Poetas nunca estão prontos – amadurecem, de maneira teimosa e permanente. Isso é o que também se pode dizer de Alcides Buss, cuja poesia denuncia o que Miguel Sanches Neto, outro autor expressivo da atual geração, chama de “perplexidade de existir num tempo de virtualidades sufocadoras”. Essa plenitude em construção está em ´Olhar a vida`, livro que Buss lança quinta-feira, dia 5, às 18h, na livraria Livros & Livros (rua Jerônimo Coelho, 215, Centro), em Florianópolis. O selo é da Insular.
Se é pela palavra que ele exercita a cidadania e expressa sua angústia de estar no mundo, para o leitor Alcides Buss deixa a possibilidade de deleite de uma poesia que é, ao mesmo tempo, lírica e metafísica e que faz do destino, do sonho – o contraponto do “mercenário cotidiano” – e da preocupação com o tempo, com o correr das horas e dos dias, o seu cerne temático.
O palpitar da vida que avança rumo ao imponderável, as sombras e os rios recorrentes, a nostalgia das coisas perdidas no passado, a reflexão sobre o próprio devir poético – tudo isso está nas páginas de `Olhar a vida`. “Tenho comigo palavras incertas”, confessa Buss ao admitir sua luta diária com o texto. Porém, como ele diz em outro ponto, “sem riscos (…), que graça há em viver?”
O poeta detrata os automóveis que sufocaram o tempo em que se “podia ouvir o canto dos jasmins”. Diante dos ruídos do universo, ele é um “âmbar de resíduos siderais” que não se prende aos fatos, pois fica à vontade quando se abre “o nonsense da ruptura”. No mais, apesar da dúvida da própria existência, emergem a certeza do corpo, da palavra e da memória, e a lembrança de lugares, amores e sensações vividas ou pensadas em algum momento – matéria-prima da obra em persistente gestação.
O autor
Alcides Buss nasceu na localidade de Ribeirão Grande, atual município de Salete, no Alto Vale do Itajaí, em 1948. Com a família, morou em outras cidades de Santa Catarina e do Paraná, até fixar-se em Joinville, onde teve um papel de destaque na gestão cultural e na criação de projetos de resgate e circulação da cultura popular. Em 1980, transferiu-se para Florianópolis, onde assumiu a função de professor de Teoria Literária na UFSC.
Começou a publicar em 1970, com a edição de Círculo quadrado, paga com seus próprios recursos. Depois, foram outros 19 livros, quase todos de poesia, à exceção de dois títulos para crianças (Poesia do ABC e Pomar de palavras) e de volumes que ele organizou, como a “Antologia do Varal Literário”, de 1983. Publicou pelas editoras Lunardelli, Noa Noa, Mercado Aberto, EdUFSC, Letras Contemporâneas, Insular e Cuca Fresca.
A carreira promissora pôde ser antevista com o primeiro lugar obtido no I Festival Catarinense de Poesia Universitária, promovido pelo DCE da UFSC em 1971. Depois, entre outros, ganhou o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 1989, e as medalhas Caio Prado Júnior e Manuel Bandeira, ambas da União Brasileira de Escritores, seção Rio de Janeiro, em 1994 e 1996, respectivamente. Por fim, foi finalista do Prêmio Jabuti, em 2000, com Cinza de Fênix e três elegias.
Além de organizar uma das primeiras oficinas literárias do Brasil, quando chegou à UFSC, Alcides Buss deu oportunidade aos jovens ao criar o varal literário, que constava da apresentação de poemas em forma de varal, em diferentes locais da cidade – idéia imitada depois em outros estados brasileiros. Foi presidente da Associação Brasileira das Editoras Universitárias, criou o Movimento de Ação do Livro (volumes que circulam de mão em mão), dirigiu a seção catarinense da União Brasileira de Escritores e desde 1991 é diretor da EdUFSC, que tornou uma das mais ativas editorias universitárias do País.
Sobre o autor
“Alcides Buss é íntegro: o poeta, o animador e agitador literário, o editor e dirigente cultural, o professor, são sempre a mesma pessoa, com uma atuação marcante na cena contemporânea brasileira nas últimas décadas, sempre em favor da palavra poética”.
Cláudio Willer
“Em cada verso deste livro sobressai a serenidade de quem contempla, além da casca das coisas, o tempo e seus venenos, mas também os seus antídotos. Alcides é uma das grandes vozes de nossa lírica contemporânea”.
Miguel Sanches Neto
Obras publicadas
· Círculo quadrado, Joinville, edição do autor, 1970
· O bolso ou a vida?, Florianópolis, DCE/UFSC, 1971
· Ahsim, Florianópolis, editora Lunardelli, 1976
· O homem e a mulher, Joinville, edição do autor, 1980
· Cobra Norato e a especificidade da linguagem poética, Florianópolis, FCC, 1982
· O homem sem o homem, Florianópolis, editora Noa Noa, 1982
· Antologia do varal literário (Org.), Florianópolis, Editora da UFSC, 1983
· Sete pavios no ar, Florianópolis, Edições Sanfona, 1985
· Pessoa que finge a dor, Florianópolis, Movimento de Ação do Livro, 1985
· Segunda pessoa, Florianópolis, Movimento de Ação do Livro, 1987
· Transação, Florianópolis, M.A.L. Edições, 1988
· A poesia do ABC (infantil), Porto Alegre, editora Mercado Aberto, 1989
· O professor é um poeta (Org.). Florianópolis, Editora da UFSC, 1989
· Contemplação do amor – vinte anos de poesia escolhida, Florianópolis, Editora da UFSC, 1991
· Natural, afetivo, frágil, Florianópolis, Edições Athanor, 1992
· Nenhum milagre, Florianópolis, editora Letras Contemporâneas, 1993
· Sinais/Sentidos, Florianópolis, M.A.L. Edições, 1995
· Cinza de Fênix e três elegias, Florianópolis, editora Insular, 1999
· Pomar de palavras (infantil), Florianópolis, Cuca Fresca Edições, 2000
· Cadernos da Noite, M.A.L. Edições, 2005
Entrevistas com o autor:
(48) 3721-9605
(48) 3721-9408
(48) 9972-3045
Por Paulo Clovis / Agecom