre a prática agrícola e a pastoril é que esta última (à qual pertenciam meus pais) conta com um tempo maior de lazer e, por suas características, tem um ritmo de vida mais introspectivo. Não só meus tios e avôs, mas também os peões da fazenda, falavam de poesia nas reuniões ao lado do fogo, na cozinha de chão batido. E nos bailes, onde se reunia gente de todos os tipos, as declamações eram comuns – lembro, nesse particular, de ouvir versos de Augusto dos Anjos, que pareciam caber naquele mundo parado, mágico e circular.
De lá para cá, o que mudou, na sua concepção, em relação à leitura?
Rodrigo – Nos anos 50, por exemplo, se publicava e se lia muita poesia. O que mais lamento na sociedade atual é a abdicação da leitura, o que equivale à perda de um acesso privilegiado ao conhecimento e ao mundo do imaginário, do silêncio e da contemplação. A poesia perdeu espaço em vista do aturdimento e do barulho do mundo moderno. Além disso, qualquer obra imatura publicada nos Estados Unidos se transforma em best-seller no Brasil. De minha parte, continuo tendo na leitura um dos grandes apoios existenciais.
O que você este lendo no momento?
Rodrigo – Redescobri há pouco o pensador contemporâneo romeno Matila Glyka, que tem uma obra extensa sobre a questão do número negro. Também estou relendo Cornélio Pena e a poesia castelhana antiga.
Mais informações com Rodrigo de Haro pelos fones (48) 3232-0025 e 9126-2595. O telefone da Editora da UFSC é (48) 3721-9408.
Por Paulo Clóvis Schmitz/Jornalista da Agecom