UFSC é referência na língua de sinais no Brasil
A partir de 2008, o curso de graduação em Letras/Libras da UFSC estará habilitado a formar tradutores e intérpretes da Língua Brasileira de Sinais a partir da opção bacharelado. Até agora, o curso oferecia somente a opção licenciatura, que capacita profissionais a lecionarem em Libras.
A Língua Brasileira de Sinais, ou Libras, é a língua materna dos surdos brasileiros e, como tal, pode ser aprendida por qualquer pessoa interessada pela comunicação com essa comunidade. O idioma dos surdos só se tornou reconhecido no País como meio legal de comunicação e expressão em 2002, quando foi oficializado pela Lei de Libras (lei nº 10.436), que busca a inclusão social do deficiente auditivo. Em 2005, a lei foi regulamentada por meio do decreto nº 5.626, que estabeleceu o prazo de 10 anos para que a disciplina de Libras seja oferecida em todos os cursos de graduação.
A partir dessas decisões, em 2006 foi criada a primeira graduação de língua de sinais da América Latina. A Universidade Federal de Santa Catarina, com experiência na formação de pessoas surdas e na produção de conhecimento neste campo, ficou responsável pela coordenação das outras seis universidades brasileiras que também oferecem o curso. Cada unidade é chamada de pólo, local onde os graduandos reúnem-se e onde também funciona a coordenação de cada estabelecimento.
No próximo ano, mais oito universidades brasileiras irão integrar o grupo das instituições que oferecem o curso Letras/Libras, todas com as opções em licenciatura e em bacharelado e com 60 vagas. Cada pólo possui dois tutores (professor-assistente) para cada 28 alunos, um intérprete de libras e um coordenador responsável pela unidade, pela recepção das videoconferências, encaminhamento das avaliações e garantia da acessibilidade dos alunos na instituição.
Vagas vão triplicar
O curso é oferecido na modalidade a distância e por isso conta com o auxílio de DVD-guia, material on-line e impresso e equipamentos que permitam aulas por videoconferências em um ambiente virtual de aprendizagem. “Esse curso é de extrema importância, pois nunca os surdos tiveram oportunidades de estarem em uma universidade federal em grande número. Indo além, o resultado deste curso será o aumento de professores surdos habilitados no ensino de língua de sinais para surdos e ouvintes”, diz a professora tutora surda Shirley Vilhalva. As aulas presenciais correspondem a 30% do curso e são realizadas a cada 15 dias. São 500 alunos matriculados no Brasil, mas 450 novas vagas serão abertas com o início do bacharelado e mais 450 para licenciatura, totalizando 1.400 vagas para todo o País.
“O curso de Letras/Libras é inédito, excelente, não tenho como expressar a emoção de estar vendo de perto toda a construção deste curso, que sempre foi almejado pelo povo surdo. Temos recebido as disciplinas dos melhores professores e pesquisadores do País”, complementa Shirley.
Segundo Ronice Muller de Quadros, coordenadora responsável pelo projeto de criação e oferecimento do curso em âmbito nacional, a nova lei criou uma grande demanda por profissionais com essa graduação. Ela acrescenta que o baixo índice de desistência – em torno de 6% – é uma das grandes conquistas do Libras em relação à maioria dos cursos a distância, em que esse número sobe para 20%, em média.
O processo de seleção ocorre em todo o País e é feito em etapa única. A prova é elaborada pela Comissão Permanente do Vestibular (Coperve-UFSC) com 15 questões sobre conhecimentos gerais, formuladas em libras, e cinco sobre conteúdos da língua portuguesa, em português. Os interessados em fazer a prova podem ser ouvintes ou surdos, desde que sejam fluentes em libras.
Exame de certificação
A língua de sinais não é universal e há diferentes línguas para cada comunidade de surdos. No Brasil, existem cerca de 170 mil surdos, de acordo com o último censo, realizado em 2000, que compreendem e interagem com o mundo por meio da visão. O estudante Deonísio Schmitt, 31 anos, é um deles, e considera o aspecto gramatical o mais importante na aprendizagem da língua, que apresenta todos níveis de análise de quaisquer outras línguas, ou seja, o nível sintático (da estrutura), o nível semântico (do significado), o nível morfológico (da formação de palavras), o nível fonológico (das unidades que constituem uma língua) e o nível pragmático (envolvendo o contexto conversacional).
A UFSC também é responsável pela elaboração do Pró-Libras, o exame nacional para certificação de proficiência no uso e no ensino de Libras, que atende a pessoas fluentes em libras mas que não possuem uma certificação. Por meio do exame, elas são reconhecidas e autorizadas legalmente a lecionar a língua. Este ano, a prova será no dia 7 de outubro em todo o Brasil, com cerca de quatro mil candidatos inscritos.
Universidades que já oferecem o curso
Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do Ceará (UFC), Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás (Cefet/GO), Instituto Nacional de Educação de Surdos do Rio de Janeiro (INES/RJ), a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a Universidade Estadual de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Universidades que oferecerão o curso a partir de 2008
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade Federal de Grande Dourados – MS (UFGD), Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte (Cefet – RN), a Universidade de Campinas – SP (Unicamp) e Universidade Federal do Pará (UFPa).
Mais informações: Ronice Muller de Quadros, no telefone (48) 3721-6586
Mayara Vieira/Bolsista de Jornalismo da Agecom