Brasil tem potencial, mas não tem visão para aproveitamento da energia eólica
O potencial eólico do Brasil chega a 143.000 MW (megawatts), o que equivale a 10 usinas de Itaipu (atualmente, a maior usina hidrelétrica do mundo em geração de energia). Com estudos cada vez mais confiáveis sobre sua capacidade de gerar energia a partir dos ventos, o país mostra-se uma grande “mina” de energia eólica.
A capacidade brasileira nesse campo foi destacada por todos os painelistas da conferência ´Perspectivas para a geração eólica: a energia eólica como complemento de uma matriz energética sustentável visando a geração de novos negócios, ampliação de mercado e desenvolvimento de novas tecnologias`, realizada durante a Eco Power Conference, na última sexta-feira. O painel foi presidido pelo professor Júlio César Passos, do Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC. No departamento são desenvolvidas pesquisas sobre energias renováveis, como a solar e a eólica.
“Quanto mais conhecemos e obtemos informações sobre a freqüencia e a intensidade dos ventos, mais o potencial eólico do Brasil aumenta”, destacou Odilon Antônio Camargo do Amarante, da Camargo Schubert Engenheiros Associados, um dos palestrantes. Segundo ele, a tecnologia para geração de energia eólica também vem avançando muito rapidamente – hoje a altura mínima das torres é de 75 metros e já são usadas torres de até 100 metros de altura.
Os conferencistas chamaram atenção para alguns mitos relacionados à geração eólica. O professor Everaldo Feitosa, vice-presidente da Associação Mundial de Energia Eólica, lembrou que há pouco tempo ainda era muito forte o temor de que as torres de geração matassem pássaros, que poluissem a paisagem e gerassem muito ruído. Alguns destes mitos foram quebrados, mas outros ainda permanecem. Entre eles, a idéia de que a geração eólica não tem capacidade para suprir as necessidades e pode atender somente limites máximos entre 5 e 10% da matriz energética do país, sem que cause inconstância no fornecimento. “Na Dinamarca há geração de até 56% de energia eólica, e somos nós (no Brasil) que possuímos o maior fator de capacidade de geração eólica do planeta”, alertou Everaldo Feitosa.
Além de seu potencial natural em relação à disponibilidade dos ventos, o Brasil tem também importante participação na produção dos equipamentos e componentes necessários à geração eólica – colabora ativamente com o mercado produzindo pás para as torres, entre outros componentes.
Por que motivo então, diante do potencial de seus ventos e de sua indústria, o país cresce pouco neste campo? Para o professor Jens-Peter Molly, do Instituto Alemão de Energia Eólica, falta ao Brasil planejamento e metas claras que permitam ao Brasil se desenvolver em termos de energia eólica. O professor chamou também atenção da platéia para o potencial da energia eólica na geração de empregos – são quase 500 mil empregos indiretos na geração desse tipo de energia na Alemanha. Com o maior parque eólico instalado no mundo (mais de 20.700 MW instalados, chegando, em alguns estados, a fornecimento de até 30% de energia eólica), a Alemanha pretende chegar a 2011 com 29.000 MW e em 2020 com 45.000 MW instalados. Uma visão de futuro inexistente no Brasil para aproveitamento do potencial eólico – ficou explícito na fala de todos os painelistas e debatedores.
Por Arley Reis / Agecom