Livro aborda a ética do uso de animais na experimentação científica

06/08/2007 18:07

Em qualquer capítulo ou página em que é aberto, o livro Ética e experimentação animal – Fundamentos abolicionistas, de Sônia T. Felipe (EdUFSC, 352 pág.), traz uma revelação, um dado histórico, uma constatação aterradora ou uma reflexão pertinente sobre a utilização de animais em experimentos científicos. A obra foi lançada dia 11 de agosto na livraria Livros & Livros (rua Jerônimo Coelho, 215, Centro), em Florianópolis.

Filósofa, professora e pesquisadora do Departamento de Filosofia da UFSC, Sônia Felipe reconstitui os argumentos contrários à experimentação em animais vivos, com base em quatro perspectivas morais distintas: a das tradições religiosas antigas, a da filosofia moderna e contemporânea, a da ciência e a da tradição jurídica. Em todas elas, há fartos argumentos que sustentam a tese do valor inerente à vida de todas as espécies, e outros que defendem o uso dessas espécies para servirem aos propósitos ou benefícios humanos.

Entre os temas abordados pela autora estão a herança cartesiana na ciência do modelo animal, as evidências da dor e do sofrimento em vista dos experimentos em laboratório, as controversas científicas em relação ao tema e o estatuto dos animais nas concepções religiosas tradicionais e sob o ponto de vista das morais cristã, judaica, islâmica, hinduísta, budista e confucionista.

Não menos relevante é o estudo dos argumentos conservadores, bem-estaristas e abolicionistas, que discutem a suposta marginalidade moral e os direitos dos animais, as evidências da dor e a consideração dos interesses – não expressos, pela ausência da linguagem verbal – de todas as espécies. No capítulo que trata das controvérsias jurídicas, a autora analisa o estatuto dos animais, mudanças de perspectivas da comunidade científica na abordagem do tema e a fundamentação da ética da proteção constitucional dos animais.

Há estimativas de que 500 milhões de experimentos são realizados a cada ano envolvendo animais vivos ao redor do planeta. São práticas destinadas a determinar os efeitos benéficos ou nocivos, sobre o organismo humano, de milhares de componentes químicos utilizados em remédios e produtos de uso da medicina e da indústria contemporânea. A justificativa para esses procedimentos é a cura de doenças humanas, a minimização da dor e do sofrimento – físico e psíquico – humanos. Neste sentido, os animais são vistos como “coisas”, desconsiderando aspectos inerentes às suas naturezas para se auto-determinarem, proverem-se e perpetuarem suas espécies.

No último capítulo, que intitulou de “Crítica à moralidade indiferente”, Sônia Felipe afirma: “Interesses humanos, por mais triviais que sejam, como os de embelezar-se, parecer elegante, charmoso, ou até mesmo divertir-se para esquecer, por instantes, a monotonia da própria vida, são considerados superiores a quaisquer interesses animais, mesmo que estes sejam os de viver e não sofrer”.

Ética e experimentação animal – Fundamentos abolicionistas

Sônia T. Felipe

Editora da UFSC

352 pág., R$ 40,00

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Sônia T. Felipe

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