Pesquisa mostra que água do Ribeirão da Ilha está própria para a maricultura

Análises: 90 amostras de água e 180 de ostras
Os resultados já foram apresentados aos integrantes da Associação dos Maricultores do Sul da Ilha (Amasi), parceira no desenvolvimento do trabalho. Os testes integram um amplo projeto da UFSC aprovado pelo CNPq e que tem como objetivo monitorar a qualidade higiênico-sanitária de águas de cultivo e de moluscos produzidos na Baía Sul da Ilha de Santa Catarina. Apesar da importância do Estado no cenário da maricultura nacional, não existiam dados tão amplos sobre a qualidade bacteriológica da água de cultivo na Baía Sul.
As análises da água e das ostras foram realizadas a partir da dissertação de mestrado de Roberta Juliano Ramos, desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos, ligado ao Centro de Ciências Agrárias da UFSC. O estudo foi defendido no dia 27 de junho.
Foram realizadas 15 coletas de água e de ostras num período de 12 meses, em seis pontos do Ribeirão da Ilha: Caieira da Barra do Sul, Tapera do Ribeirão, Costeira do Ribeirão, Freguesia do Ribeirão, Barro Vermelho e Tapera da Base Aérea. Foram avaliadas 90 amostras de água e 180 de ostras, com análises comparadas a padrões nacionais e internacionais.
O trabalho levou em conta que há dois grupos de bactérias que contaminam os produtos marinhos. Existem aqueles que estão naturalmente presentes no ambiente aquático, como o Vibrio spp, e outros que são relacionados à contaminação por resíduos humanos (saídas de esgotos, por exemplo) ou de animais (como fezes de pássaros).
As análises da água

Coletas: 15 saídas de campo, durante um ano
O grupo dos coliformes a 45°C é o principal parâmetro utilizado tanto na legislação brasileira como em legislações internacionais, e como possui pouca tolerância à salinidade das águas do mar, sua detecção neste ambiente revela uma descarga constante de esgoto. A Escherichia coli é a mais importante bactéria do grupo dos coliformes a 45°C, sendo um significativo indicador de qualidade higiênico-sanitária (sua presença indica contaminação fecal recente) e quando presente em grandes quantidades pode causar intoxicação alimentar.
De acordo com Roberta, todos os resultados encontrados estão de acordo com os parâmetros estabelecidos, não só pela legislação brasileira, como com parâmetros internacionais, estando, portanto, todas as regiões aptas para o cultivo de moluscos.
Sanidade das ostras
Na carne das ostras foram realizadas análises bacteriológicas para verificação dos coliformes a 35°C e 45°C, de Escherichia coli, Estafilococos coagulase positivo, Salmonella spp e Vibrio spp. Também neste caso os resultados estavam coerentes com os parâmetros indicadores de qualidade.
No caso de Salmonella spp – uma das mais comuns bactérias relacionadas às infecções alimentares – nenhuma das 180 amostras analisadas estava contaminada, atendendo a RDC 12/2001 – ANVISA, que estabelece ausência de Salmonella ssp. em 25g de amostra. A Escherichia Coli, que em elevadas contagens pode causar intoxicação alimentar, com reações que incluem diarréia e vômitos), e que foi isolada em 42% das amostras de água, na grande maioria das amostras de ostras não foi detectada. Além disso, nas amostras em que foi confirmada a presença deste microrganismo, as contagens foram bastante baixas.
Roberta ressalta que, embora a legislação brasileira em vigor não estabeleça padrões de coliformes a 45°C para moluscos bivalves in natura refrigerados ou congelados, se fosse considerada a portaria 451/1997 do Ministério da Saúde, já revogada, que estabelecia este índice, todas as amostras analisadas atenderiam à legislação.
Em relação às contagens de Estafilococos coagulase positivo, que estão diretamente relacionadas à higiene dos manipuladores de alimentos, e em presença elevada podem também levar a um intoxicação alimentar, os testes mostraram padrões adequados. “Todas as amostras analisadas encontravam-se não só de acordo com os limites estabelecidos através da RDC 12/2001- ANVISA, como apresentando contagens muito aquém destes limites”, frisa Roberta.
O trabalho também permitiu análises sobre as condições de temperatura, salinidade, turbidez e pH das águas de cultivo, verificando a existência de correlação entre estes parâmetros e níveis de contaminação, tanto nas águas de cultivo como nas ostras. Foi ainda avaliado o índice pluviométrico na região da Grande Florianópolis e verificada a existência de correlação com a os níveis de contaminação bacteriológica das águas de cultivo e das ostras.
Alertas
A mestranda destaca em sua dissertação, que embora todas as regiões tenham sido consideradas aptas para o cultivo de moluscos bivalves, foram observadas diferenças estatísticas significativas entre as contagens de coliformes a 45°C nas amostras de água de cultivo da região onde foi encontrada a maior média de contaminação e das duas localidades com menores médias.
“As elevadas contagens de coliformes a 45°C encontradas isoladamente em algumas amostras, reforçam a necessidade de um programa de monitoramento da qualidade das águas de cultivo de moluscos bivalves contínuo, garantindo assim, a segurança alimentar do consumidor”, destaca a mestranda.
Por isso, apesar dos resultados positivos, a dissertação traz recomendações para regiões de maricultura e alerta poder público e população para a necessidade de implantação de sistemas de saneamento básico em regiões onde são cultivados moluscos destinados à alimentação humana. Uma das recomendações é a manutenção de programas de monitoramento constante.
“É importante deixar claro a necessidade de monitoramento contínuo das áreas de cultivo”, ressalta a professora Cleide Rosana Vieira Batista, orientadora do trabalho. Ela lembra que a qualidade do ambiente aquático varia segundo condições do clima, das marés e correntes marinhas. “A maricultura é muito diferente da produção de um alimento dentro de uma fábrica, onde as condições são controladas”, ressalta a professora.
Continuidade
O projeto aprovado pelo CNPq prevê como próximo passo um trabalho junto aos maricultores para esclarecimento e difusão de boas práticas de cultivo. Estas atividades serão realizadas a partir de uma tese de doutorado, também em desenvolvimento junto ao programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia dos Alimentos da UFSC.
Serão ainda realizadas novas análises da água e de ostras coletadas nos pontos que mesmo estando dentro dos índices preconizados pela legislação apresentaram contagens mais elevadas. A avaliação sobre estes pontos será detalhada para possibilitar a detecção das fontes de contaminação. “Agora vamos mostrar ao maricultor que cuidados ele deve ter para garantir a qualidade”, explica a professora.
Mais informações:
– Roberta Juliano Ramos, fone: 3721 5379; e-mail: robertajulianoramos@yahoo.com.br
– Professora Cleide Rosana Vieira Batista, fone:3721 5378, e-mail: cbatista@mbox1.usfc.br
Por Arley Reis / Agecom
























