Encontro alerta para relação entre agricultura e aquecimento global
Terceiro maior reservatório de carbono do planeta (o primeiro é o oceano e o segundo as reservas fósseis), o solo é foco de um evento que prossegue até quinta-feira (1/11) em Florianópolis, no Hotel Maria do Mar. O VII Encontro Brasileiro de Substâncias Húmicas reúne pesquisadores nacionais e estrangeiros em torno de questões estratégicas como fertilidade do solo, produção agrícola e sua relação com impacto ambiental e aquecimento global. Nesta edição o evento tem como tema central as inter-relações das substâncias húmicas na regulação da vida na terra pelas diversas áreas da ação humana. A organização é do Departamento de Química da UFSC.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Ladislau Martins Neto, as substâncias húmicas estão diretamente relacionadas com a fertilidade do solo e o aproveitamento de seu potencial é estratégico para retenção do carbono, que ao ser liberado para a atmosfera se transforma no CO2, um dos principais gases causadores do efeito estufa. Uma saída viável, aceita pelo Protocolo de Kyoto, seria fazer diminuir a formação de CO2 e aumentar a transformação natural da matéria orgânica do solo em substâncias húmicas, que podem permanecer estáveis por mais de mil anos.
“A sociedade está preocupada em desenvolver formas de seqüestrar o carbono no solo e a agricultura orgânica é um grande potencial”, explica Ladislau. Segundo ele, atualmente há muitos dados práticos que mostram o quanto as chamadas substâncias húmicas são importantes para a agricultura, mas são as pesquisas que ajudarão a comprovar este potencial. “Entender o funcionamento destas substâncias é fundamental para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável”, alerta. “O Brasil que já tem uma posição positiva com relação à produção de biocombustíveis e tem também que saber explorar o potencial de sua agricultura na redução do impacto ambiental”, defende o pesquisador. Ele explica que os estudos com as substâncias húmicas podem também proporcionar uma redução do uso de pesticidadas e fertilizantes (daí a forte relação com a agricultura orgânica).
O que são as substâncias húmicas
As substâncias húmicas são formadas pela transformação durante o processo de decomposição de resíduos vegetais e animais presentes no ambiente. Por isso são importantes condicionantes da qualidade e biodiversidade do solo. Conferem cor escura à terra, melhorando suas características físicas, químicas e biológicas e possuem grande capacidade de retenção de calor, influenciando na germinação de raízes.
A ação destes compostos chamou a atenção da comunidade agronômica de todo mundo a partir de meados dos anos 40. Na década de 60 várias universidades e serviços de extensão começaram a experimentar seu uso para melhoria de solo e fertilidade. Desde então, pesquisadores no mundo todo vêm trabalhando com estas substâncias e um número crescente de experiências de campo vêm demonstrando seus benefícios na agricultura. Elas melhoram a estrutura do solo, com efeitos diretos na produção, produtividade e qualidade de diversos cultivos.
O VII Encontro Brasileiro de Substâncias Húmicas acontece no Hotel Maria do Mar, em Florianópolis, até quinta-feira (1/10). Entre os conferencistas estão os especialistas Paul R. Bloom, da University of Minnesota (EUA), Michael Spiteller, da Universität Dortmund (Alemanha), Patrick J. Farmer, da University of California (EUA), Alessandro Piccolo, da Universitá di Napoli Frederico II (Itália), e Fritz H. Frummel, do Institut der Universität Karlsruhe (Alemanha). Também estão em Florianópolis técnicos da Embrapa e pesquisadores de várias universidades brasileiras. Na UFSC a coordenação do evento é do professor Bruno Szpoganicz, do Departamento de Química.
Mais informações nos sites www.qmc.ufsc.br/ebsh. Para contato com os pesquisadores: 9952 5650, professor Bruno Szpoganicz
Por Arley Reis / Agecom
Saiba Mais:
– O conceito de seqüestro de carbono foi consagrado pela Conferência de Quioto, em 1997, com a finalidade de conter e reverter o acúmulo de CO2 na atmosfera, visando à diminuição do efeito estufa.
– Os ecossistemas terrestres que compreendem a floresta e o solo são considerados atualmente como um grande sumidouro (do inglês “sink”) de carbono, especialmente os solos. Há evidências de que o solo possa resultar em significativa redução no aumento dos gases do efeito estufa.
Fonte: Wikipédia