Professor e poeta Sérgio Medeiros é o convidado do 29º Círculo de Leitura
Professor de literatura na UFSC, Sérgio Medeiros é conhecido dentro e fora do Estado como poeta, tradutor e pesquisador das cosmogonias ameríndias, além de estudioso de personalidades de criação literária pouco difundida – caso do Visconde de Taunay, cuja obra analisa no momento. Para falar de suas leituras, de sua produção, dos autores preferidos e das pesquisas que realiza, Medeiros participa da 29ª edição do Círculo de Leitura, que acontece às 17h do dia 8 de novembro, quinta-feira, no auditório Cruz e Sousa da Editora da UFSC, no campus da Trindade.
O convidado deste mês tem dois livros de poesia publicados no Brasil: Mais ou Menos do que Dois (Iluminuras, 2001) e Alongamento (Ateliê, 2004). Em Assunção, no Paraguai, editou Totem & Sacrifício (Jakembó, 2007), edição bilíngüe português-espanhol. Também tem poemas publicados no México e nos Estados Unidos.
Como tradutor, Sérgio Medeiros é responsável pela edição brasileira do poema maia Popol Vuh (Iluminuras, 2007), trabalho realizado como pesquisa de pós-doutorado na Stanford University, Califórnia, sob a supervisão do especialista em literatura mesoamericana Gordon Brotherston. Também traduziu para o português obras de Lewis Carroll e Gustave Flaubert.
Como pesquisador, Medeiros estuda a obra do Visconde de Taunay, sobretudo os textos relacionados à Guerra do Paraguai. Atualmente, pesquisa o papel dos animais nessa guerra, a partir das Memórias do escritor brasileiro (foi o responsável pela edição da obra para a Iluminuras, em 2005). Paralelamente, estuda as grandes cosmogonias ameríndias, como o Popol Vuh e O Manuscrito de Huarochiri. Ele também é um dos editores do site de arte e cultura www.centopeia.net e colabora com diversos sites de literatura.
Falando do trabalho em sala de aula, diz que um de seus papéis é o de suprir lacunas, porque lê para os alunos de Letras textos de Joyce, Beckett e também o Popol Vuh, coisas que eles não conheceram no colégio. “Quase ninguém leu o que ofereço a eles”, afirma. “É isso que torna a Universidade interessante e essencial para quem gosta de literatura e quer refletir sobre a nossa necessidade de narrar, algo que define o homem e a cultura”.
O projeto
O Círculo de Leitura é um projeto que permite ao convidado e aos presentes discutirem informalmente sobre os livros que estejam lendo, as leituras do passado e as influências de outros autores sobre o seu trabalho. Escritores e jornalistas como Oldemar Olsen Jr., Fábio Bruggemann, Inês Mafra, Mário Pereira, Maicon Tenfen, Cleber Teixeira, Dennis Radünz, Rubens da Cunha, Renato Tapado, Raimundo Caruso, Nei Duclós, Marco Vasques e Mário Prata foram alguns dos participantes das etapas anteriores do projeto.
Breve entrevista
O que está lendo no momento e quais são seus gêneros e autores prediletos?
Sérgio Medeiros – Leio vários livros ao mesmo tempo, mas tenho me empenhado mais ultimamente em ler a obra completa do poeta francês Francis Ponge e um clássico da literatura ameríndia, O Manuscrito de Huarochiri, de autor anônimo. Meu próximo trabalho de tradução será verter para o português essa cosmogonia andina, um grande livro. Meu gênero favorito é poesia, mas às vezes não sei classificar os livros que leio. Poesia para mim não é um fato, um objeto dado de antemão, mas algo que construímos enquanto vamos lendo. Ponge, por exemplo, escrevia em prosa, mas é sobretudo poeta. Joyce também o é, sobretudo nos seus romances.
Que leituras marcaram sua vida e de que forma elas influenciaram em sua decisão de seguir uma carreira intimamente ligada aos atos de ler e escrever?
Sérgio Medeiros – Os poemas de Mallarmé me marcaram muito. A prosa de Mallarmé é tão poética e revolucionária na forma e nas idéias quanto seus versos. Um livro que me marcou e ainda marca é Ulisses de Joyce. O maior romance que já li. Fico fascinado com o seu caráter heterogêneo (cada capítulo tem um estilo diferente) e sua grandeza existencial (os personagens vivem emoções que são sempre atuais). Também me marcaram muito os livros de Lewis Carroll, livros que misturam conceitos como prosa, poesia e imagem. As cosmogonias ameríndias são outros textos fascinantes, na minha opinião de leitor curioso. Dos autores brasileiros, citarei certas páginas do Visconde de Taunay, certas páginas de Sousândrade, certas páginas de Qorpo-Santo e certas páginas de Machado de Assis. Lendo esses autores, vendo que, na obra deles, prosa e poesia se misturam, com certeza fui levado a conceber meus próprios livros de poesia, onde conceitos geralmente separados se confundem: grafismo, palavra, diário, roteiro etc.
Como vê a consolidação de novas formas e suportes de leitura, e de que forma isso pode aumentar o acesso ao conhecimento e à própria leitura como fonte de prazer?
Sérgio Medeiros – Hoje em dia a Internet é algo de fundamental para os leitores – através dela compramos todos os melhores livros que lemos. Compro muita coisa nos Estados Unidos, em Portugal, na França, na Argentina, tudo pela Internet. Sem ela, a vida seria hoje muito pobre, do ponto de vista cultural. Estamos mais próximos de todas as bibliotecas e livrarias do mundo, bibliotecas e livrarias virtuais e reais.
Como vê a produção das novas gerações de escritores e a literatura difundida via Internet? Isso de alguma maneira abalará a primazia do livro e, em caso positivo, em quanto tempo isso efetivamente acontecerá?
Sérgio Medeiros – Colaboro em vários sites de arte e literatura, como “Sibila”, “Cronópios”, “Zunái”, “Agulha” etc. Eu mesmo sou um dos editores do site www.centopeia.net, onde publico muito. Alguns sites são feios, outros refinados e bonitos. Mas é neles que podemos misturar tudo, a palavra, a imagem, o número, o som. É o texto do futuro. E do presente. Pois os novos autores, como Douglas Diegues, por exemplo, se expressam muito, de preferência nos seus respectivos blogs. O livro existe ao lado disso, e às vezes está dentro da Internet, quando não se apropria da Internet, do conceito de hipertexto. Eu vejo tudo isso como algo muito positivo e estimulante. Existem muitos livros, o de papel, o eletrônico, o utópico, nada porém abalará o livro. Agora, os suportes do livro podem mudar e caducar. Isso não é uma tragédia para o conceito de livro, que é o que importa.
Contatos com Sérgio Medeiros podem ser feitos pelo telefone (48) 3284-8903 ou através do e-mail panambi@matrix.com.br.
Paulo Clóvis Schmitz/Jornalista da Agecom