ESPECIAL PESQUISA: Em trabalhos com comunidades rurais UFSC desenvolve usos alternativos da floresta

Estudos geram tecnologias para uso racional dos recursos
Agora diversos agricultores da região de Caçador não eliminam mais as mudas de casca-de-anta nas roçadas, cientes de que se trata de um recurso valioso. A retirada da casca, que está proporcionado renda a partir de um recurso não explorado comercialmente na propriedade, é exemplo do potencial da floresta como geradora de renda. Para o grupo de professores e estudantes que integram o Núcleo, uma possibilidade estratégica de conciliar uso e conservação dos recursos florestais.
Radiografias para uso adequado das espécies
A casca-de-anta é exemplo bastante recente em relação a outras plantas de grande importância social e econômica já estudadas pelo grupo. Entre elas estão a araucária, a bracatinga, a imbuia, a espinheira-santa, a samambaia–preta e a palmeira juçara – de onde vem o palmito e que agora volta a receber atenção especial em função do sucesso do açai.
A partir das informações básicas, o Núcleo chega a “radiografias” que mostram como a espécie se distribui, como se reproduz, como são seus frutos, em que condições cresce, que animais estão envolvidos na distribuição de suas sementes. Com esse diagnóstico, propõe critérios para exploração, definindo parâmetros que garantam que a planta vai continuar se reproduzindo e se espalhando na floresta.
A busca dessa fundamentação científica para conservação da Mata Atlântica e ecossistemas associados já resultou em documentos que subsidiam a legislação florestal nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Entre as principais contribuições estão documentos como ´Fundamentos para o manejo do Palmiteiro´ (usado em resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente – Conama); ´Fundamentos para o manejo da samambaia-preta (usado em instrução normativa da Secretaria de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul) e ´Fundamentos para o uso sustentável da bracatinga´ (usado em instrução normativa da Fatma, fundação de Meio Ambiente de Santa Catarina).
O Núcleo também já tem resultados para uso e conservação da espécie de espinheira-santa mais utilizada em programas de fitoterapia no Brasil. Assim como outros trabalhos, os estudos com a espinheira-santa foram realizados em conjunto com pequenos proprietários rurais, neste caso localizados na cidade de Guarapuava (PR).
Outra conquista em um processo participativo com a comunidade, com retorno econômico e de conservação, é o trabalho com a samambaia-preta. Até 2006, as folhas da espécie, usada em todo o país em arranjos ornamentais, eram exploradas irregularmente no Rio Grande do Sul – o principal produtor brasileiro dessa planta.
Trabalhos com diferentes comunidades
Chamado a participar do projeto Samambaia-Preta, desenvolvido por diferentes instituições do estado gaúcho, o núcleo da UFSC agora pode listar entre os resultados de suas pesquisas uma normatização para coleta das folhas da samambaia, importante fonte de renda para diversas famílias do Rio Grande do Sul. Além do documento que subsidiou a instrução normativa, foi gerada uma cartilha que mostra como as folhas devem ser coletadas sem que a planta seja prejudicada e continue produzindo.
Projeto importante também está sendo compartilhado com agricultores de áreas de assentamento de reforma agrária no meio oeste catarinense, para estudo dos bracatingais. A proposta é desenvolvida numa parceria entre a UFSC (Núcleo de Pesquisas em Florestas Tropicais), Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária/Superintendência Regional em Santa Catarina), Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis/Gerência Executiva em Santa Catarina/Floresta Nacional de Caçador) e Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A./Estação Experimental de Caçador), e ainda financiamento do CNPq.
O desafio é apoiar a venda de diferentes produtos da bracatinga em cadeias produtivas legalizadas e adequar os instrumentos legais relativos ao manejo dessa espécie – uma das mais usadas no país para produção de lenha e carvão. Os estudos já realizados mostraram que a exploração seletiva exigida pela legislação inviabilizava o sistema tradicional de exploração usado pelos agricultores. Por isso, os estudos do Núcleo deram sustentação a uma nova instrução normativa para manejo dos bracatingais em situações específicas. Válida somente para os sistemas tradicionais de condução, a proposta considera as práticas feitas por agricultores familiares e assentados da reforma agrária em SC. “O documento tem o mérito de reconhecer o sistema tradicional dos agricultores e viabiliza suas práticas”, considera o professor Maurício Sedrez dos Reis, coordenador do Núcleo de Pesquisas em Florestas Tropicais.
Segundo o grupo, os estudos realizados ao longo dos últimos 25 anos culminaram “na geração de subsídios reais e eficazes” para uso das espécies estudadas. No caso do palmiteiro, por exemplo, auxiliaram na criação de uma legislação relacionada à produção, à conservação e ao manejo desta espécie. Os estudos também contribuíram para formação de recursos humanos altamente capacitados para os resultados a técnicos e a proprietários rurais que desejam extrair os palmiteiros de suas propriedades.
O know how obtido com essa espécie, que já foi carro-chefe das pesquisas do Núcleo, faz com que o conhecimento avance com maior rapidez também em relação às demais e permite que o núcleo cumpra sua missão de formar profissionais para que as áreas florestais sejam usadas como recurso renovável.
Mais informações na UFSC: (48) 3721-5321; e-mail: npft.ufsc@gmail.com
Por Arley Reis / Jornalista da Agecom