Especial Pesquisa: Projeto busca processos limpos e econômicos para o tratamento de resíduos hospitalares
Um projeto de Iniciação Científica da UFSC contempla os enfoques ambiental e econômico para o tratamento de resíduos dos serviços de saúde. O trabalho da estudante de Engenharia Sanitária e Ambiental Mariah Siebert Zipf faz parte da pesquisa ‘Avaliação Ambiental de Procedimentos de Desinfecção de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS)’, orientada pelo professor Sebastião Roberto Soares.
Mariah explica que o projeto está em fase inicial e tem o objetivo de analisar quatro processos de desinfecção: calagem, autoclave, microondas e vala séptica exclusiva, com ênfase no estudo dos três primeiros. A calagem tem por objetivo a ação neutralizadora e bactericida através do óxido de cálcio. Já a autoclave é um aparelho que esteriliza pelo uso do calor úmido sob pressão e o tratamento no último processo estudado é feito a partir de radiações de microondas.
A eficácia de desinfecção destas técnicas já foi pesquisada e comprovada em outros estudos. Mas a pesquisa da UFSC leva em conta que na escolha do método mais adequado não se deve considerar apenas a eficiência total de desinfecção. Também é preciso considerar os aspectos ambientais e econômicos do ciclo do processo. Assim, o trabalho da estudante busca o método que cause menos impacto ambiental e que seja econômico, já que os custos de tratamento dos resíduos sólidos da saúde são arcados pelas instituições geradoras.
Para as pesquisas utiliza-se a técnica da Avaliação do Ciclo de Vida – ACV (www.ciclodevida.ufsc.br). O ciclo de vida é um instrumento que avalia todo o processo de fabricação do produto, desde a extração de matérias-primas até sua destinação final. Dentro dos conceitos de ACV, estão as análises de matéria-prima e energia utilizadas na fabricação e as emissões atmosféricas, despejos na água, resíduos sólidos que o uso do produto causa. A técnica possui quatro fases de trabalho. As pesquisas de Mariah estão na segunda etapa – análise de inventário, que corresponde à coleta de informações.
A estudante conta que o enfoque ambiental dos processos de desinfecção é pouco encontrado na literatura e que está buscando dados nas próprias empresas fabricantes. Mariah diz que o próximo passo dos estudos será o gerenciamento das informações e a sistematização do processo através de software específico, o GaBi 4. Esse programa computacional é utilizado para identificação de análises de impactos ambientais no ciclo de vida de produtos ou serviços. O mecanismo deverá fornecer indicadores ambientais para cada método, como a influência das técnicas em impactos como chuvas ácidas e efeito estufa.
No momento, Mariah explica que a equipe da pesquisa está aprendendo a usar o software, que também será um importante banco de dados. Os estudos contribuirão para classificar um método eficaz de desinfecção que siga normas de preservação ambiental. Isto garante um cuidado desde o processo de fabricação até o uso adequado dos produtos de tratamento de resíduos de serviço de saúde.
Saiba mais
Os resíduos de serviços de saúde são, em geral, provenientes de hospitais e clínicas médicas. Assim, são muitas vezes chamados de lixo hospitalar. De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do IBGE (2000), a Região Sul coleta cerca de 200 toneladas de resíduos sólidos por dia. No Brasil são coletadas diariamente cerca de 230 mil toneladas de resíduos e 1% corresponde ao lixos hospitalar, aproximadamente 2,3 mil toneladas.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) classifica os resíduos em A, B, C e D. O grupo A corresponde aos resíduos que possuem risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente, pela presença de agentes biológicos (materiais que tenham entrado em contato com secreções e líquidos orgânicos) e materiais perfurantes ou cortantes. No grupo B encontram-se os resíduos químicos; no C, os rejeitos radioativos; e no grupo D, os resíduos comuns.
Há na legislação regulamentações nacionais para a manipulação e tratamento dos resíduos. A Resolução 203/01 regula o tratamento e a destinação final dos lixos hospitalares e a RDC 306, de 2004, dispõe sobre o regulamento técnico para o gerenciamento destes resíduos. Os Estados e municípios também possuem legislações próprias específicas sobre o gerenciamento destes resíduos, estabelecendo normas para a classificação, segregação, armazenamento, coleta, transporte e disposição final.
É antiga a discussão sobre os reais perigos dos lixos hospitalares para a saúde pública e para o meio ambiente. Porém, é comprovado que diferentes microorganismos patogênicos estão presentes nos resíduos sólidos e apresentam tempo de sobrevivência considerável no meio ambiente. Como exemplo, tem-se a bactéria Salmonella sp, com cerca de 60 dias de sobrevivência e o vírus HIV, com até sete dias.
Outras informações com o Laboratório de Resíduos Sólidos: 3721- 9717 e no site www.lareso.ufsc.br
Por Fernanda Rebelo/ Bolsista de Jornalismo na Agecom
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