Especial Pesquisa: Estudo avalia acidentes de trabalho em postos de saúde de Florianópolis

19/02/2008 19:33

Unidade de saúde da Coloninha

Unidade de saúde da Coloninha

Há necessidade de maior atenção à saúde daqueles que cuidam da saúde da população. Essa é uma das avaliações decorrentes de uma pesquisa que investigou os acidentes de trabalho entre servidores de Unidades Básicas de Saúde de Florianópolis. O levantamento e as análises foram realizados a partir da tese de doutorado da professora Leila Posenato Garcia, do Departamento de Saúde Pública da UFSC. A tese, orientada pelo professor Luiz Augusto Facchini, junto ao Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel (RS), será defendida no dia 29 de fevereiro.

Para a pesquisa foram entrevistados 1.249 trabalhadores dos postos de saúde de Florianópolis – o município tem cerca de 1.350 servidores na atenção primária. No período de um ano foram registrados 468 acidentes de trabalho. Além dos casos convencionais, como quedas (72), pancadas (47), e torções (54), também foram registradas mordidas de animais (22), além de situações de violência entre os agentes de saúde. Os acidentes de trabalho mais freqüentes envolveram exposição a sangue e fluidos corporais (103).

“Esse tipo de acidente é de grande relevância para os trabalhadores da saúde, pois pode resultar na transmissão de doenças, como a hepatite B, a hepatite C e a AIDS”, alerta a professora. Segundo ela, o estudo mostrou que técnicos de enfermagem, auxiliares de consultório dentário e dentistas foram as categorias que mais sofreram estes problemas.

De acordo com a professora, as condições de trabalho precárias, a pressão diária, as cargas de trabalho excessivas e a insatisfação com a atividade resultaram na maior ocorrência de acidentes. Além disso, os servidores mais recentes tiveram maior chance de se machucar do que aqueles que trabalham há mais tempo.

A tese alerta que desde a implantação do Programa de Saúde da Família (PSF) pelo governo federal, em 1994, as Unidades Básicas de Saúde constituem a base do SUS. Elas fornecem serviços de pediatria, ginecologia, pré-natal, vacinação, odontologia, entre outros. As unidades vinculadas ao PSF possuem uma ou mais Equipes de Saúde da Família, constituídas por, no mínimo, um médico da família, um enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem e quatro agentes comunitários, que são responsáveis por uma área de 600 a 1.000 famílias.

Direcionado a estas unidades, consideradas as “portas de entrada” da população no sistema público de saúde, o estudo de Leila é pioneiro. “Os hospitais de certa forma facilitam a pesquisa sobre as condições de trabalho, pois há comissões para registro das ocorrências. No caso da atenção primária, oferecida através dos postos de saúde, não há uma centralização para levantamento dos casos e os dados são escassos”, informa a professora.

Em Florianópolis, por exemplo, são 49 postos ligados à prefeitura – e todos foram contemplados na pesquisa. Para realização do estudo a professora contou com recursos do CNPq, pois seu trabalho foi selecionado em um edital de apoio a estudos sobre a atenção básica na saúde. Com os recursos foi possível a contratação de dez entrevistadores, que aplicaram os questionários junto aos trabalhadores. A entrevista permitiu levantar se nos últimos 12 meses o agente de saúde havia sofrido algum acidente e o tipo de ocorrência.

Para a professora, o SUS necessita de políticas que valorizem as condições de trabalho e saúde de seus trabalhadores. “A melhoria das condições nas Unidades Básicas de Saúde é fundamental para reduzir a ocorrência de acidentes. A realização de concursos públicos para a contração de servidores para o quadro permanente das secretarias municipais de saúde, como está sendo feito atualmente em Florianópolis, é outra medida imprescindível”, alerta Leila. Ela lembra que o grande número de contratos temporários e terceirizados na atenção básica resulta em uma alta rotatividade, que também está relacionada à ocorrência dos acidentes. Há ainda necessidade de programas de educação permanente direcionados à organização, à saúde e à segurança do trabalho.

De acordo com Leila, a prefeitura não apenas autorizou, mas apoiou o levantamento. Os resultados já foram repassados à Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis. “O trunfo mais valioso do SUS é seu capital humano, que merece valorização e respeito”, destaca a professora.

Mais informações: leilapg@matrix.com.br / 48 3721 93 88 e (53) 3284 13 00 (PPGE-UFPel)

Arley Reis / Agecom