Livro analisa o imperialismo no mundo contemporâneo

20/08/2007 16:31

A invasão do Iraque por tropas americanas e aliadas, em 2003, levou o sociólogo, professor e pesquisador norte-americano James Petras a produzir uma série de artigos nos quais condena o uso ostensivo da força e da persuasão para reforçar o poder imperial dos Estados Unidos no mundo. O resultado é o livro Imperialismo e luta de classes no mundo contemporâneo, que sai pela Editora da UFSC, com tradução de Eleonora Frankel Barreto. O lançamento aconteceu ontem, dia 23, quinta-feira, às 17h, na Galeria de Arte da UFSC, no campus da Trindade.

A América Latina, alvo recorrente do imperialismo americano, merece destaque nos capítulos iniciais da obra, que também se detém na conexão estadunidense com Israel e no papel da mídia como instrumento legitimador das ações militares feitas diretamente ou através de terceiros pelos Estados Unidos. O autor busca ainda identificar as conseqüências do neoliberalismo sobre as sociedades locais, desmistificar os governos de esquerda que têm se implantado na América do Sul via eleitoral e analisar, nesse processo, o papel da educação, que tende a se transformar cada vez mais, seguindo o modelo do Banco Mundial, em “serviço” – ou seja, mercadoria.

No caso específico do Iraque, a estratégia americana consistiu em destruir a economia daquele país, o que minou a unidade nacional do mesmo, enquanto os grupos religiosos e étnicos foram polarizados e politizados. Isso provocou uma potencialização do poder de Israel no Oriente Médio. Na leitura de James Petras, o plano para “democratizar” a região significava essencialmente um controle conjunto por parte dos EUA e Israel, por meio de uma série de guerras em cascata, envolvendo também a Síria, o Irã e até o Líbano.

Um dos capítulos do livro analisa a parcialidade com que a mídia americana trata as ações militares no Iraque, onde milhares de mortes ocorrem em nome da luta contra um terrorismo que, superdimensionado, parece justificar a destruição em massa de cidades e o ataque contra populações civis. Neste campo, Petras compara o noticiário dos telejornais americanos à propaganda política nazista, que dava retaguarda a ações do exército de Hitler em suas jornadas para “libertar” povos supostamente oprimidos por inimigos de difícil caracterização.

O papel da mídia e da linguagem que esta usa para legitimar a política imperialista é um dos pilares do livro, mas o autor se estende com mais vagar também nos enfoques econômico (papel desempenhado pelas mega-corporações transnacionais) e militar (ações bélicas em diferentes lugares do planeta) da questão.

Na visão de James Petras, as empresas multinacionais são um dos eixos que fundamentam o poder econômico do imperialismo. Os Estados Unidos têm 45% das 500 multinacionais mais importantes do mundo, e a globalização se consolida em vista do poder derivado dessas empresas. Não por acaso, elas ocupam os primeiros lugares no rol das indústrias militares relacionadas com a guerra e a construção do império estadunidense.

Autor de mais de 40 livros, entre eles O Brasil de Cardoso: a desapropriação do país e Armadilha neoliberal, Petras é um autor engajado que analisa temas dos quais se esquiva a maioria dos intelectuais brasileiros. “Enquanto muitos estão em retirada, pautando suas vidas e pesquisas tão-somente por agências financiadoras, quando não pela moda, Petras trabalha os mecanismos de dominação do Estado imperial e o aumento da luta de classes em toda a América Latina”, diz Waldir José Rampinelli, professor de História da América na UFSC, na orelha do volume.

Imperialismo e luta de classes no mundo contemporâneo

James Petras; trad. de Eleonora Frenkel Barreto

EdUFSC (coleção Rien)

208 p., R$ 25,00