Maternidade do HU já trouxe quase 19 mil bebês ao mundo em 12 anos de existência

18/12/2007 12:07

Ivone e Henrique Zanatta não ficaram sós em nenhum momento

Ivone e Henrique Zanatta não ficaram sós em nenhum momento

Janeiro de 2004 foi o mês mais importante da vida de Ivone Zanatta. No dia 31 ela deu à luz seu primeiro filho, Henrique, na maternidade do Hospital Universitário Ernani Polydoro São Thiago, o HU da UFSC. Além do parto, a mãe de primeira viagem teve o pré-natal e os primeiros anos de vida de Henrique assistidos pelos médicos do hospital, o único totalmente público de Santa Catarina. Sobre o atendimento recebido, Ivone só faz elogios. “Eu tive o tempo todo o acompanhamento de profissionais, desde a hora em que entrei até dois dias depois do parto. Não fiquei em nenhum momento sozinha; se eu não tinha um acompanhante, estudantes do hospital ficavam comigo oferecendo massagens e banhos para aliviar as dores que sentia”. O parto normal foi feito por uma enfermeira especializada em partos e acompanhado pelas duas madrinhas do bebê. Depois que nasceu, Henrique só saiu do lado da mãe para fazer os exames necessários ao recém-nascido; ela pôde acompanhar de perto o seu primeiro banho e já foi incentivada a iniciar o aleitamento da criança. “Não tenho do que reclamar, fui muito bem atendida pela maternidade”.

O atendimento recebido por Ivone revela procedimentos diferenciados que são oferecidos aos pacientes da maternidade do HU. Os banhos e as massagens, o incentivo ao parto normal e a presença do acompanhante durante toda a estadia da gestante no centro obstétrico fazem parte de uma política já consagrada dentro do hospital, de humanizar o seu atendimento. Não foi por acaso que em 1997 o HU conquistou o reconhecimento de “Hospital Amigo da Criança”.

A médica Maria Salete está na maternidade desde a sua criação, em 1995. Ela conta que se preparou durante um ano para absorver a filosofia proposta pelo hospital e, nesse processo, pôde perceber uma grande diferença entre o conhecimento técnico que havia aprendido na universidade e residência e o trabalho humanizado que passou a fazer. “Para uma instituição pública, o HU tem padrões muito bons. Além da inserção do acompanhante no pré-natal, a maternidade se preocupa em manter a mulher sempre confortável durante a sua estadia. O atendimento garante o respeito à gestante nesse momento extremamente importante da sua vida”.

Rosa Raulino, com Thiago, lembra que todos foram atenciosos

Rosa Raulino, com Thiago, lembra que todos foram atenciosos

Todos os profissionais que trabalham na maternidade são inseridos nessa linha de atendimento. Para difundir a política humanizada na maternidade foi criado o Grupo Interdisciplinar de Assistência à Maternidade (GIAM), que trabalha na capacitação e atualização do corpo multidisciplinar que atua no hospital. O grupo realiza pesquisas levantando dados com os professores, alunos e usuários. A enfermeira chefe do Alojamento Conjunto do Centro Obstétrico, Lindaura dos Santos Júlio, conta que, como o centro está em reforma, foram retirados dos corredores os murais onde eram colocados bilhetes e cartas que os pacientes enviavam à maternidade agradecendo pelo atendimento. “A comunidade reconhece o trabalho daqui”, diz.

A maternidade foi precursora em procedimentos inovadores, referentes aos tratamentos dos pacientes e acompanhantes que hoje são adotados por outros hospitais. O maior exemplo disso é a Lei do Acompanhante, que, aprovada na esfera federal em 2005, permite a presença de um parente ou amigo durante os partos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É inspirada em uma lei estadual semelhante originada da discussão com profissionais do HU. Para o diretor geral do hospital, o médico Carlos Alberto Justo da Silva (Paraná), a política humanizada da maternidade abrange práticas que vão desde o incentivo ao parto normal até a pesquisa de grau de satisfação do usuário, realizada semestralmente por estudantes da Ação Júnior da UFSC.“A política da maternidade é vinculada tanto ao pré-natal quanto ao parto e ao pós-parto. Isso cria um vínculo da família com a criança, então aqui no hospital o bebê nasce bem e com um vínculo maior com os pais”.

Outra preocupação dos médicos é manter o filho sempre junto da mãe no Alojamento Conjunto. A técnica em enfermagem Shirley Cristina de Souza deu à luz Victória, caçula de três filhos, em condições de alto risco. Ela teve pré-eclampsia e chegou ao hospital com descolamento de placenta. Shirley conta que o atendimento realizado foi muito rápido para que tudo ocorresse bem com Victória. “Quando cheguei ao hospital, nem ficha eu tive que preencher, todas as portas foram se abrindo”. Devido ao baixo peso da recém-nascida, os médicos cogitaram transferi-la para a unidade neo-natal, mas como ela conseguiu se alimentar do peito da mãe, continuou no quarto com todos os cuidados que receberia na outra unidade.

A maternidade do HU busca se tornar um grande centro de referência nas várias modalidades de parto normal. Para atender esses objetivos e melhorar o atendimento, existem hoje planos de reformas no centro obstétrico. Um dos projetos prevê estruturar a maternidade de uma maneira em que o pré-parto, o parto e a primeira hora de pós-parto, que hoje acontecem em locais diferentes, sejam feitos na mesma sala. O hospital pretende, ainda, instalar uma banheira para realizar partos na água e implantar o serviço de fertilização assistida, hoje pouco oferecido pelo SUS.

Paraná lembra que a maternidade é um lugar diferente do hospital. “Enquanto a maioria das pessoas busca atendimento médico quando está perdendo alguma coisa, passando por dificuldades em sua saúde, os pacientes chegam à maternidade para receber um presente”. Ele afirma que o futuro dos hospitais é buscar cada vez mais a humanização, e que sem ela não dá para ter qualidade.

Danças a três – A idéia do atendimento humanizado levou também à criação do Grupo de Gestantes ou Casais Grávidos, em que especialistas da área da saúde orientam as futuras mães e pais quanto à gravidez, o parto, o pós-parto e os cuidados com o bebê. Os encontros são destinados a mulheres que estejam entre o quarto e o oitavo mês de gestação e a seus acompanhantes, acontecendo às quartas-feiras na Sala de Atividades Corporais do HU. A argentina Laura Murphy está no oitavo mês de gestação e participa do grupo junto com seu companheiro, o brasileiro Fansley Marcel. O casal é conhecido no meio cultural do Estado por suas apresentações e aulas de tango, atividades que só interromperam há pouco tempo. Os dançarinos tinham muitas dúvidas no início da gravidez e, por isso, seguindo a indicação de uma ex-integrante do projeto, resolveram participar das reuniões. “No começo eu não sabia nem o que era uma contração. O curso abre espaço para os pais de primeira viagem aprenderem sobre a gravidez e os cuidados com o bebê, coisas que não se aprende na escola. Nós dois estamos gestando, eu preciso cuidar tanto dela como do bebê”, diz Fransley. Laura conta que aprende com o grupo principalmente a perder o medo e desenvolver a confiança no corpo para o parto.

Por Sofia Franco/ Bolsista de Jornalismo na Agecom

Fotos: Andréa Leonora

Sofia Franco/ Ag. Ensaio Fotojornalismo