Um novo estilo de administração

22/10/2007 11:28

Nildo Ouriques e Maurício Pereima

A cada quatro anos você elege um reitor. É comum que passe o mesmo tempo sem sequer encontrá-lo. A cada quatro anos o novo reitor nomeia os pró-reitores. Não é incomum que você não os conheça ou que nunca tenha participado de alguma atividade com eles. A cada quatro anos as esperanças de que seu curso tenha uma antiga demanda atendida se renovam; pouco tempo depois, você percebe, amargurado, que tudo ficará como sempre esteve. A cada quatro anos você vota pensando que o seu Centro poderá ser beneficiado se o reitor for “da casa”. A experiência tem sido amarga. O sentimento de injustiça se estende pelo Campus, pois onde reina o privilégio e a desigualdade ninguém têm carta de cidadania. Os vencedores se sentem culpados enquanto os perdedores se sentem injustiçados.

Nós estamos propondo um novo estilo de administração. Para tal, o critério de representação é decisivo. Neste contexto, o Conselho Universitário deve recuperar sua vitalidade como colegiado de decisões estratégicas. Tanto a convocatória quanto a pauta devem ser feitas com tempo suficiente para que a representação seja valorizada (e não dentro do prazo mínimo regimental), e as sessões devem ser transmitidas por rádio ao vivo e gravadas para posterior disponibilidade eletrônica. O Conselho de Curadores necessita de assessoria permanente – contadores e técnicos com experiência – para que os representantes possam julgar adequadamente.

É preciso submeter os pró-reitores e todas as chefias a um sistema de avaliação, pois a “cultura da avaliação” é, atualmente, parte da vida de todos nós, exceto para os cargos nomeados pelo reitor. Ademais, estamos convencidos de que após dois anos de gestão é preciso um seminário de avaliação – com participação de chefes de departamento, coordenadores de curso e de pós- graduação, chefias nomeadas, entre outros – cujo objetivo será o de verificar até que ponto as metas foram alcançadas e em que medida serão necessárias mudanças de pessoas para cumprir o programa e as demandas que se renovam no Campus e na sociedade. Os compromissos políticos não podem suplantar a competência técnica e tampouco inibir a força dos novos talentos e dos desafios científicos, culturais, institucionais que sempre aparecem.

Os pró-reitores devem atuar mais próximos dos colegiados dos Centros, superando a cultura de gabinete. Uma gestão deve ter capacidade de resolução e as decisões não podem ser adiadas indefinidamente. Todos devem ser escutados, as opiniões respeitadas e as decisões assumidas com a responsabilidade que o cargo exige.

Quanto ao Reitor, cabem a ele algumas decisões. Mas não nos esqueçamos de que, antes de tudo, ele representa a UFSC e não suas próprias convicções. Uma instituição como a Universidade exige respeito à liturgia do cargo. Contudo, uma vez tomada a decisão, é necessário seguir dialogando com todos os afetados. A mesma eficácia com que se decide também deve existir para explicar as razões para toda a comunidade universitária, uma e outra vez. O exercício do poder requer diálogo permanente. As estreitas margens de autonomia devem ser exercidas escrupulosamente. Transparência, é bom recordar, tornou-se uma exigência social e um caminho para a credibilidade da universidade pública.