Jovem pesquisador: Estudante colabora com a caracterização da pesca artesanal na Baía Norte

01/10/2007 09:20

Em campo: 12 meses de contato com a pesca artesanal

Em campo: 12 meses de contato com a pesca artesanal

Acompanhando durante 12 meses o trabalho de oito pescadores, o estudante da 8ª fase do Curso de Biologia da UFSC, Raphael Bastos Mareschi Aggio, caracterizou as principais atividades da pesca artesanal praticada na Baía Norte de Florianópolis. A pesquisa faz parte do projeto “Caracterização da pesca artesanal no mosaico de áreas protegidas do litoral de Santa Catarina”, que será apresentado no XVII Seminário de Iniciação Científica da UFSC, nos dias 3 e 4 de outubro.

Foram longos dias de pesca, cerca de 250 horas trabalhando com os pescadores de Sambaqui e Saco Grande, em Florianópolis; da Caieira e da Fazenda da Armação, em Governador Celso Ramos. O trabalho orientado pela professora Natalia Hanazaki, do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC, tem a intenção de reunir dados sobre a arte da pesca nestes locais, as espécies capturadas e seus valores de mercado, números de pescadores artesanais e ainda a situação sócio-econômica da comunidade pesqueira.

Pescado

O relatório parcial do projeto aponta 37 espécies de peixe, três de crustáceos e uma de réptil na composição do pescado. Durante as saídas acompanhadas pelo estudante foram registradas cerca de quatro toneladas de pescados. Entre as principais espécies capturadas estão Corvina, Tainha, Papa-terra e o Camarão Branco. Este último é o mais desejado: 69% das 24 pescarias foram direcionadas à sua captura.

O projeto também analisa as espécies não-alvo, sendo a Tartaruga Verde a mais freqüente nas pescarias. Segundo o estudante, a relação entre pescador e espécies não-alvo é de simples devolução ao mar, porém algumas apresentam relação de competição e de prejuízo aos pescadores. Por isso, ou não são devolvidas ao mar, ou são soltas depois de mortas. Entre elas estão o Baiacu e o Baiacu Amarelo, que com seus dentes afiados cortam o nylon da rede de pesca e se alimentam de peixes que ficam presos a ela.

Transformação

Aggio explica que o crescimento acelerado de moradores no entorno da Baía Norte modificou a fisionomia e a dinâmica ambiental da região. Além disso, os dados sobre a pesca no local são escassos e não há estudo preciso sobre a técnica de trabalho dos pescadores artesanais. Até mesmo o número de pescadores é incerto, pois a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP) está efetuando um recadastramento.

Sobre a condição de vida dos pescadores, o estudante diz que muitos reclamam da instabilidade econômica da profissão e da dificuldade em planejar suas vidas a longo prazo. Todos os 34 entrevistados não desejam a vida de pescador para seus filhos e investem na educação dos jovens. A renda média é de um a dois salários mínimos, o que faz 65% dos entrevistados buscarem outras fontes, como a maricultura, agricultura, criação de animais, o comércio e trabalho informal de verão, aproveitando o potencial turístico da capital.

Visão crítica

O estudante revela que não foi fácil recolher os dados, pois havia muita desconfiança dos pescadores nas primeiras entrevistas. Mas a cada pescaria, que durava cerca de 4 a 5 horas, eles se sentiam mais à vontade para contar suas histórias e as dificuldades da profissão. A maioria dos problemas é relacionada à condição financeira e também aos conflitos com órgãos reguladores da pesca na região.

Aggio cita o caso da Área de Proteção Ambiental de Anhatomirim (APAA), onde existem regras para a pesca, como a proibição da prática do arrasto. A crítica levantada pelo estudante é a falta de preocupação dos órgãos competentes em orientar os pescadores sobre o porquê de certas proibições, evidenciando que ainda faltam informações básicas sobre a ecologia dos animais marinhos locais e sua interdependência.

Na opinião do estudante, não adianta apenas proibir, é necessário conhecer a vida destas comunidades e investir no co-gerenciamento das áreas pesqueiras, assim será possível apontar alternativas para quem depende dessa atividade e tornar o pescador um aliado da conservação.

O estudo mostra que os pescadores têm uma consciência ambiental e sabem o que deve ou não ser feito para sua manutenção da atividade. Inclusive concordam que a rede de arrasto mata larvas de diversos organismos e captura pescados muito pequenos. Entretanto, apesar de detectar essa visão, o projeto registrou transgressões de leis como o uso do arrasto em local proibido e redes fixas colocadas em costões rochosos. Em ambos os casos, os pescadores conheciam a lei, mas realizaram a pescaria ilegal. O estudante afirma que em nenhuma das pescarias acompanhadas houve fiscalização dos órgãos reguladores.

Os resultados são parciais, já que Aggio renovou sua bolsa por mais um ano. A meta é formular documentos que apresentem um panorama dessa atividade, em linguagem acessível tanto para os pescadores artesanais como para instituições governamentais e não-governamentais que atuam na região. Assim o projeto pretende ser uma fonte de dados para trabalhos futuros de análise e desenvolvimento da pesca artesanal na região da Baía Norte.

Informações: www.ecoh.ufsc.br, fone 3721 9460; e-mail: raphael.aggio@gmail.com

Por Fernanda Rebelo / Bolsista de Jornalismo na Agecom