Parceria entre UFSC e Natura resulta em desenvolvimento de novos cosméticos

30/10/2007 15:29

Já faz algum tempo que a área de pesquisa e desenvolvimento (P&D) aparece entre as empresas como forma de diferenciação de produtos em um mercado de forte concorrência. O principal lançamento da Natura neste ano, o novo produto da linha antiidade Chronos, não foge à regra, mas demonstra mais do que novo investimento em P&D: é fruto da aproximação da maior empresa de cosméticos do país a universidades brasileiras.

O produto para a pele, à base de flavonóides de passiflora, que chegou neste mês ao mercado, foi criado por meio de uma parceria pioneira da empresa com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e representa o primeiro resultado concreto de quatro parcerias feitas pela empresa em 2002 com universidades do país, com financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep): UFSC, Unifesp, UFRJ e Unesp.

De acordo com Daniel Gonzaga, diretor de pesquisa e tecnologia da Natura, vários desses projetos iniciados em 2002 estão em fase de conclusão, com disponibilização de novas tecnologias e conhecimentos que ajudarão na criação de novos produtos, porém ainda sem data definida de lançamento. Segundo ele, o desenvolvimento de produtos até então ocorria por parcerias especialmente com empresas fornecedoras de matérias-primas, e em alguns casos, esporádicos, era feito com universidades.

A invenção do novo Chronos foi bastante curiosa. Segundo Gonzaga, cientistas da própria empresa conheciam a fama de João Calixto, professor de farmacologia da UFSC, como uma das autoridades mundiais na área de fitoterápicos e firmaram uma parceria para estudar a passiflora alata (uma das espécies de maracujá existentes no Brasil), que, segundo ele, já fazia parte do funil de pesquisa da empresa como potencial agente para tratamento de pele.

Gonzaga lembra que os pesquisadores da Natura já conheciam as propriedades medicinais da passiflora e procuraram ampliar o potencial de aplicação deste extrato fitoterápico. Ele afirma que os profissionais da UFSC foram fundamentais na identificação e caracterização de propriedades biológicas da passiflora.

Calixto, no entanto, vai além e explica que a idéia começou a ganhar corpo depois que algumas pesquisas iniciais em outra área deram resultado negativo. Em 2003, quando iniciaram a parceria, a Natura estava focada em uma pesquisa mais voltada à área de farmacologia.

A empresa havia comprado a empresa Flora Medicinal, do Rio de Janeiro, e a parceria inicialmente com Calixto era para reestudar um produto daquela empresa, que contava com três plantas na sua composição, sendo uma delas a passiflora. A intenção era realizar testes para comprovação de sua eficácia. Segundo ele, não foi encontrada eficácia, com o produto, cujo nome não foi revelado, saindo de linha.

Calixto, incomodado com os resultados negativos, decidiu procurar detalhar cada uma das três plantas, com a passiflora alata lhe chamando a atenção pelo seu componente antiinflamatório.

Projeto que resultou em creme antiidade, deu à Federal de Santa Catarina sua primeira patente com a Natura

“Técnicos da Natura passaram então a estudá-lo em conjunto, com duas possibilidades: criação de uma droga só daquele produto ou um cosmecêutico, um cosmético com funções terapêuticas”. Quase quatro anos depois, o resultado foi o Chronos flavonóides de passiflora. “Esse foi um produto curioso, que chegou por linhas tortas”, resumiu o professor de farmacologia.

Antes do flavonóides de passiflora, Calixto havia trabalhado no desenvolvimento do antiinflamatório Acheflan, do laboratório Aché. “Talvez se eu estivesse desde o início em um projeto para desenvolver um cosmético, não teria acertado”, diz ele, que acrescenta que isso não quer dizer que o achado foi por acaso. “Estava procurando alguma coisa. Foi um tiro em um alvo, que acabou acertando em outro”.

O desenvolvimento representou a primeira patente da UFSC, com a Natura, que virou um produto industrial, e estabeleceu um ineditismo em relação à remuneração do pesquisador e da universidade, que negociaram um percentual das vendas do produto, que será revertido para o departamento de Farmacologia e, em parte, também para o núcleo de propriedade intelectual da universidade, e para o pesquisador individualmente.

De acordo com Luiz Otávio Pimentel, diretor do Departamento de Propriedade Intelectual da UFSC, o núcleo de inovação tecnológica, criado no meio deste ano, possibilitou um contato mais profissional por parte da universidade com a empresa.

“Há um método formal de relacionamento com as empresas e a UFSC que passou a ganhar com a propriedade intelectual. “Antes, havia uma relação contratual, mas não clareza dos direitos principalmente da co-titularidade. Era um contato menos profissional e direto com o pesquisador, e a UFSC não recebia parte do resultado”, diz.

Gonzaga, da Natura, prefere não detalhar a remuneração acertada por considerá-la uma informação estratégica. Destaca que as parcerias com universidades “têm permitido à empresa acessar o que há de mais novo na produção de conhecimento científico nas áreas de interesse para a estratégia tecnológica, aumentando as chances de desenvolvimento de inovações de impacto significativo no mercado”.

Além disso, elas também contribuem para reduzir o tempo de desenvolvimento de novas tecnologias, mas esse tempo, segundo a empresa, ainda não é possível precisar. “Estamos ainda em fase de aprendizado na construção do processo de transferência de conhecimento e tecnologia entre universidade e empresa”, pondera.

Sobre essa relação mais estreita entre academia e empresa, Calixto integra o grupo dos pesquisadores que não teme a aproximação da empresa com as universidades como uma forma de colocar o meio científico universitário submetido aos interesses privados. “Claro que a empresa visa o lucro, mas não interferiu no meu trabalho. O papel do cientista é dar ajuda ao país para inovar. Isso gera riqueza para o país, vai reverter em impostos e em mais empregos”.

No primeiro semestre de 2007, a Natura investiu R$ 46,8 milhões em P&D, R$ 11 milhões a mais que no mesmo período de 2006. Um dos principais investimentos deste ano é o novo Centro de Pesquisa e Tecnologia, em Campinas (SP), com previsão de inauguração em 2009, com 250 pesquisadores.

Fonte: Valor Econômico

Vanessa Jungerfeld

26/10/2007

Clipping INPI – http://www.inpi.gov.br/menu-superior/imprensa/clipping/outubro-2007/26-10-2007#5

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