Jovem pesquisador: Estudante colabora com a caracterização da pesca artesanal na Baía Norte

Em campo: 12 meses de contato com a pesca artesanal
Foram longos dias de pesca, cerca de 250 horas trabalhando com os pescadores de Sambaqui e Saco Grande, em Florianópolis; da Caieira e da Fazenda da Armação, em Governador Celso Ramos. O trabalho orientado pela professora Natalia Hanazaki, do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC, tem a intenção de reunir dados sobre a arte da pesca nestes locais, as espécies capturadas e seus valores de mercado, números de pescadores artesanais e ainda a situação sócio-econômica da comunidade pesqueira.
Pescado
O relatório parcial do projeto aponta 37 espécies de peixe, três de crustáceos e uma de réptil na composição do pescado. Durante as saídas acompanhadas pelo estudante foram registradas cerca de quatro toneladas de pescados. Entre as principais espécies capturadas estão Corvina, Tainha, Papa-terra e o Camarão Branco. Este último é o mais desejado: 69% das 24 pescarias foram direcionadas à sua captura.
O projeto também analisa as espécies não-alvo, sendo a Tartaruga Verde a mais freqüente nas pescarias. Segundo o estudante, a relação entre pescador e espécies não-alvo é de simples devolução ao mar, porém algumas apresentam relação de competição e de prejuízo aos pescadores. Por isso, ou não são devolvidas ao mar, ou são soltas depois de mortas. Entre elas estão o Baiacu e o Baiacu Amarelo, que com seus dentes afiados cortam o nylon da rede de pesca e se alimentam de peixes que ficam presos a ela.
Transformação
Aggio explica que o crescimento acelerado de moradores no entorno da Baía Norte modificou a fisionomia e a dinâmica ambiental da região. Além disso, os dados sobre a pesca no local são escassos e não há estudo preciso sobre a técnica de trabalho dos pescadores artesanais. Até mesmo o número de pescadores é incerto, pois a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP) está efetuando um recadastramento.
Sobre a condição de vida dos pescadores, o estudante diz que muitos reclamam da instabilidade econômica da profissão e da dificuldade em planejar suas vidas a longo prazo. Todos os 34 entrevistados não desejam a vida de pescador para seus filhos e investem na educação dos jovens. A renda média é de um a dois salários mínimos, o que faz 65% dos entrevistados buscarem outras fontes, como a maricultura, agricultura, criação de animais, o comércio e trabalho informal de verão, aproveitando o potencial turístico da capital.
Visão crítica
O estudante revela que não foi fácil recolher os dados, pois havia muita desconfiança dos pescadores nas primeiras entrevistas. Mas a cada pescaria, que durava cerca de 4 a 5 horas, eles se sentiam mais à vontade para contar suas histórias e as dificuldades da profissão. A maioria dos problemas é relacionada à condição financeira e também aos conflitos com órgãos reguladores da pesca na região.
Aggio cita o caso da Área de Proteção Ambiental de Anhatomirim (APAA), onde existem regras para a pesca, como a proibição da prática do arrasto. A crítica levantada pelo estudante é a falta de preocupação dos órgãos competentes em orientar os pescadores sobre o porquê de certas proibições, evidenciando que ainda faltam informações básicas sobre a ecologia dos animais marinhos locais e sua interdependência.
Na opinião do estudante, não adianta apenas proibir, é necessário conhecer a vida destas comunidades e investir no co-gerenciamento das áreas pesqueiras, assim será possível apontar alternativas para quem depende dessa atividade e tornar o pescador um aliado da conservação.
O estudo mostra que os pescadores têm uma consciência ambiental e sabem o que deve ou não ser feito para sua manutenção da atividade. Inclusive concordam que a rede de arrasto mata larvas de diversos organismos e captura pescados muito pequenos. Entretanto, apesar de detectar essa visão, o projeto registrou transgressões de leis como o uso do arrasto em local proibido e redes fixas colocadas em costões rochosos. Em ambos os casos, os pescadores conheciam a lei, mas realizaram a pescaria ilegal. O estudante afirma que em nenhuma das pescarias acompanhadas houve fiscalização dos órgãos reguladores.
Os resultados são parciais, já que Aggio renovou sua bolsa por mais um ano. A meta é formular documentos que apresentem um panorama dessa atividade, em linguagem acessível tanto para os pescadores artesanais como para instituições governamentais e não-governamentais que atuam na região. Assim o projeto pretende ser uma fonte de dados para trabalhos futuros de análise e desenvolvimento da pesca artesanal na região da Baía Norte.
Informações: www.ecoh.ufsc.br, fone 3721 9460; e-mail: raphael.aggio@gmail.com
Por Fernanda Rebelo / Bolsista de Jornalismo na Agecom